A Unidos do Viradouro quer surpreender na avenida com o enredo, Viradouro de Alma Lavada. A agremiação vai contar a história das Ganhadeiras de Itapuã, um grupo de mulheres que são referência cultural na capital baiana, parte da memória e da cultura do país. A equipe do Carnavalizados conversou com Tarcisio Zanon, que assina o carnaval de 2020 da escola de Niterói ao lado de Marcus Ferreira. No último ano, Zanon foi o responsável pelo desfile campeão da Estácio de Sá e Marcus esteve à frente da Inocentes de Belford Roxo, ambas na Série A. Com passagem por diferentes escolas, os jovens carnavalescos preparam um desfile grandioso, alimentando a esperança de um novo campeonato para a Viradouro no Grupo Especial.
“É um carnaval grande, competitivo e opulento. A escola vai desfilar no limite máximo de alegorias, tripés e alas. Tudo tem muito volume. É conceitual, desafiador e sofisticado”
É assim que Zanon define o carnaval da Viradouro. De fato é o que se vê no barracão da vermelho e branco de Niterói. Carros de grandes proporções, com cenografia luxuosa e riqueza de detalhes devem renovar o brilho no olhar dos espectadores. A responsabilidade, afinal, é grande. A Viradouro em 2019 executou um belíssimo desfile, o que lhe garantiu o vice-campeonato e um sentimento de orgulho para a imensa comunidade e admiradores.
Para este ano, a escolha do enredo partiu das mãos da atriz Zezé Motta, que apresentou aos carnavalescos o grupo musical criado para eternizar o canto ancestral das lavadeiras do Abaeté. Com o desejo dos artistas de apresentar em seus desfiles personagens históricos pouco conhecidos do grande público, encontraram naquelas vozes a sua inspiração.
O termo “ganhadeiras” vem de “escravos de ganho”, que eram aqueles escolhidos para a prática de diferentes atividades remuneradas para os seus senhores. As mulheres mais fortes e bonitas eram escolhidas para vender produtos nas ruas; outro grupo era designado para a “lavagem de ganho”, lavando roupa para terceiros. Com parte do dinheiro conquistado conseguiam comprar sua alforria e de seus familiares.
Em 2004, descendentes dessas mulheres decidiram gravar as músicas de domínio público que suas bisavós e tataravós cantavam na lavagem de roupa à beira da Lagoa do Abaeté (Salvador/Bahia). Nasceu, ali, o grupo Ganhadeiras de Itapuã. Premiadas ao longo dos anos, essas mulheres representam um resgate da nossa cultura.
“O enredo da Viradouro se propõe a trazer uma mensagem motivacional a todas as mulheres brasileiras: que as ganhadeiras, de escravas, se tornaram mulheres libertas, empoderadas, artistas. Hoje são reconhecidas pela escola e pelo nosso samba”, frisa Tarcisio Zanon.
Segunda escola a desfilar no domingo de carnaval, dia 23, a Viradouro irá apresentar na avenida três tripés, seis alegorias, vinte e sete alas e 3.200 componentes, uma estrutura superior ao ano passado. Zanon destaca a comissão de frente como ponto forte do desfile. Segundo o carnavalesco, vão trazer algo novo, nunca feito na Sapucaí e que exigiu pesquisa e testes da equipe técnica da escola:
“É um efeito simples, mas é inovador e emocional. A comissão de frente vai tocar o coração das pessoas.”
Fiquem ligados na bateria de Mestre Ciça!
A bateria Furacão Vermelho e Branco também trará surpresas, a começar pela, sempre esperada, fantasia do Mestre Ciça. A escola, que em 2007 colocou a bateria em cima de um carro alegórico, fará a utilização de um elemento cenográfico entre seus ritmistas, com destaque para a presença e a força feminina no olho desse furacão.
“A Viradouro é uma escola com alma feminina, com grandes enredos, como Dercy Gonçalves, Anita Garibaldi e Bibi Ferreira. Tem uma comunidade com grande participação feminina; mulheres na harmonia, na direção das alas, na coordenação dos carros. O carnaval 2020 é uma valorização dessa essência da Viradouro.”
As atuais homenageadas, é claro, não poderiam ficar de fora. As Ganhadeiras de Itapuã vão participar do desfile: são 36 mulheres de diferentes gerações, que estarão distribuídas em diferentes setores e destacadas na última alegoria da escola, coroadas pela Viradouro.
“Essas mulheres serão nossos destaques e musas, são as personagens do desfile”, conclui o carnavalesco.