Essa introdução faz parte de um texto da escritora Cecília Meireles intitulado “Depois do Carnaval”. Eu gosto muito dele, e Você devia conhecer!Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade.
Mas voltando a nossa realidade e citando uma das palavras que foi muito falada e cantada no último carnaval, “CARNAVALIZAR A VIDA”, é o que pretendo fazer um pouco, agora. O que sabemos sobre o Verbo Carnavalizar é que ele é transitivo direto e pronominal; é aquele que dá o aspecto ou característica de carnaval ou tomar esse aspecto ou característica. E no figurado: tornar(-se) agitado, alegre, informal. Mas depois que os compositores do GRES Acadêmicos do Salgueiro suscitaram essa palavra em sua obra no Samba Enredo de 2017, ficou impossível não aplicar esse verbo no nosso dia adia. Para quem vive nesse mundo de fantasia, CARNAVALIZAR é fundamental!
Vou dizer o que penso disso. Andava meio preocupado com o rumo que o Carnaval vem tomando. Queria aqui, nas minhas primeiras palavras para esse espaço, poder brincar com o conceito que a palavra carnavalizar tem, mas sinto que esse também é o momento de levar algumas coisas mais a sério. Eventualmente, porém, as entidades carnavalescas e meios de comunicação, não têm percebido que o momento pede uma reflexão sobre os moldes que essa Festa Momesca vem tomando no Carnaval do RJ. O carnaval de 2017 não foi fácil. Tivemos tantos dramas, choramos ao mesmo tempo em que nos deslumbrávamos com a beleza que o espetáculo ainda provoca para os nossos olhos.
A relação entre a Política e o Carnaval é antiga. Precisamos nesse momento também dar espaço para o desabafo. Dizer que as Escolas de Samba precisam ter liberdade para brincar e criticar. Exigir que os governantes dessem para essa festa o valor que ela realmente tem! O retorno dessa relação não tem me parecido dos melhores. Faltam estruturas para os espaços onde a festa acontece, faltam melhores condições de trabalho para os operários do samba em seus respectivos espaços. Você já ouviu falar do Carandiru? Carandiru (para o carnaval do RJ) é um local que ficou conhecido como um dos lugares onde a realidade transforma-se em fantasia. Espaço onde as alegorias do Grupo de Acesso eram feitas. Mas um lugar com esse nome, como podemos ver alegria nessa fantasia?! E hoje não está muito diferente não! É preciso que as entidades organizadoras do carnaval pleiteiem junto aos governantes o mínimo de condições para se produzir esse espetáculo. Esse é só um dos exemplos.
Preciso que essa minha (E que deve ser sua também) impressão negativa do que aconteceu nesse último ano seja restabelecida. A festa por aqui é a melhor do mundo! Somos impecáveis na construção desse espetáculo. Mas a tensão que o carnaval desse ano provocou-me, fez reforçar que está passando da hora de fazermos alguma coisa em prol da história dessa festa!
Não nos roubem a alegria, não nos furtem a picardia, não vandalizem as estruturas, não disfarcem os sons, não mudem a gira de lugar! Apenas deixem o samba voltar a ser samba! O carnaval não está falido! O debate é importante e CARNAVALIZAR a vida também! Mesmo que a nossa carne seja marcada por isso. Eu proponho falarmos mais sobre isso e outras coisas também.
Pronto, agora que já carnavalizei a política e um pouco do Carnaval de 2017, que venham outros temas.
Claudio Rocha é Bibliotecário, Pós graduado em História do Teatro e Pesquisador de Carnaval