Premiados falam sobre a importância da conquista e aproveitam para dar seus recados e agradecimentos
Quem acompanhou de perto o Prêmio Plumas e Paetês Cultural, realizado no último sábado, no Teatro Carlos Gomes, sabe que foi um dia de fortes emoções. O homenageado da noite, Zé Katimba, roubou a cena com suas piadas, declarações de amor e muitas demonstrações de gratidão e carinho para com o público presente.
Além da homenagem ao compositor gresilense, mais de 50 profissionais foram premiados. Figuravam na lista de condecorados personalidades já conhecidas do mundo do samba, como o diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, Laíla, e nomes ainda pouco conhecidos do Carnaval, como o de Bruna Bottino, coreógrafa da Tijuquinha do Borel, Escola-Mirim da Unidos da Tijuca.
Confira aqui o que falaram alguns dos premiados do Plumas e Paetês:
Leandro Assis (Melhor Pintor Artístico do Grupo Especial, pela Estação Primeira de Mangueira)
“Meu maior obstáculo foi a desconfiança do presidente e do carnavalesco Max Lopes. Era meu primeiro trabalho e eu já peguei logo de cara uma escola do Grupo Especial, então eu tinha medo de não suprir as expectativas. A responsabilidade era muito grande. Então eu precisei dar o melhor de mim para mostrar quem era o Leandro. Hoje, graças a Deus, as peças que faço falam por si só.”
“E lá se vão dezessete de Carnaval. Meu primeiro prêmio. A pessoa faz um trabalho para a escola, mas sempre espera um reconhecimento pessoal. E eu fiquei muito feliz em ganhar. Minha esposa também. Ela é minha maior parceira nessa conquista. Não é fácil de encontrar alguém que entenda o que é sair de casa às 6 da manhã e voltar, talvez, à meia noite, dizendo que estava trabalhando. Felizmente, ela sabe que são pessoas como eu, que trabalham às vezes 24 horas por dia, que botam o Carnaval na rua.”
Jorge Silveira (Melhor Desenhista do Grupo de Acesso, pela Unidos do Viradouro) e Hélcio Paim, (Melhor Ferreiro do Grupo de Acesso, pela Estácio de Sá)
Jorge: “É o primeiro prêmio que eu ganho pra um projeto de desenho de minha própria autoria. É sensacional, especialmente porque foi um sufoco dos diabos! E se não fosse por esse homem aqui (Hélcio Pain), não tinha rolado. Ele comprou a briga, me carregou no colo e botou o Menino Rei na Avenida. O time dele é o primeiro a chegar, o último a sair, e ainda tem o melhor pão com mortadela da Cidade do Samba!”
Hélcio: “Apesar de ganhar o prêmio pela Estácio, eu trabalhei na Viradouro também. E quando eu soube que estava concorrendo pelas duas escolas, pensei: já ganhei, né?”, brincou o ferreiro. E completou: “Foi um prazer trabalhar com o Jorge. Pra mim foi um aprendizado. A simplicidade dele às vezes assusta, mas é porque ele sabe o que vai fazer desde o início, então te passa muita tranquilidade. Torço muito por esse menino. Sobre ser o ‘carregador de piano’ da Avenida, tenho muito prazer em colocar em prática aquilo que os carnavalescos colocam no papel. Várias vezes a gente perde o sono, mas fazer aquilo acontecer é gratificante, principalmente porque as ferragens são o primeiro passo”.
Márcio André (Melhor Diretor de Carnaval do Grupo de Acesso), Daniel Katar (Melhor Diretor de Harmonia do Grupo de Acesso) e João Vítor (carnavalesco, Melhor Figurinista do Grupo de Acesso), todos pela Acadêmicos da Rocinha
Márcio André: “O que fez tudo dar certo foi o nosso entrosamento. A gente comprou a briga do João Vítor (carnavalesco da Rocinha) de fazer um grande Carnaval, apesar de todas as dificuldades. Foi um compromisso de cada um de nós. E conseguimos através do trabalho em equipe realizar esse belo carnaval da Rocinha, através desse projeto brilhante do João. Nosso maior desafio foi compactar a escola, para passar a impressão de um desfile organizado. Deu trabalho, pois tivemos pouquíssimos ensaios com a comunidade, mas no fim deu tudo certo.”
Daniel: “Desde a primeira semana nós começamos falando a mesma língua. Isso fez o carnaval acontecer. A Rocinha sempre teve um problema de comunidade, nós dificilmente conseguimos fazer ensaios, e isso enfraquece o chão da escola. Mas nós plantamos ali uma sementinha, fizemos muita gente acreditar na Rocinha de novo, e esperamos que ela continue fazendo carnavais desse nível nos próximos anos.”
João Vítor: “Todos disseram que eu era louco em aceitar trabalhar na Rocinha, não recebi uma palavrinha de apoio. E o resultado está aí: contrariando a tudo e a todos, a Rocinha fez um grande Carnaval, e eu mostrei que é possível fazer um bom desfile mesmo com poucos recursos.”
Laíla (Melhor Diretor de Carnaval do Grupo Especial, pela Beija-Flor de Nilópolis)
O diretor da escola de Nilópolis não pôde comparecer à premiação. Shirleise Valéria, Fábio Francisco e Luciana Araújo, da agremiação azul-e-branco foi receber a estatueta em seu lugar.
“Só temos a agradecer ao nosso mestre. São mais de 50 anos dedicados ao Carnaval, e trata a todos como se fossem seus filhos. Prova disso, é a abertura que ele dá a todos nas escolhas dentro da Beija-Flor. É muito gratificante e um privilégio ter a oportunidade de trabalhar com o mestre Laíla. É algo que ultrapassa a barreira do samba, a conduta dele inspira a todos nós.
“Carnaval é feito de inovações. Esse ano, o Laíla plantou uma semente para implementar novas mudanças lá na frente (falando sobre o desfile sem alas da Beija-Flor). Outros vão tentar. Se deu certo ou não, não importa, o que importa é que o primeiro passo está dado.”
Hélio Bejani e Beth Bejani (Melhores coreógrafos do Grupo de Acesso, pela Acadêmicos do Cubango)
Hélio: “Basicamente, nós buscamos os pontos mais importantes da vida dele (João Nogueira, enredo da Cubango em 2017): o sonho de ser piloto, o fato de ser sambista e ter fundado o Clube do Samba, e o fato dele ser portelense doente. Juntamos tudo e carnavalizamos, transformamos o simples em espetáculo. O Lúcio (Lúcio Sampaio, carnavalesco) nos deu todo apoio. Todo o trabalho foi feito pela nossa equipe, maquiagem, figurino, coreografia. Tudo. Temos uma equipe muito bem montada.”
Beth: “A águia (elemento cenográfico da Comissão de Frente, reproduzida em um drone) deu muito trabalho, mas deu muito certo. Testamos diversos materiais até chegarmos à fibra de vibro, único material leve suficiente pra permitir que o drone voasse. Nossa preocupação maior foi ter que deixar a águia toda vazada, por conta da aerodinâmica, achávamos que o efeito visual seria prejudicado, mas lá isso nem apareceu. A única coisa que complicou mesmo foram as duas cabines juntas (o Super Módulo de julgamento, implementado este ano). A ideia é até boa, mas não tem necessidade de julgar duas vezes o mesmo momento. Foi uma polêmica desnecessária.”
Jack Vasconcelos (Melhor Pesquisador do Grupo Especial, pelo Paraíso do Tuiuti)
“Até vou pegar a revista pra ver, mas acho que agora sou o maior ganhador do Prêmio Plumas e Paetês. Ah, se isso se revertesse em dinheiro…”, brinca o carnavalesco. “O prêmio de melhor pesquisador é um incentivo a querer sair do lugar comum. Minha escola de origem é a Imperatriz Leopoldinense, minha mãe era baiana de Ramos. Então, minha referência profissional para fazer Carnaval é a Rosa Magalhães. Ou seja, cresci pensando que se eu quero fazer Carnaval, é preciso fazer muita pesquisa. E quando descobri que nem todo mundo faz pesquisa foi muito chocante, pois achei que qualquer carnavalesco devia fazer isso. Encontrar referências em muitos caminhos para contar uma boa história.
“Espero que isso (o prêmio) mostre a importância de se dar mais espaço para mais enredos autorais e menos enredos pagos. Enredos bem pesquisados rendem carnavais muito melhores. Acho que quando o enredo é bom, tem uma boa história, todo mundo ganha. O carnavalesco põe em prática a sua ideia, a Escola de Samba faz um grande desfile, o samba tende a ser muito melhor… é um efeito dominó.”
Bruna Bottino (Melhor Coreógrafa das Escolas-Mirins, pela Tijuquinha do Borel, Escola-Mirim da Unidos da Tijuca)
“Eu já trabalho com crianças há muitos anos. Já tentei trabalhar com mais velhos e nunca tive o mesmo retorno. A dança e as artes de um modo geral são elementos fundamentais no desenvolvimento de uma criança, tanto em relação à mentalidade quanto ao corpo. E a Tijuca deu todo apoio para que pudéssemos realizar esse trabalho com essas crianças carentes do Morro do Borel. Eles querem passar para essas crianças o mesmo amor pelo Carnaval que nós sentimos. E está dando certo, porque a felicidade e o orgulho delas em receber um prêmio como esse é gratificante. É muito divertido e incrível ver a evolução delas.”
Sávia David (Melhor Destaque Performático Feminina do Grupo Especial, pela Beija-Flor de Nilópolis)
“Não tinha essa categoria no prêmio, então sou a primeira a ganhar. E também sou a única destaque de chão da Beija-Flor. A escola me convidou e perguntou ‘Sávia, você consegue fazer uma coreografia para 80 componentes?’. Foi um presente e um desafio. Principalmente porque eu estava afastada do Carnaval há dois anos. Eu vinha representando Iracema e me transformava numa garça na Avenida. Eram cinco ensaios por semana. Vencer esse prêmio é a coroação de um trabalho e a motivação que eu precisava pra querer continuar.”
Gilmar Cunha (Melhor Mestre Bateria do Grupo de Acesso, pelo Império Serrano)
“É o quinto prêmio do ano, mas é a primeira vez que ganho um Plumas. Fiquei impressionado com a estrutura! Fico feliz com tamanha organização e com esse reconhecimento e essa valorização de profissionais que estão lá montando alegoria. E é uma emoção muito grande ver meu Império de volta ao Especial, e ganhar esse prêmio mostra que fiz parte disso. Mas só tenho 10% dessa conquista, o restante é dos 14 diretores (de bateria) que trabalham comigo e dos meus 250 ritmistas.”
Edson Pereira (Melhor Carnavalesco do Grupo de Acesso, pela Unidos de Padre Miguel)
“Comecei a trabalhar na Unidos de Padre Miguel em 2005, ainda na Intendente Magalhães. Hoje é uma das escolas mais esperadas do Acesso, quiçá do Carnaval de um modo geral. Isso me remete a muita alegria. Hoje não faço mais parte (o carnavalesco foi para a Viradouro), mas é uma escola que está no meu coração. E é muito gratificante saber que eu fiz parte de tudo isso, dessa evolução. Foram desfiles magníficos que só vou guardar boas recordações.
“Um dia eu fui anônimo também. Então é muito importante que cada vez mais prêmios como esse aconteçam, porque são essas pessoas que fazem a base estrutural do nosso trabalho. Precisamos muito valorizar esse pessoal e mostrar a cara deles. Carnaval não é feito por uma mão só.”
Diego Nicolau (Melhor Compositor do Grupo de Acesso, pela Renascer de Jacarepaguá, ao lado de Claudio Russo e Moacyr Luz)
“É preciso ter humildade de saber aproveitar o que seus parceiros podem te proporcionar, em termos de crescimento. Eu faço samba com muitos compositores, então é importante estar aberto a aprender. E a parceria com o Claudio (Russo) e o Moacyr (Luz) é a parceria que mais aprendo. O Russo é um exímio letrista, e o Moacyr é um cara que trouxe oxigenação para o samba-enredo, trazendo novas melodias para o gênero. Claro que dou as mexidas naquilo que acho que pode empolgar a Avenida e mexer com o povo, mas escuto muito os dois, tento pegar toda essa genialidade deles, até porque estou só engatinhando ainda.”