A chuva voltou a dar as caras na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. Após o intenso temporal de sexta-feira, que atrasou em mais de uma hora o início das apresentações na Marquês de Sapucaí, neste domingo os bolsões d’água em diferentes pontos da cidade provocaram uma grande demora do público, o que forçou os organizadores a atrasar o início dos desfiles por 45 minutos para evitar o cortejo diante de arquibancadas esvaziadas pelo mau tempo.
Passado o susto inicial de uma noite possivelmente marcada por forte chuva, as escolas puderam mostrar o que fazem de melhor, enchendo de alegria as arquibancadas coloridas e entusiasmadas diante do grande espetáculo à frente dos seus olhos.
Quem abriu a noite foi o Império Serrano, que apostou no enredo O que é, o que é?, baseado na canção homônima de Gonzaguinha, em que discutiu o sentido da vida e os caminhos para a felicidade. A utilização da canção original como samba enredo gerou polêmica desde o anúncio da decisão, gerando desconforto na tradicional ala de compositores imperiana. Conhecida do público, a obra conquistou as arquibancadas na arrancada inicial, mas não foi suficiente para gerar o impacto esperado pela escola. A dificuldade em desenvolver um tema abstrato, somada a deficiências nos acabamentos de alegorias e fantasias foram os pontos fracos.
O luxo e surpresas que o Império não conseguiu levar para a Sapucaí ficaram por conta da Viradouro. Afastada do Grupo Especial há 3 anos, a vermelho e branco de Niterói fez uma passagem devastadora. Desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros, o enredo Viraviradouro abriu os livros e colocou para fora um mundo mágico de seres extraordinários. A riqueza de detalhes e acabamento de alegorias e fantasias fizeram do desfile da Viradouro um grandioso espetáculo, o que vinha sendo prometido há meses pela agremiação, que retornou à elite do carnaval com disposição de campeã.
Terceira a desfilar, a Acadêmicos do Grande Rio defendeu o enredo Quem nunca…? Que atire a primeira pedra, uma crítica às gafes, deslizes, viradas de mesa e ao jeitinho brasileiro. O enredo surgiu inspirado na virada de mesa que beneficiou a escola, permitindo sua permanência no Grupo Especial, o que não foi bem recebido por parte do público. A empolgação dos integrantes não contagiou as arquibancadas, ainda extasiada pelo conjunto apresentado pela Viradouro. O ponto alto do desfile ficou com a Comissão de Frente, que trouxe drones em forma de emojis, que fizeram as cabeças dos componentes da ala sobrevoarem a passarela do samba.
Em seguida foi a vez do Salgueiro cantar para Xangô. A vermelho e branco da Tijuca entrou na Sapucaí cercada de grande expectativa devido à crise política que tomou conta do período de desenvolvimento do carnaval, o que poderia ter prejudicado seriamente o seu desfile. Os novos gestores da escola, agora sob o comando do Presidente André Vaz, tiveram dois meses para mostrar a verdadeira força salgueirense dentro do barracão. Homenageando o orixá da justiça, o Salgueiro fez jus à sua história, levantando o público com um grande e surpreendente desfile, executado em um curto espaço de tempo.
A quinta escola a desfilar foi a atual campeã do carnaval carioca, a Beija-Flor de Nilópolis, que elaborou um enredo em homenagem aos seus 70 anos de fundação. A releitura em fantasias e alegorias dos grandes desfiles da comunidade nilopolitana não empolgou o público, mas a escola encerrou sua apresentação no tempo e sem problemas de execução.
Outra grande escola que não sacudiu a Sapucaí foi a Imperatriz Leopoldinense. Com o enredo Me Dá um Dinheiro Aí, a Rainha de Ramos enfrentou problemas com sua primeira alegoria ainda na concentração. Já na avenida, apenas a Comissão de Frente, em que um Robin Hood suspenso atirava notas (falsas) de dinheiro à platéia, levantou o povo nas arquibancadas.
Amanhecia quando a Unidos da Tijuca iniciou o seu desfile. Última a se apresentar em uma noite com sete escolas, a comunidade tijucana contou a história do pão, alimento para o corpo e a alma. Dentre as expectativas em torno do pavão, o grande acontecimento foi o retorno de Laíla, responsável pela direção de carnaval na escola. A agremiação explorou o simbolismo religioso do alimento e o destaque ficou por conta do seu conjunto alegórico e de fantasias.