Portela Carnaval 2023

Segundo dia tem Vila Isabel, Imperatriz e Viradouro carimbando disputa pelo título; Beija-Flor corre por fora

Na última noite de desfiles do Grupo Especial do Rio, mais seis escolas passaram pela Marquês de Sapucaí. Com desfiles corretos, empolgantes e de visual impecável, Unidos de Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense e Unidos do Viradouro foram os grandes destaques da noite e se credenciaram à disputa de título de campeã do Carnaval de 2023. As escolas Paraíso do Tuiuti, Portela e Beija-Flor completaram a noite de apresentações.

Tuiuti surpreende e pode brigar por vaga nas campeãs

Em alto nível, o Paraíso do Tuiuti abriu os desfiles da noite de segunda-feira para contar a chegada dos búfalos à Ilha de Marajó, no Pará. Com visual simples, porém muito bem contado e concebido pela dupla de carnavalescos Rosa Magalhães e João Vitor Araújo, a escola fez um desfile tecnicamente correto, inclusive superior em diversos aspectos em relação às escolas coirmãs. Mas o grande destaque da noite fica por conta da bateria Supersom, comandada por mestre Marcão, que deu um show de muito swing e muito vigor. O bom samba foi cantado com garra pelos componentes e pela ótima performance de Wander Pires e seu carro de som.

Tuiuti Carnaval 2023 – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

Com erros gravíssimos, Portela pode ser rebaixada no ano de seu centenário

Segunda escola a desfilar, a Portela pisou na passarela para celebrar seu centenário. A maior detentora de títulos do carnaval do Rio de Janeiro revisitou a própria história, relembrando antigos carnavais e exaltando seus baluartes. A abertura da apresentação funcionou e a cabeça da escola empolgou em seus primeiros minutos, mas uma sequência de erros e problemas prejudicaram gravemente o desempenho da Águia de Madureira.

A porta-bandeira Lucinha Nobre, apesar de belíssima indumentária, perdeu a peruca no módulo do Setor 6. Dois carros alegóricos quebraram na pista — um deles chegou a bater nas frisas —, abrindo clarões e afetando a evolução. No geral, o conjunto de alegorias e fantasias também deixou a desejar, em termos de acabamento. A grande novidade foram os drones que formavam palavras no céu da Sapucaí, como “Portela”, “100 anos”, “Monarco” e “Clara”. Resta saber se os jurados irão considerar o show uma inovação ou uma mera distração.

Portela 2023 – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

Vila Isabel passeia e se coloca na briga pelo título

A terceira escola a pisar na Avenida foi a Unidos de Vila Isabel, que apresentou em seu enredo as diferentes formas de celebrar a fé. A apresentação foi impecável do início ao fim e cheia de surpresas, com componentes flutuando, carro percorrendo a Sapucaí e troca de roupa do casal de mestre-sala e porta-bandeira, tudo ao estilo do carnavalesco Paulo Barros.

O desenvolvimento do enredo foi correto, o samba funcionou na voz do potente intérprete Tinga e na bateria impecável de mestre Macaco Branco. O conjunto alegórico era inspirado e os figurinos das fantasias acertaram em volumetria, escala cromática e repertório. Um carnaval que há muito não se via nas mãos do inventivo carnavalesco.

Apenas uma inovação pode comprometer a briga da escola pelo título: o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila, formado por Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, trocou de roupa na avenida. Os guardiões cercavam o casal e ajudavam na troca dos trapos pela indumentária (lindíssima, por sinal). A coreografia estava excepcional, mas a cena deixou o pavilhão — principal elemento do quesito — de lado. Como os jurados irão avaliar na quarta-feira? Vamos aguardar.

Sabrina Sato Vila Isabel 2023 – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

Imperatriz volta a vibrar e sonhar com campeonato

A Imperatriz Leopoldinense foi a quarta escola da noite a pisar na passarela e contou a morte de Lampião e sua tentativa de ingressar no céu e no inferno. Com um conjunto alegórico deslumbrante e evolução típica da Certinha de Ramos, a escola está na disputa para conquistar o título que não vem desde 2001. Seu desfile foi vibrante do início ao fim: a comunidade de Ramos estava feliz com seu carnaval, como há muito não se via, e contagiou o público presente no Sambódromo.

Em sua estreia, mais uma vez Leandro Vieira mostrou porque é um dos melhores carnavalescos da atualidade: desfile impecável, primoroso e excelente desenvolvimento do enredo. Nada de luxo pelo luxo, da estética pela estética, como ele mesmo diz, apenas a beleza brasileira, nordestina, muito bem executada na paleta de cores de alegorias e fantasias. Mas o ápice da noite ficou por conta da dobradinha Pitty de Menezes e Lolo: o intérprete cantou o excelente samba de forma magistral, enquanto o mestre comandou a melhor bateria do ano no Grupo Especial.

Mestre Lolo Imperatriz 2023 – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

Beija-Flor vem forte, mas incêndio prejudica

A Beija-Flor foi a penúltima escola a desfilar e apresentou enredo provocativo sobre a versão elitista e hegemônica da independência do Brasil. Com alegorias e fantasias luxuosas — e a disposição natural de sua valente comunidade —, a escola de Nilópolis fez ótima exibição, mas pode ficar fora da disputa pelo título por conta de problemas. Minutos antes de sua apresentação começar, ainda na Concentração, parte de seu carro abre-alas pegou fogo, obrigando bombeiros da brigada da Sapucaí a resgatarem componentes às pressas. O incidente foi controlado a tempo, mas o segundo chassi passou apagado e sem um dos destaques. Mesmo com os problemas, a comunidade nilopolitana não se intimidou e pisou firme na Sapucaí, com o bom samba interpretado por Neguinho da Beija-Flor, em dobradinha com a cantora Ludmilla.

Beija-Flor 2023 – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

Viradouro tem exibição impecável e é forte candidata ao título

Coube a Unidos do Viradouro encerrar a segunda noite de desfiles. E a escola de Niterói não decepcionou: com um enredo emocionante sobre a vida de Rosa Courana — africana que aos 6 anos de idade foi escravizada e trazida ao Brasil —, a Viradouro fez uma apresentação bastante lúdica, sensível, emocionante e empolgante.

A comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Rodrigo Neri e Priscilla Mota, foi a melhor do Grupo Especial e apresentou trechos lúdicos emocionantes como a ventania de pétalas e o florescer de rosas no momento da coroação e aclamação da personagem do enredo.

A plástica exuberante e sensível da escola também carimba Tarcísio Zanon como um dos grandes carnavalescos da atualidade. Um trabalho leve, exuberante e de altíssimo nível, com uma paleta cromática bastante inovadora. Com um samba muito bem levado por Zé Paulo Sierra e sua comunidade, a Viradouro arrastou o povo e, sob os primeiros raios de sol da manhã de terça, ouviu os gritos de “É campeã!”.

Unidos do Viradouro – Foto: Gabriel Cardoso/Carnavalizados

A apuração promete

Com o alto nível das apresentações, este pode ser um dos carnavais mais apertados dos últimos tempos. São pelo menos três escolas na briga direta pelo título — Vila Isabel, Imperatriz e Viradouro —, e mais duas correndo por fora, casos de Mangueira e Beija-Flor. A apuração acontece nesta quarta (22/02) e o Carnavalizados faz a cobertura completa.

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