Edson Pereira Barracão Vila Isabel 2019 - Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Barracões 2019 – Unidos de Vila Isabel: na Cidade dos Pedros, Reencontro Minhas Raízes

Da Série Barracões 2019 – Vila Isabel

Mais um dia de visitas aos barracões da Cidade do Samba, dessa vez recebidos pelo carnavalesco Edson Pereira, uma das grandes apostas da Unidos de Vila Isabel rumo ao título. Edson vem de dois campeonatos: em 2017 consagrou-se, ainda que de forma tardia, com a Mocidade Independente de Padre Miguel, ano em que dividiu a concepção com Alexandre Louzada; e em 2018, com a Unidos do Viradouro, que retorna ao Grupo Especial pelas suas mãos.

Neste ano o carnavalesco faz sua estreia entre os herdeiros de Noel, onde desenvolve o enredo Em Nome do Pai, do Filho e dos Santos, a Vila Canta a Cidade de Pedro, através do qual contará a história de Petrópolis e promoverá um encontro entre a coroa que tremula no pavilhão da escola e a coroa imperial brasileira, que reside no alto da Serra.

Unificar essas duas histórias é a aposta de Edson para o sucesso do desfile. Segundo nos conta, ao surgir a oportunidade de fazer um enredo sobre Petrópolis existiam outras duas possibilidades de temas patrocinados. Pontua que “hoje em dia, com o cenário de crise financeira, apesar de não ser o melhor para o carnaval, buscar um enredo com algum tipo de patrocínio é importante para a escola”. Dentre as três propostas, falar da cidade da região serrana tinha muito a ver com a Vila, explica:

“com muita propriedade a Vila pode falar desse enredo porque tem um pouco a ver com a sua própria história, pelo fato de a princesa dar nome ao bairro e à própria escola. Então, ao optarmos por ele, eu conjuguei tudo isso, porque falar de Petrópolis é falar da Vila Isabel.”

A simbiose entre a agremiação e a cidade acontece já no primeiro setor, que é uma grande síntese do enredo. Nele vão desfilar os quatro Pedros: “São Pedro, o apóstolo; São Pedro de Alcântara, padroeiro de Petrópolis e do Brasil, o que a maioria desconhece; e os da família imperial, D. Pedro I e II”.

Edson Pereira destaca:

“Esses personagens fazem parte da história da Vila. A escola não tinha quadra: pedia a São Pedro para não chover. Chegou a deixar de desfilar por causa da chuva. Amarrando os pontos nós estamos fazendo um enredo que segue mais por um caminho histórico”.

E por falar em viajar pela história, Edson dirigiu-se aos mais antigos habitantes da região, os índios coroados. “A gente desconhece a etnia deles, mas sabe que eram tidos como agressivos; e apesar de não serem, eram considerados canibais. Eu os coloco entre uma das maiores riquezas de Petrópolis: a água”. A alegoria do setor chamou atenção pela beleza e grandiosidade, quando testada do lado de fora do barracão há algumas semanas.

A grandiosidade, aliás, será vista por todo o desfile. Não só pelo tamanho, mas pelo cuidado com o acabamento das alegorias, talento e dedicação que saltam aos olhos. Além da suntuosidade, o tamanho das esculturas imprime aos carros um certo gigantismo, que há de fascinar a Sapucaí. Um trabalho que o carnavalesco desenvolve com muita intimidade ao longo dos anos.

Quando falamos em desenvolver, fique claro, não é apenas como projetista. Edson é um operário, do tipo que participa de toda a execução em meio aos outros. Satisfeito com seu modo de fazer, explica:

“nós vivemos em uma era no carnaval em que precisamos ter consciência de que o carnavalesco nada mais é que um outro operário dentro do barracão. Eu aprendi assim, não sei fazer diferente. Estamos em um momento de crise muito grande em que as estrelas não estão mais disponíveis como era até um tempo atrás. Tem que meter a mão na massa. O carnavalesco que não faz isso não sobreviverá no novo cenário. É o que o carnaval precisa. E apesar de trabalhoso, é prazeroso. A importância do carnavalesco que faz é porque ali ele não está só ensinando, está aprendendo também. Está vivendo outras experiências, que se somam ano após ano, o que vai fazer com que se torne um profissional gabaritado.”

Edson Pereira começou a trabalhar no carnaval aos 14 anos de idade. Iniciou suas atividades na pintura de arte, passou pela escultura, carpintaria, ferragem. Isso lhe confere um conhecimento e confiança sobre todas as funções. “Eu domino muito todas essas áreas do barracão. Assim fica mais fácil de dialogar diretamente com os outros profissionais: você fala a mesma língua”.

O que se vê no barracão é a prova de que esse diálogo garante um bom desempenho e resultado. O carnavalesco, entretanto, converte as expectativas sobre ele em trabalho: “primeiro tenho que dedicar mais responsabilidade e trabalho para colocar na avenida uma escola com o porte e a bandeira da Vila Isabel. Eu tenho que ficar em segundo plano. Os louros a gente desfruta depois”.

Sobre as diferenças entre o trabalho no grupo de acesso e especial, ressalta os prós e contras:

“a verba no acesso não é a mesma, mas o carnavalesco tem mais liberdade; no grupo especial nós temos mais compromissos e regras a serem cumpridas. Apesar disso, eu nunca fiz carnaval pensando no grupo em que estava. Eu simplesmente faço o meu máximo. E com esse esforço meus resultados sempre foram muito positivos. Mesmo naqueles que não foram vitoriosos eu tive uma resposta muito boa e contei com a admiração das pessoas, o que é muito importante. Fazer o meu melhor e ser reconhecido por isso é um título”.

Um dos momentos mais aguardados da passagem da Vila é a comissão de frente capitaneada por Patrick Carvalho, que emocionou no último ano com a apresentação arrebatadora da Tuiuti. O carnavalesco, como de costume, não revela muito sobre o quesito, mas desperta a curiosidade ao indicar que “no início do desfile a escola precisa se reconhecer. Então vamos começar com muito azul e branco, as suas cores. E a comissão de frente vai ser um resgate dela mesma. A gente vai falar de muitas questões que aconteceram neste ano, que envolvem direta e indiretamente o enredo. Algo que provoque emoção e interatividade”.

Como dito, o primeiro setor fará uma síntese de todo o enredo. Os seguintes, respectivamente, trarão a história da escola e a de Petrópolis. Neste será contada a chegada do Barão de Mauá, que sobe a serra com o trem para o novo caminho do ouro. Apesar de construída para tal finalidade, a linha férrea nunca transportou o minério. Também aparecerão os imigrantes, que deram à cidade o clima europeu. E assim será contado o percurso para o progresso, com o surgimento das indústrias na região.

O quarto setor exibe Petrópolis como a Hollywood dos trópicos, uma referência à década de 50, período em que o Cassino Quitandinha atraía grandes astros, fazendo da cidade a coqueluche do momento.

Por fim, a escola encerra seu carnaval “salvando a princesa”, que vive eternamente em Petrópolis, mas que é a princesa de uma Vila chamada Isabel. Para ela “o Morro dos Macacos fará um agradecimento em forma de amor”, descreve Edson Pereira. Agradecimento pelo abolicionismo, pela luz que ela jogou sobre a liberdade. O carnavalesco, então, destaca que o primeiro e o último setor serão dois pontos importantes para o desfile, pois vão dar significado à comunidade de Noel, trazendo sua história e referências para a passarela do samba.

E assim nos despedimos de mais um barracão com a certeza de que apesar dos esforços para o seu enfraquecimento, o carnaval está muito vivo e pronto para encher o Rio de Janeiro de arte, beleza e cultura.

Confira as imagens dos bastidores do Barracão da Vila Isabel 2019: 

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

Bastidores Barracão Vila Isabel 2019 – Foto: Fernando Tribino / Carnavalizados

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