Nascido em 1926, Djalma de Oliveira Costa entraria para a história do samba como Djalma Sabiá, apelido com que foi batizado entre um jogo de futebol e outro no morro do Salgueiro. Filho da porta-bandeira, Alzira de Oliveira Costa, a biografia do nosso personagem é totalmente ligada à história da agremiação que viu nascer, quando da união de três escolas existentes no morro em que morava. A junção de Azul e Branco, Unidos do Salgueiro e Depois eu Digo, oficializada em 3 de março de 1953, foi nomeada Acadêmicos do Salgueiro, grêmio recreativo que não demoraria a despertar os olhares atentos e admiração dos sambistas.
Djalma estava lá! É o único integrante vivo do momento de fundação da Academia do Samba como conhecemos hoje. O verbo estar, aliás, não é o mais indicado para contar esta estória. Djalma Sabiá não esteve simplesmente no Salgueiro: participou tão ativamente da trajetória da escola que pode-se dizer que ajudou a moldar a essência salgueirense.
Integrante da ala de compositores, Djalma Sabiá é um dos compositores do samba “Navio Negreiro”, que embalou o primeiro enredo de temática fundamentalmente africana do carnaval, no ano de 1957. Nesta década, entre 1956 e 1959, o mestre Djalma Sabiá assinou os quatro sambas escolhidos para representar o Salgueiro na avenida. “Brasil, Fonte das Artes”, de 1956, foi o primeiro samba enredo a ser gravado, eternizado por Emilinha Borba. Em 1964, ao lado de Binha e Geraldo Babão, emplacou um novo sucesso com o samba composto para o enredo “Chico Rei”, desenvolvido por Arlindo Rodrigues. E em 1976 volta a ganhar a disputa de samba para o enredo “Valongo”.
Devido à sua importância na construção da escola, em 2013 o Salgueiro batizou o Centro Cultural Djalma Sabiá, onde são resgatadas as histórias da agremiação e realizadas as pesquisas para o desenvolvimento dos enredos. Mas nenhuma homenagem é suficiente quando se trata de um tesouro vivo de uma escola de samba.
Eis que em um esforço de resgate e valorização das raízes, a nova presidência do Salgueiro, que assumiu a agremiação nas últimas semanas, decidiu por elevar o compositor à condição de Presidente de Honra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, uma merecida reverência, oficializada no dia 27 de dezembro.
A cerimônia de posse foi cercada de emoção. A diretoria, comunidade e amigos fizeram-se presentes para aplaudir o mais novo presidente de honra da escola. Na mesa, ao seu lado, convidados de peso que ajudaram a construir a identidade do samba tornaram a noite ainda mais especial. Participaram da celebração Nelson Sargento, presidente de honra da Mangueira, cantor e compositor de inúmeros sucessos; Aluísio Machado, cantor e compositor, representante do Império Serrano; o cantor, compositor, jornalista e teatrólogo, Rubem Confete; Adelzon Alves, jornalista, radialista e produtor que abriu os microfones das rádios para o samba, tornando este o ritmo popular com a cara do Brasil; o jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, Haroldo Costa; além dos nomes da casa, como o compositor Renato de Verdade, o diretor de harmonia Jô Casemiro, o vice-presidente Joaquim Cruz e o presidente André Vaz.
Ao receber o diploma das mãos do presidente André Vaz, Djalma Sabiá agradeceu o gesto: “muito obrigado pelo esforço e empenho de vocês para que nossa escola volte a ser uma escola unida pelo morro e o asfalto”.
Nelson Sargento acrescentou: “é realmente emocionante quando a gente vê o que está acontecendo aqui. Um dos fundadores do Salgueiro presente, isto é uma vitória. Palmas para o Salgueiro! Glória ao Sabiá! É muito bom quando os modernos, os jovens, veem um dos fundadores da escola que ele está frequentando.
O compositor Aluísio Machado ressaltou a importância de uma escola de samba homenagear em vida os seus componentes fundamentais. Declaração seguida por Rubem Confete, que lembrou, em tom de protesto, que por trás da ideia de marca, que pontua a existência atual das agremiações, existem os bravos que a fundaram, em uma luta incrível para colocar um desfile na rua, dedicando suas vidas à agremiação.
Adelzon Alves destacou o simbolismo do momento, que representa, segundo ele, um resgate com o passado e uma aproximação com o morro, a comunidade que faz a escola de samba existir.
Ao Carnavalizados Djalma Sabiá revelou o sentimento de emoção com o reconhecimento da escola à sua trajetória de dedicação ao samba e ao carnaval. E mostrou-se esperançoso quanto ao futuro do Salgueiro, deixando claro que acredita no título no próximo ano, pois vê na equipe os esforços para garantir à agremiação o que ela necessita para seguir com a sua força característica.
Finalizada a cerimônia dentro da quadra, a festa continuou na rua Silva Teles, com o ensaio de canto da comunidade salgueirense. Sob a benção do novo presidente de honra, o carro de som comandado pela dupla Quinho e Emerson Dias entoou Chico Rei, do carnaval de 1964, uma merecida homenagem ao mestre Sabiá.
Glória ao Sabiá!!! “Oba Ko so!” ao Rei Maior!
Confira as imagens da posse de Djalma Sabiá:
Confira os vídeos do ensaio de comunidade – Xangô rasgando a Silva Teles feito raio
Por: Ruan Rocha é o redator do Site Carnavalizados