Foto: Divulgação

Ainda sem patrocínios, Mangueira anuncia enredo para o Carnaval de 2018

“COM DINHEIRO OU SEM DINHEIRO, EU BRINCO”

Mesmo com a aprovação para captação de recursos de mais de 7 milhões de reais para falar sobre Hélio Oiticica, a Mangueira não conseguiu patrocinadores para o seu carnaval e a solução foi partir para o Plano B. A falta dos recursos inspirou o carnavalesco Leandro Vieira para o desenvolvimento de um novo enredo.

“Hélio Oiticica era uma proposta de enredo patrocinado como muitos outros enredos patrocinados que chegaram às nossas mãos. Alguns eu recuso por uma questão de pertinência com relação à Mangueira. Mas aí chega o enredo do Hélio com a possibilidade de um patrocínio e me agrada muito. Além de ser um artista que tem uma ligação com a Mangueira, por conta dos Parangolés, o Hélio vai de encontro com muitas coisas que eu penso. Um cara que tem um pensamento mais crítico, envolvido com questões políticas, a questão da marginalidade, da Tropicália. Isso se assemelha muito com o momento que o Brasil vive hoje. E eu queria muito falar disso. O problema é que entre você ter a permissão de captar recursos e ter uma empresa que vai aportar o dinheiro para financiar, há um abismo muito grande, e até terça-feira (data da última reunião com a diretoria) nada havia se concretizado. Isso me levou a desistir do enredo. Mas nada impede que a Mangueira faça um enredo sobre o Hélio Oiticica futuramente, com certeza é a melhor escola para homenageá-lo”, afirmou o carnavalesco Leandro Vieira ao Jornal Extra.

Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco! é o titulo do enredo que a Estação Primeira de Mangueira levará para a Sapucaí em 2018. Um enredo que zomba da decisão do atual prefeito, que questiona padrões e modelos, que traz de volta o carnaval enquanto sátira, e que traz o desfile enquanto um discurso cultural de teor mais crítico e menos escapista.

“É um enredo que nasce do momento no qual se encontram as Escolas de Samba. Um certo bispo prefeito colocou as escolas na pauta de discussão da cidade. E propor o corte da subvenção em 50% não é por uma questão de dinheiro, mas uma tentativa de demonizar os desfiles e as atividades culturais da cidade do Rio de Janeiro, as quais a prefeitura tem a obrigação constitucional de fomentar. Esse discurso de tornar o carnaval vilão me incomoda muito”, explica Leandro.

O carnavalesco conta que não se trata de um “enredo de gaveta, mas de um enredo de ocasião”. O objetivo, segundo ele, é de retomar o verdadeiro papel das escolas de samba. “Fico feliz que a Mangueira possa ser porta-voz disso, porque é uma escola que dialoga muito com o povo. Esse enredo é uma resposta bem direta para o prefeito. É uma resposta do samba.”

Segundo Leandro Vieira, a Verde e Rosa fará um carnaval sem hipocrisias e livre do bom-mocismo, que questiona não apenas um prefeito que vilaniza o carnaval, os desfiles, e as manifestações espontâneas plurais usando argumentos demagogos, mas que também coloca em cheque o atual modelo em que os desfiles das Escolas estão inseridos. “Distanciadas do povo, o ‘divórcio’ entre a sociedade carioca e as agremiações tornou-se público em função dos acontecimentos recentes. O desfile que começo a realizar para o carnaval 2018 joga o carnaval e o modelo dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro no ventilador”, disse.

Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco! é o trecho de uma marchinha carnavalesca dos anos quarenta. Segundo a imprensa da época, os festejos do carnaval de 1944 estavam ameaçados em função das restrições financeiras associadas à crise econômica que o país atravessava. Essa incerteza foi o mote para que Pedro Caetano e Claudionor Cruz compusessem a marchinha batizada Eu Brinco minimizando os efeitos da crise e assegurando que com dinheiro ou sem dinheiro haveria a brincadeira. Dentro dessa lógica, a atual discussão envolvendo as Escolas de Samba e o corte da subvenção, supostamente em função da atual crise, abre caminho para o debate.

“O enredo que proponho agora é um enredo eminentemente crítico. Não apenas ao Bispo que asfixia manifestações plurais nas quais o carnaval e os desfiles assumem destaque e ganham exposição na mídia, mas também ao distanciamento das Escolas e do desfile da sociedade como um todo. É o modelo atual de Escola de Samba ‘jogado no ventilador’. É uma possibilidade do discurso das Escolas de Samba voltar a se alinhar com a atualidade e levantar questões culturais, mesmo que para isso ela tenha que ‘colocar o dedo’ em suas próprias feridas”, finaliza o carnavalesco da Mangueira.

ENTREGA DA SINOPSE

A Estação Primeira de Mangueira vai realizar a entrega da sinopse para o carnaval de 2018 na próxima terça-feira (11), a partir das 19h, no auditório da Vila Olímpica da Mangueira, que fica na Rua Santos Melo, 73.

O texto será apresentado pelo carnavalesco Leandro Vieira e a disputa de samba-enredo está aberta a todos os compositores.

 

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