Reunião Geral com sócios e alguns segmentos - Foto: Carnavalizados

As Voltas que o Samba Dá: Nova Gestão à Frente do Acadêmicos do Salgueiro

Dois mil e dezoito foi um longo ano para os salgueirenses. Sete meses se passaram desde a eleição que deveria ter decidido a nova gestão da escola. Insegurança e incerteza foram os sentimentos presentes no coração da comunidade, fruto de uma batalha sem fim, que necessitou de intervenção judicial para iluminar os caminhos da escola tijucana.

Como noticiamos na última semana, uma decisão do desembargador Werson Rêgo, da 25ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, estabeleceu a nova presidência do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, cargo destinado a André Vaz, que liderou a chapa 2 durante o processo eleitoral e se manteve firme na luta pelo respeito ao Estatuto da Escola, ignorado pela ex-presidente ao se lançar a seu terceiro mandato à frente da agremiação.

André Vaz tomou posse na última sexta-feira (14). Na noite de ontem (18) convidou a imprensa para uma coletiva, onde pode esclarecer suas motivações e o trabalho que tem pela frente para colocar a escola nos eixos. Outro objetivo da entrevista foi o anúncio da equipe que trabalhará para fortalecer o futuro do Salgueiro.

O primeiro ponto abordado pelo novo presidente foi a situação em que se encontra a escola e os preparativos para o próximo carnaval. A dois meses da festa o barracão do Salgueiro não ostenta qualquer sinal de alegoria, fantasia ou trabalho. Ao lado do carnavalesco, Alex de Souza, Vaz mostrou fotos do barracão completamente vazio e declarou que o momento é de união e empenho para dar vida ao projeto criado por Alex para desenvolver o enredo sobre Xangô. Apesar de tudo, o carnavalesco não desanima: lembrou do carnaval de 2011, quando um incêndio destruiu o barracão da União da Ilha, o que o obrigou a reconstruir o desfile em 15 dias. A situação não é a ideal, mas Alex se mostra otimista quanto ao tempo que tem para executar seus planos e diz que é possível fazê-lo sem grandes alterações na proposta original.

Alexandre Couto (Diretor de Carnaval), Jô Casemiro ( Diretor de Harmonia), Joaquim Cruz (Vice Prsidente) André Vaz (Presidente) e Alex de Souza (Carnavalesco) – Foto: Carnavalizados

Para isso, entretanto, será preciso vencer uma situação financeira crítica. Aos olhos do público a antiga gestão colocou a escola no topo do ranking da LIESA, manteve o Salgueiro como uma marca forte e sempre presente no desfile das campeãs. Por traz das alegorias o que o novo presidente encontra são dívidas vindas de todas as partes. A escola deve 550 mil reais ao Bradesco; deve salários aos funcionários da quadra, barracão e vila olímpica; aos fornecedores de materiais, como plumas, arame, ferro, tecido, sapato; tem dívidas, inclusive, com os fornecedores de gelo e com a cervejaria Itaipava; nem mesmo os fogos utilizados no desfile de 2018 estão pagos. Para sanar esse rombo financeiro e conquistar a confiança dos parceiros o presidente aposta em uma dedicação intensa para atrair investimentos e patrocinadores. Antecipa que conversa com algumas empresas e demonstra segurança ao falar da força da marca Salgueiro como motivação para patrocínios que viabilizem as reformas necessárias e a construção do próximo carnaval.

Segundo o presidente, ainda é cedo para dizer o valor total das dívidas da agremiação, mas calcula algo em torno de três milhões de reais. Solicitou orçamento a três empresas de auditoria para fazer o levantamento das movimentações financeiras realizadas pela escola nos últimos anos e expressou que se forem encontradas irregularidades o jurídico será acionado para contestar os responsáveis e ressarcir os salgueirenses. Durante toda a entrevista André Vaz se manteve cauteloso e evitou acusações contra a antiga gestão, mas deixou claro que a ex-presidente fez um saque recente de R$1,9 milhão na LIESA, uma quantia considerável, que não foi investida na escola ou usada para o pagamento de dívidas existentes.

Outro ponto de destaque da coletiva foi a apresentação da equipe formada para o próximo carnaval, com a expectativa de que seja um grupo unido, longevo e bem sucedido. O presidente expressou a vontade de manter o mesmo time do carnaval de 2018, o que não foi inteiramente viável. Maior polêmica dentre os atos realizados neste início de gestão, explicou a saída do Mestre Marcão da bateria. De acordo com o presidente, sempre foi amigo do mestre e admira muito o trabalho que realizou por mais de uma década na escola. Sua intenção era mantê-lo no comando da Furiosa, o que ficou inviável quando o profissional posicionou-se em defesa da chapa de Regina Celi durante o processo eleitoral, questionando o caráter dos envolvidos na chapa 2, hoje administradores do Salgueiro.

O afastamento ocorreu pela quebra de confiança, o que é fundamental na estruturação de um trabalho sólido.
Para o comando de uma das baterias mais famosas do carnaval a escolha veio de dentro de casa. A aposta nos irmãos Guilherme e Gustavo é um olhar para dentro: para dois jovens profissionais, criados na Aprendizes, a escola mirim do Salgueiro. Músicos dedicados, os novos mestre conhecem bem a comunidade, a história e as raízes rítmicas da agremiação. Ao seu lado foi confirmada a continuidade do reinado de Viviane Araújo, que não pode comparecer por motivos profissionais, mas segue como rainha inabalável da Furiosa.

Contratação mais celebrada da atual gestão, o retorno do casal Marcella e Sidclei não chega a ser uma novidade. Desde a dispensa da porta-bandeira, seguida pelo desligamento de seu mestre-sala, o atual presidente declara apoio ao casal e repúdio ao gesto injustificado da antiga gestão. Aclamados pela comunidade, o casal não deixou de ensaiar por conta do afastamento e já conta com coreografia para o samba escolhido e a sintonia de sempre, que desperta olhares e aplausos por onde exibem seu bailado. Mantiveram a confiança de que a justiça seria feita, vez que a dispensa aconteceu após declarada a inelegibilidade da presidente Regina Celi.

André Vaz declarou respeito a Jackeline e Vinicius Pessanha, casal que vinha ensaiando até então. Disse ter apresentado a eles que desde o início da campanha eleitoral deixou claro que o trabalho seguiria com Marcella e Sidclei, o que não poderia ter outro rumo que não fosse o retorno do 1º casal para o lugar de onde não deveriam ter saído.

Outro retorno celebrado é o do intérprete, Quinho, uma das vozes mais marcantes da história do Salgueiro. A contratação do cantor, entretanto, despertou polêmica nos últimos dias, pela dúvida do público quanto ao futuro de Emerson Dias, que assumiu o microfone da escola após o carnaval de 2018. A volta de Quinho sempre pontuou os discursos da chapa 2; por outro lado, Emerson é um profissional de destaque, que ano a ano conquista o público com sua energia e disposição vocal. O anúncio de uma dobradinha acalmou a ansiedade em torno do destino dos dois intérpretes. Emerson recordou seu início no carnaval, no carro de som do Salgueiro, em 1992, pelas mãos de Quinho. Também foi ele que levou Emerson para a Grande Rio, quando passou pela agremiação de Caxias no ano 2000. Ao sair da escola, Emerson Dias optou por ficar e traçar um novo rumo à sua carreira: um caminho de sucesso que conhecemos e admiramos. A ligação histórica entre os dois é a base para a parceria que se reinicia, com a promessa de fazer o carro de som do Salgueiro uma potência. A volta de Serginho do Porto aos microfones salgueirenses também foi anunciada para o reforço do canto.

Para a Comissão de Frente a nova gestão mantém o coreógrafo Sérgio Lobato, contratado após a saída de Hélio e Beth Bejani, que estavam na escola desde 2008. Jô Casemiro será o responsável pela Harmonia e já assume com a tarefa de catalogar a comunidade, vez que a administração passada levou todas as listagens e computadores da escola, de forma que os componentes precisarão passar por um recadastramento. A direção de carnaval ficará a cargo de Alexandre Couto.

Após responder a todas as perguntas, o presidente André Vaz rebateu uma postagem em rede social da ex-presidente, Regina Celi, que acusou a chapa 2 por dar um golpe no Salgueiro, trair a escola. Vaz foi enfático ao dizer que foi ela que traiu o Estatuto, a história do Salgueiro e a confiança dos salgueirenses. A convidou a dar uma entrevista para dizer onde está o dinheiro da agremiação. Disse, ainda, que na última quinta-feira (13), após a 25ª Câmara determinar o afastamento da administração anterior, os responsáveis levaram os computadores, microfones da quadra, as roupas da boutique e, até mesmo, as bebidas do estoque. Finalizou acusando a ex-presidente de má-gestão.

Após a coletiva o presidente, vice e toda a equipe seguiram para uma reunião com sócios e alguns segmentos. Padre Wagner abençoou o caminho salgueirense.

Mas o grande momento da noite foi a aclamação do lendário Djalma Sabiá como presidente de honra do Salgueiro. Um reconhecimento à história da escola e a quem a escreveu. Sabiá é o único fundador vivo da vermelho e branco. Vida longa ao Salgueiro e aos seus filhos!

A entrevista coletiva na íntegra você pode ver na página do Carnavalizados no Facebook.

 

 

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