Carnavalesco João Vitor Araújo - Foto: Marilda Campbell/ Site Carnavalizados

Série Barracões 2020: Com a fé no Santo e a bravura de um rei, Tuiuti prepara um carnaval repleto de surpresas

O tour da equipe do Carnavalizados pela Cidade do Samba aportou no barracão do Paraíso do Tuiuti para conhecer O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião, enredo do carnaval 2020 desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que faz sua estreia na escola de São Cristóvão. O cortejo vai subir para saudar duas histórias: a de Dom Sebastião I, Rei de Portugal que desapareceu em batalha aos 24 anos, o que faz com que sua morte permaneça cercada de lendas e mistérios por quase cinco séculos; e de São Sebastião, padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro e da agremiação.

O encontro do Santo e do Rei será representado na Avenida pela coragem, bravura e determinação que ambos tiveram em suas trajetórias. Este olhar se completa com um paralelo com o dia a dia do carioca, que segue guerreiro diante das suas próprias batalhas, conforme aponta o carnavalesco.

“O santo e rei unidos representam a busca do nosso povo pelo seu próprio rumo. Aqui eu me refiro à coragem, à bravura, à determinação do carioca.

“D. Sebastião morreu com 24 anos na batalha de Alcácer-Quibir, um duelo que ele enfrentou com uma tropa pequena de soldados diante do exército Mouro. Ele tinha 12 mil homens contra 80 mil soldados Mouros. Mas, ainda assim, ele foi em nome do que acreditava, em nome do povo e da crença.

“Foi com tudo e morreu. Desapareceu, na verdade, porque nunca encontraram o corpo.

“Quando eu falo de D. Sebastião é como falar do povo carioca, que, com todas as mazelas, todo esse desgoverno, encontra energia, encontra forças para pedir a São Sebastião e outras representações religiosas por dias melhores.”

A Tuiuti vem chamando atenção por seus enredos críticos, como os desenvolvidos em 2018 (Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?), que lhe rendeu o vice-campeonato, e em 2019 (O Salvador da Pátria). Mas no carnaval deste ano o objetivo não é atacar. João Vitor revela:

“A minha ideia é fazer refletir. Vamos agradecer e pedir por dias melhores. Este é o nosso recado. Nós estamos apanhando muito, vendo muita coisa feia: corrupção, fome, falta de dignidade, aumento dos moradores de rua, de gente pedindo coisas no sinal ou vendendo amendoim a cada metro quadrado. Isso é fruto de um abandono. Mas o carnaval para mim é uma válvula de escape. Não significa fingir que essas coisas não existem, mas é um momento de desanuviar, de repor as energias. A minha forma de protestar é pedir ao santo e fazer com que as pessoas peçam também”.

O último setor da escola vai representar essa fé levando para a avenida a procissão de São Sebastião, que é um momento especial para seus devotos. Será formado por uma ala com 250 componentes que vão conduzir o andor do santo padroeiro, carregado nos braços do povo.

“Eu encerro o carnaval com uma grande procissão. Uma ala de 250 componentes. Como em toda procissão, tem um andor: a alegoria. Será como se a ala carregasse essa alegoria.”

Detalhes Barracão Tuiuti 2020 – Foto: Marilda Campbell/ Site Carnavalizados

O santo também estará representado no abre-alas, que conta a trajetória do rei, consagrado ao Sebastião divino em seu nascimento. Dom Sebastião I, jovem rei de Portugal, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos. A lenda do Sebastianismo atravessou o Atlântico e ganhou nova forma na Ilha de Lençóis, no litoral do Maranhão. Os maranhenses contam que Dom Sebastião se transforma na figura mística de um touro negro coroado que anda pelas praias nas noites de sexta-feira. O rei, pois, virá representado em sua forma humana e animal na quarta alegoria, em que o público o verá ora touro, ora homem.

Mas, o xodó de toda equipe e um dos carros que promete surpreender na Sapucaí é o que representa a batalha. É o carro mais cenográfico do desfile e foi o mais trabalhoso para concepção, foram dias de estudos e testes para encontrar a melhor forma de representar as areias do deserto. Mas, o grande trunfo desta alegoria é a iluminação, que é um recurso impactante, apesar de ser uma iniciativa barata.

A agremiação é a quarta a desfilar no domingo de carnaval, dia 23, quando surpreenderá o público com 29 alas, 5 alegorias e 3 tripés. Um trabalho grandioso e bem acabado do carnavalesco, que vem despertando olhares há alguns anos. João Vitor estreia na Paraíso do Tuiuti, mas já desenvolveu excelentes trabalhos em Escolas como Viradouro, Rocinha e Unidos de Padre Miguel. Ele nos conta que, após 20 anos de carnaval, ganhou fôlego na Tuiuti com a nova equipe.

“Hoje estou vivendo um grande momento da minha carreira. Não quero falar de colocação, de título, de G6 ou de rebaixamento: eu quero ver o meu trabalho pronto. Isso tem sido tão especial! Estou muito feliz com este carnaval! Eu moro perto do barracão, às vezes não tenho vontade de ir para casa. A energia colabora muito para o sucesso de um desfile. Meu presidente (Renato Thor) é um administrador muito exigente e está muito feliz com este projeto. E quando eu vejo que ele está feliz, fico ainda mais feliz! É sinal de que está dando certo!”, conta com entusiasmo.

Será um carnaval grandioso, com muito dourado no abre alas (o ouro é uma das características de João Vitor); muitas surpresas e detalhes para o público apreciar.

“Cada carro é um acontecimento; cada setor é um acontecimento. Tudo é muito especial! Acho que vou confundir a cabeça do espectador: é muita coisa para ele olhar, se piscar os olhos vai perder um detalhe”, aposta o carnavalesco.

Detalhes Barracão Tuiuti 2020 – Foto: Marilda Campbell/ Site Carnavalizados

 

 

 

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