Carnavalesca Rosa Magalhães - Foto: Marilda Campbell / Site Carnavalizados

Série Barracões 2020: Estácio de Sá tira pedras do caminho para encantar no Grupo Especial

Campeã da Série A no último carnaval com o enredo A Fé que Emerge das Águas, a Estácio de Sá está de volta ao Grupo Especial após quatro anos.

Desta vez, para reafirmar sua importância e lutar pelo seu segundo título, a escola apostou na contratação da carnavalesca supercampeã, Rosa Magalhães. A professora, como é carinhosamente conhecida no mundo do samba, retorna à comunidade do São Carlos após 31 anos. Em sua primeira passagem, assinou o antológico enredo, O ti-ti-ti do sapoti, em 1987, e os dois desfiles seguintes, de 1988 e 1989. Para este ano, Rosa idealizou e deu vida ao enredo Pedra, com o qual a Estácio irá abrir a noite de domingo na Marquês de Sapucaí. O Carnavalizados foi desvendar essa viagem até a pré-história para traçar os caminhos pedregosos que humanidade percorreu até aqui. A carnavalesca nos recebeu no barracão, onde pudemos descortinar o projeto estaciano para fazer bonito na elite do carnaval.

Responsável pelo enredo mais inusitado de 2020, Rosa Magalhães, que no decorrer da carreira traçou nomes longos para suas narrativas, brinca com a pequena palavra que define tudo aquilo que tem para contar:

“Eu fazia uns nomes muito compridos, agora decidi fazer um curtinho: Pedra.”

Detalhes Barracão Estácio de Sá 2020 – Foto: Zé Arruda/ Divulgação

A inspiração veio de suas intensas leituras, que costumam desembocar em enredos recheados de histórias pouco conhecidas do público. O resultado será apresentado através de seis alegorias, cercadas de uma comunidade com três mil componentes, que vão ditar a força do desfile estaciano.

A carnavalesca nos revela a possibilidade de conduzir o enredo por vertentes diversas, que foram sendo lapidadas até que pudesse encontrar a trilha pela qual gostaria de percorrer com sua crônica. Para tal, começará com uma viagem até a pré-história, com os fósseis animais petrificados, que hoje são objetos de estudo; e com os escritos em pedras deixados por nossos ancestrais.

O segundo passo será a exploração mineral, que atravessa diversas fases da história até a atualidade, com destaque para o Brasil como fonte de riquezas extraídas no período colonial.

“O Brasil sempre foi explorado! Primeiro com o pau-brasil e em seguida veio a exploração de pedras preciosas: o ouro. E o que restou disso em Minas Gerais? As cidades são lindas, mas de riqueza para o Brasil não ficou nada.”

Detalhes Barracão Estácio de Sá 2020 – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

O terceiro setor da escola continua em Minas Gerais. Da exploração colonial passa à poesia de Carlos Drummond de Andrade, diretamente impactada pela ação mineradora em Itabira, sua cidade natal. Para criar este setor, Rosa aponta e recomenda a leitura do livro Maquinação do Mundo, de José Miguel Wisnik, que detalha essa relação entre o poeta e a mineração. Das páginas de Wisnik surgiram as ideias que o público vai poder admirar durante o desfile.

“O Drummond morava em Itabira e da janela do quarto via um morro. Ele muda para o Rio de Janeiro e quando volta a Itabira para visitar a família, abre a janela e o morro simplesmente desapareceu. A mineradora destruiu.

“Segundo o próprio Drummond, a única coisa que sobrou para Itabira foi a poeira. Mais nada!”

O olhar sobre o extrativismo mineral não para por aí. A caminhada da Estácio seguirá rumo ao Pará, na região dos Carajás, para mostrar a exploração desenfreada, principalmente na Serra Pelada, a maior mina a céu aberto do mundo, que chegou a aglomerar em situação precária cerca de 90 mil garimpeiros tomados pela febre do ouro.

“Aquela é uma região de muitas pedras. Segundo a lenda dos antepassados, as almas antes de nascer habitavam as grutas e as pedras. O nascimento era como se saíssem de dentro dessas pedras as almas dos seres humanos. E é justo nessa região que tem Serra Pelada, um lugar de angústia e agonia.”

Detalhes Barracão Estácio de Sá 2020 – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

As pedras também circundam nossos sonhos. Inspiração dos amantes e artistas, a lua estará presente em comemoração à primeira viagem do homem ao satélite natural da Terra.

“Faz 50 anos que o homem foi à lua e trouxe uma pedrinha de lá com 4 bilhões de anos. A lua é uma grande pedra!

“Lá de cima ele viu a Terra: bonita e azul. Mas se não cuidarmos, isso aqui vai virar uma lua.”

Por esses caminhos, Rosa Magalhães pretende contar sua história, influenciada, também, pelas vias que percorre.

“A gente vive em uma região cheia de pedras. Fazem parte da beleza natural da nossa cidade as pedras, os morros. Elas tem vida. Sem falar do morro do Estácio: uma pedra onde foi fincada essa escola.”

Perguntada sobre o que diferencia a Rosa de hoje daquela que passou pela Estácio na década de 80, a carnavalesca se diverte: “ah, eu estou mais cansada”, comenta aos risos. Mas não perde a chance de revelar de pronto o que a motiva nessa jornada artística em tempos áridos do carnaval:

“A situação atual é uma coisa absurda. Mas ver um trabalho pronto dá um prazer enorme. É o que nos dá força para continuar.”

Nesse turbilhão de esforços e prazeres que envolvem o carnaval, o seu momento mais relaxante é a reprise dos desfiles, o que nos conta com muito bom humor:

“Ver o replay é ótimo! O portão já fechou, não tem ninguém reclamando, você já tomou banho e está sentada no sofá… É pequenininho, mas vai! Três horas da tarde eu não perco o replay nem por um decreto.”

Detalhes Barracão Estácio de Sá 2020 – Foto: Zé Arruda/ Divulgação

Vem pedrada por aí!

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