Vitor Claudio Negromonte Vieira, 48 anos, é um artesão de primeira grandeza. Com 35 anos de dedicação às Escolas de Samba do Grupo Especial e da Série A do carnaval carioca, o artista é conhecido como Vitor do Vime, um nome que carrega a matéria-prima que aprendeu a manipular com habilidade única.
Vitor, ama o que faz! Dedica sua vida ao carnaval; tem na arte de trabalhar com vime o seu sustento e o de sua família. Um caminho que começou a percorrer aos 14 anos de idade com o pai, Cícero Vieira, de quem herdou com maestria a capacidade de transformar o material em arte. Cícero trabalhava no barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Pavilhão de São Cristóvão, nos anos 80. Foi ali que o filho, ainda adolescente, aprendeu os primeiros passos, que o levariam a se tornar um dos poucos especialistas em vime do mundo do samba.
Seguiu os ensinamentos do pai: aprendeu e aperfeiçoou as técnicas do ofício. Ao longo dos anos já trabalhou com carnavalescos como Fernando Pinto, Joãozinho Trinta, Rosa Magalhães, Renato Laje, Chico Spinoza, Alexandre Louzada, Edson Pereira e Leandro Vieira.
No Rio de Janeiro, ele e sua equipe, composta por 20 funcionários, são os únicos que trabalham com vime para o carnaval. É um ofício que exige dedicação e comprometimento. Segundo Vitor, “são poucos os que se interessam em seguir nesta área. É um trabalho que exige tempo para aprender e o jovem de hoje não quer”.
O processo de trabalho começa com o esboço apresentado pelo carnavalesco. Vitor desenvolve os protótipos até a aprovação final. Em seu ateliê, em Realengo, são confeccionadas armações das roupas das baianas, fantasias de alas e o que mais vier na cabeça do carnavalesco. O vime é um produto mais leve, que dá uma forma mais harmoniosa às fantasias e o seu uso é uma tradição nas Escolas de Samba.
Em 2013, a Acadêmicos do Cubango, pelas mãos do carnavalesco Severo Luzardo, homenageou os artesãos do carnaval com o enredo “Teimosias da Imaginação”. Vitor, é claro, teve o seu trabalho representado com um rinoceronte de vime em uma das alegorias. A Escola jogou luz sobre os artistas que ajudam a construir a grande festa que é o carnaval, mas que são conhecidos apenas nos bastidores do mundo do samba. Sobre esse desfile, Vitor revela que o processo de criação e montagem do rinoceronte foi o mais marcante em sua carreira, o desafio que lhe deu mais trabalho.
Quatro anos depois, o carnavalesco Leandro Vieira montou a exposição “Bastidores da Criação – arte aplicada ao carnaval”, no Paço Imperial, que teve o objetivo de ressignificar o desfile das Escolas de Samba como manifestação artística. Esforços que agradam o nosso entrevistado, que acredita que faltam mais incentivos do mercado em divulgar e valorizar o trabalho dos artesãos. “Deveriam ter mais pessoas para incentivar os artistas. Isso dá mais força, mais prazer”, defende o profissional.
Vitor do Vime é uma referência em sua área, trabalha não só nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, mas em algumas de São Paulo como Mocidade Alegre, Gaviões da Fiel e Rosas de Ouro. Comanda a equipe de 20 artesãos que o acompanha e é o responsável por captar, manter o contato com os clientes, monitorar os prazos e administrar as finanças. A gerência do ateliê fica por conta de Candido Dias, um parceiro em quem mantém a confiança há 25 anos.
Todos estão há muitos anos juntos, há um entrosamento natural na execução dos projetos, que não se restringem ao carnaval. Também já produziram peças para cenografia na TV, com Mário Monteiro, e para o teatro.
Mas é para os desfiles na Sapucaí que Vitor do Vime dedica a maior parte de seu tempo. Os trabalhos começam em maio, com a elaboração do enredo, o esboço das peças que serão desenvolvidas e a montagem dos protótipos.
Sobre a relação com a festa e as agremiações, afirma: “tudo o que eu tenho hoje devo ao carnaval. Formei meus filhos, vivo tranquilo, tudo graças ao carnaval. Depois que você conquista a confiança das pessoas, isso traz muita segurança, muita tranqüilidade”.
Uma via de mão dupla, pois se o carnaval virou esse espetáculo incomparável, devemos isso a artistas incríveis como Vitor do Vime, que nos bastidores da ilusão emprestam seu talento para dar formas e vida aos sonhos dos foliões.
Confira as imagens do lado artesanal, dos bastidores do carnaval: