Primeiro Casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael e Denadir - Foto: Gabriel Cardoso

Vila Isabel escolhe hino para 2018 e começa a correr em busca de um futuro melhor

Parceria de André Diniz vence novamente

Diz a sinopse escrita pelos carnavalescos Paulo Barros e Paulo Menezes para o Carnaval de 2018 da Vila Isabel: “Agora vamos adiante, porque algo vai acontecer que transformará nossas vidas para sempre”.

No último sábado (07/10), uma coisa aconteceu, e foi na quadra da Vila Isabel. Algo que transformará para sempre a vida de seus componentes, diretores, colaboradores e comissões: a escolha do samba-enredo. E a parceria de Pinguim, JP, Marcelo Valência, Julio e Deco Augusto é a autora do hino que embalará o desfile da azul e branco do bairro de Noel no próximo ano. O grupo de compositores contou ainda com a luxuosa participação especial de André Diniz, BJ Carioca da Vila e Evandro Bocão. Com a vitória, inclusive, André Diniz torna-se o maior vencedor da história da Unidos de Vila Isabel, com 17 campeonatos.

Terceira escola a desfilar no domingo de Carnaval em 2018, a agremiação levará para a Avenida o enredo ”Corra que o Futuro Vem Aí”, da dupla de carnavalescos Paulo Barros e Paulo Menezes, sobre as invenções e os acontecimentos que mudaram a trajetória da humanidade.

A vida é mesmo sempre feita de acontecimentos. Algo sempre vai acontecer e vai transformar tudo. Alguém que vamos conhecer. Algum lugar que vamos visitar. Uma conquista que vamos comemorar; e uma derrota que vamos amargar. E vamos sempre adiante.

Para muitas pessoas, a Unidos de Vila Isabel é esse lugar de transformação. O lugar dos acontecimentos que mudam o rumo de muitas vidas. E desde a pessoa mais humilde da comunidade do Morro dos Macacos à celebridade mais famosa que já pisou no Boulevard das terras de Noel Rosa, a Vila Isabel transformou. Seu chão, sua história de luta e resistência e seus baluartes construíram esse ambiente que acolhe e modifica. Que ensina o povo a amar o samba, que ensina que sambar é resistir a preconceitos e censuras. E que também ensina a ser boêmio e a não beber cerveja choca, nem bater com a baqueta no bordão do tarol. Ninguém sai da Vila Isabel da mesma forma que entrou. E ninguém chama a comunidade da Vila Isabel de “Povo do Samba” à toa.

A Vila muda a gente.

Mestre Chuvisco – Foto: Gabriel Cardoso

Gente como o recém-chegado mestre Chuvisco. Depois de nove anos à frente da bateria do Estácio de Sá, Chuvisco assume o comando dos ritmistas da Vila Isabel com a missão de trazer de volta os 40,0 pontos, que não vêm desde 2005. O novo mestre da Swingueira de Noel diz que está trabalhando para encontrar um meio termo para encontrar o andamento ideal para a bateria. “Não dá pra usar o andamento que eu usava no Estácio, mas também não vou usar o andamento do mestre anterior. Vamos achar um meio termo. O começo é sempre mais complicado, você não conhece tanto as pessoas. Mas todos estão me abraçando e é isso que importa. Nossa intenção é ir pra Avenida com uma média de 148 bpm [batidas por minuto]. Estamos trabalhando firme pra isso. E acho que a obra escolhida é valente e tem condições de ir dentro dessa média.”

Igor Sorriso – Foto: Gabriel Cardoso

No que depender do intérprete da escola, Igor Sorriso, a adaptação de Chuvisco será rápida. Os dois são amigos de longa data, dentro e fora do carnaval. “Chuvisco é meu amigo de futebol, de samba, de correria. Estamos muito felizes de poder trabalhar juntos. Tenho certeza que isso vai ajudar na adaptação dele, vamos nos entrosar rápido. Mas é muito fácil se sentir em casa aqui. A cada ano vamos aumento o envolvimento, todo mundo é recebido muito bem, mudou a minha vida vir pra essa escola”, declara o puxador, rumo ao terceiro desfile pela Vila.

Sabrina Sato – Foto: Gabriel Cardoso

Há oito anos no posto à frente da Swingueira de Noel, a rainha Sabrina Sato também deve seu futuro à Vila Isabel e sua comunidade. “A essência da Vila está aqui”, disse Sabrina, apontando para as pessoas presentes na quadra. “Eu nunca imaginei [me tornar rainha de bateria]. Sempre imaginei fazer parte do carnaval, e sempre acompanhei os desfiles da Vila. Mas fazer parte disso dessa forma é algo importante demais pra mim, e foi fundamental pra que eu construísse um futuro diferente na minha vida. Eu aprendo muito com cada uma dessas pessoas.”, disse a rainha, transbordando simpatia.

Dispostos a dar um futuro melhor para a agremiação em 2018, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael e Denadir, afirmam que estão ensaiando três vezes por semana e vão aumentar o ritmo na reta final. “Tentamos formar essa dupla quatro vezes. Finalmente o esforço deu certo, conseguimos e agora vamos dar o nosso melhor”, afirma Raphael.

“Mas foi um longo caminho a ser percorrido até aqui. A essa altura, podemos escolher como queremos que seja o nosso amanhã.” – Vila Isabel virá brigando pelo título em 2018.

A quadra da Vila também recebeu a presença ilustre do presidente da Portela, Luís Carlos Magalhães. De acordo com o mandatário de Madureira, estar em Vila Isabel é estar em casa. “Passei a minha infância aqui [em Vila Isabel]. Eu só não moro no bairro porque minha casa fica sempre insuportavelmente cheia de amigos bêbados. Morando aqui isso seria pior. Mas prestigiar a Vila é prestigiar o samba, prestigiar Noel [Rosa].”

Luis Carlos Magalhães – Foto: Gabriel Cardoso

Por falar em futuro, a Portela, além da própria Vila Isabel, é uma das escolas que vem fazendo um trabalho muito consistente de reformulação e reposicionamento da marca da agremiação no mercado. Como muito bem diz a sinopse da dupla de carnavalescos, “podemos escolher como queremos que seja o nosso amanhã”, e o amanhã das duas escolas é promissor. Com muitos investimentos, as agremiações coirmãs vão buscar voos altos em 2018. E Luís Carlos Magalhães foi enfático: o futuro das escolas de samba é o mercado. “Não adianta. É claro que o poder público tem que contribuir porque é uma festa que interessa a eles. O turismo é uma indústria poderosíssima no mundo inteiro, incomensurável. E o Carnaval não pode ser deixado de lado. Mas as escolas precisam ir ao mercado, e pra ir ao mercado é preciso ter marca, competitividade. E nisso, a Portela e a Vila estão se empenhando muito”, afirma o presidente da Águia.

De fato, a Vila vem passando por uma grande reformulação. Com o objetivo de voltar a ficar entre as melhores colocações no carnaval, a escola foi ao mercado e trouxe grandes nomes, como o próprio Paulo Barros. Segundo o vice-presidente da agremiação, Fernando Fernandes, ter o carnavalesco é “uma benção”. “Trazer o Paulo [Barros] trouxe junto muitos patrocínios, nossa escola vai vir pesada pra Avenida. Mas também trouxemos o Paulo Menezes [carnavalesco], o Ricardo [diretor de carnaval], o Moisés [diretor de barracão]. A Vila Isabel hoje é uma escola totalmente organizada, muito bem estruturada. Tem uma equipe espetacular, um time de profissionais de ponta, com um barracão organizado e limpo. Então, estamos montando uma estrutura muito legal. Temos dívidas, é claro, mas agora são poucas. Erros deixados por gestões anteriores, mas tudo está começando a se equilibrar”, detalha Fernandes.

Diretoria – Foto: Gabriel Cardoso

Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, reforçou as palavras do vice-presidente em discurso emocionado, garantindo que a escola do bairro de Noel está fazendo de tudo para ter um futuro melhor e ser a campeã do carnaval em 2018. E pediu ao Povo do Samba (como a comunidade da Vila Isabel é conhecida) para dar o seu melhor. “A Vila Isabel está preparando um carnaval para buscar o título. Estamos fazendo investimentos, mas isso não adianta se vocês não cantarem. Venham aos ensaios, venham aos nossos eventos, deem o melhor.”

O capitão exaltou a obra da parceria de Pinguim, que será a trilha sonora do desfile da agremiação. “Já vi escola ganhar carnaval sem grandes alegorias e com grande samba, mas nunca vi escola com samba ruim ganhar carnaval. Por isso essa escolha foi muito importante pra que vocês [componentes] façam um bom desfile.”

A escolha do samba

As parcerias tiveram 35 minutos para se apresentar, sendo as duas primeiras passadas do samba sem bateria. A primeira parceria a subir no palco foi a parceria de Pinguim, a vencedora da disputa, seguida pelas parcerias de Macaco Branco e J. Kaoma.

Pinguim e parceiros
Antes de subir o samba, o professor de história e compositor André Diniz justificou a ausência do intérprete Tinga, mas que isso não seria um problema. O maior vencedor da história da Vila Isabel, até então com 16 campeonatos, pediu garra e fé para sua torcida.

O próprio André Diniz puxou o samba, ao lado de Pepê Niterói. A parceria levou a maior torcida da noite, com muitas bandeiras e bolas coloridas. A torcida, no entanto, não manteve o canto forte durante os 35 minutos, diminuindo o ritmo um pouco depois da metade da apresentação. Destaque para o robô com pernas de pau, todo iluminado com luzes de led, levado pelo grupo.

Macaco Branco e parceiros
Desde 2007 concorrendo na disputa, Macaco Branco reuniu na parceria nomes como Jaiminho, autor de “Sou da Vila, não tem jeito” e Jonas, um dos compositores de “Kizomba, Festa da Raça”, que, segundo ele, são “as vozes do coração da Vila Isabel”. A parceria foi a segunda a subir no palco e também não contou com o seu intérprete oficial, Wander Pires. Mesmo sem o cantor e com uma torcida em menor número, o samba da parceria foi o que mais contagiou os segmentos. A torcida do samba ainda contou com o apoio de muitos passistas da escola e de quase toda a harmonia, que mostravam a sua preferência pelo samba do compositor, que desde os 14 anos desfila como ritmista da escola. Muitas bolas pretas e roxas encobriam a torcida, e nos camarotes tremulavam bandeirolas com a letra do samba. A parceria levou também um elemento cenográfico com efeitos especiais e um grupo coreografado. O samba encerrou sua apresentação sob os gritos de “é campeão!”.

J Kaoma e parceiros
Com a quadra já bem mais vazia, a terceira e última parceria da noite subiu ao palco quase às 4h da manhã. A parceria de J. Kaoma, toda formada por compositores estreantes na Vila Isabel, foi a que levou o time mais pesado para o palco. Com Wantuir, Leozinho Nunes, Thiago Brito e Leo Simpatia, a obra foi a que passou melhor em termos de apresentação. A letra fácil contagiou a torcida nos primeiros 15 minutos de apresentação, mas foi o samba menos entoado da noite. O fato mais inusitado da apresentação ficou por conta dos bandeirões utilizados na torcida: eram da Portela.

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Parceria de André Diniz – Foto: Gabriel Cardoso

Pouco antes das 5h da manhã, coube ao intérprete Igor Sorriso anunciar o samba vencedor. Com muita comemoração e copos de cerveja sendo jogados para o alto, a parceria de Pinguim sagrou-se a vencedora.
O maior campeão da Vila, André Diniz, contou que, apesar da vitória, está muito insatisfeito com o modelo atual de disputa de samba. “Ver a escola feliz é o que importa pra gente. Mas estamos cansados de disputa em escola de samba. Não aguentamos mais, o modelo precisa ser revisto.”

Um dos compositores do samba e torcedor confesso da Vila Isabel, Marcelo Valência reforça a importância de compor pensando pelo bem da escola. “Depois de quatro anos na Beija-Flor, retornei para o local de onde nunca devia ter saído. E não tem palavra nenhuma que descreva compor com nomes como Diniz, Bocão e Pinguim, que são super campeões. Sobre o modelo de disputa, acho que independente de qualquer concurso de samba, somos Vila Isabel e queremos fazer de tudo pra escola ficar mais forte e unida”.

Foto: Gabriel Cardoso

Corram que a Vila Isabel vem aí.

 

Confira a letra do samba vencedor:

Compositores: Pinguim, JP, Marcelo Valência, Julio e Deco Augusto

Participação Especial: Evandro Bocão, André Diniz e BJ Carioca da Vila

Intérpretes: Tinga, Marquinho Art’Samba, Pepê Niterói, Rodrigo Gauz

QUEM QUER TOCAR O HORIZONTE
E CONHECER O QUE VIRÁ
MERGULHE FUNDO, O PASSADO É A FONTE
QUEM NUNCA FOI, JAMAIS SERÁ
O FOGO QUE ARDE NA ALMA DA GENTE
AQUECE QUEM SENTE E FAZ PROTEGER
FORJA O SONHO, ILUMINA A MENTE
BRILHA NO MEU SER

O MUNDO GIRA NAS VOLTAS DA VILA
RODAS DA VIDA QUE MOVEM MOINHOS
NO SOPRO DE UM NOVO TEMPO, FORÇA DO PENSAMENTO
CONDUZINDO NOVOS CAMINHOS

DESTINOS MOLDADOS NA PALMA DA MÃO
LIÇÕES DA HISTÓRIA PRA SE FOLHEAR
OS LIVROS INSPIRAM A EVOLUÇÃO
UM CLICK NOS LEVA PRA QUALQUER LUGAR
NAS ONDAS DO RÁDIO OU NA TELEVISÃO
NA SÉTIMA ARTE QUE MOSTRA ATÉ MAIS
ENSINAMENTOS, EFEITOS BEM MAIS QUE ESPECIAIS
AVENTUREIROS CRUZARAM O OCEANO
LEVARAM O SONHO PRO FUNDO DO MAR
RISCARAM O ESPAÇO E DERAM UM PASSO
MAIOR QUE O HOMEM PODIA IMAGINAR
HOJE PENSAR EM CIÊNCIA
É TER CONSCIÊNCIA DO QUE ESTÁ POR VIR
ENTÃO PRA QUE DISCUTIR
CORRA QUE O FUTURO VEM AÍ

O POVO DO SAMBA, É VANGUARDA POPULAR
MORA NOS MACACOS E NO BOULEVARD
VEM AQUI APRENDER, “MINHA VILA TÁ LEGAL”
“O MODERNO E O TRADICIONAL”

 

Por: Gabriel Cardoso e Marilda Campbell

Foto: Gabriel Cardoso

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