Beija-Flor Desfile 1993 - Foto: Wigder Frota

Série “Sete enredos com a temática infantil”: Beija-Flor 1993

UNI-DUNI-TÊ, A BEIJA-FLOR ESCOLHEU: É VOCÊ

Sobre a série “Sete enredos com a temática infantil”

Desfiles com enredos infantis despertam todas as crianças: as do mundo e as interiores.

As crianças do mundo são as do presente. Nossos filhos. Frutos da nova geração. Que ficam vislumbradas com a beleza magnética das cores. Talvez ainda não entendam a estrutura e a origem das coisas, mas entendem que elementos atraem, despertam o encantamento e a curiosidade.

As crianças interiores são as do passado. Que vivem dentro de cada um de nós. Nós, esses adultos crescidos, cheios de responsabilidades, trabalhos a realizar, contas a pagar, famílias a sustentar. Adultos que precisam constantemente voltar a serem crianças, seja através de um brinquedo, de um desenho, ou…

De um desfile.

Quem é amante do Carnaval sabe o quanto alguns desfiles de escolas de samba fizeram viajar nas lembranças da infância. E o Carnavalizados preparou este conteúdo exclusivo como uma forma de homenagear nossas crianças, o futuro do nosso mundo, mas também como forma de homenagear a criança que há dentro de cada um de nós, resgatando o universo infantil dos desfiles de Carnaval. Pois, quando nos tornamos adultos, nossa criança interior fica distante, guardada num baú de histórias e memórias, no qual pouco mexemos. E recordar esses trabalhos feitos na Avenida é uma forma de relembrar tudo aquilo que nos divertia e nos trazia alegria.

Como é bom ainda ser criança! E como é bom para o Carnavalizados poder te ajudar a matar a saudade da criança que habita em você.

É um presente pra você, adulto, criança crescida, que acompanha o nosso trabalho.

Divirta-se. Oni Beijada!


Beija-Flor 1993
UNI-DUNI-TÊ, A BEIJA-FLOR ESCOLHEU: É VOCÊ

Dando início a nossa série de conteúdos em homenagem ao dia das crianças, vamos começar com este enredo sensacional da carnavalesca Maria Augusta para o Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, em 1993.

Primeiro vamos à parte da sinopse que diz:

“Era uma vez… Do mundo da fantasia, o Som fluiu e falou: “Uni, Duni, Tê”.
O Uni é o um, a unidade, de onde tudo saiu.O Duni é o dois, a bipolaridade, como o Sol e a Lua, o Céu e a Terra, o macho e a fêmea, o claro e o escuro, filhos dos quais todos somos. O Tê é o terceiro, o homem do futuro, o homem integrado, o homem que equilibra a bipolaridade, o homem harmonizado, é a nova criança – para onde a gente está caminhando. E, para a gente chegar ao terceiro, é preciso tornar a ser criança”.

Beija-Flor Desfile 1993 – Foto: Wigder Frota

Dessa forma e com esse enredo, a carnavalesca Maria Augusta chegava à Beija-Flor, em 1993, com a difícil missão de substituir ninguém menos que o grande Joãosinho Trinta, que estava à frente da escola desde 1976 e tinha dado incríveis cinco títulos à agremiação de Nilópolis nesse período. A expectativa com o desfile da escola era imenso, já que todos queriam ver como viria a Beija-Flor sem João. Principalmente porque o brilhante carnavalesco havia construído uma identidade na azul e branco. A imprensa falava inclusive em uma “nova Beija-Flor”. O tema de Madame Augusta ia completamente na contramão da linha adotada pelo carnavalesco anterior, mas era assim, dessa maneira, que ela pretendia exorcizar a presença de João. O tema não pedia nudez, a escola não teria alegorias gigantescas. A escola veio leve, alegre, vibrante e com fantasias coloridíssimas! Tudo de muito bom gosto. Além, claro, da vibração e garra habituais da comunidade nilopolitana.

O canto e a empolgação da comunidade inclusive são as maiores lembranças do carnavalesco da Unidos de Padre Miguel, João Vítor Araújo, daquele desfile. Segundo ele, a Beija-Flor nunca havia cantado tanto. “A Beija-Flor é uma escola que sempre teve um chão maravilhoso, mas parece que esse chão simplesmente triplicou naquele ano da Maria Augusta. A escola desfilou feliz, colorida, alegre, leve. Dava pra sentir a felicidade na cara do componente ao desfilar apenas com um boné e uma jardineira, elementos modestos que predominaram no figurino daquele carnaval.”

Maria Augusta – Foto: Antonio Scorza/OGlobo

Apesar de ser fã confesso de Joãosinho Trinta e do estilo grandioso do carnavalesco, João Vítor acredita que a transição foi positiva. “A escola deu uma ‘respirada’ com Maria Augusta. Saíram o luxo, o gigantismo e a imponência de João e entraram a liberdade, a leveza e o despojo de Maria. Isso não é uma crítica, o visual foi incrível. Mas foi tudo muito diferente, tinha carrossel no meio da Avenida, tinha até uma roda-gigante! E essa pureza da infância foi justamente o que marcou aquele desfile, por não ser o estilo da Beija-Flor, mas que acabou funcionando muito bem naquele momento da escola. No ano seguinte, com Milton Cunha, a agremiação retomou suas características de grandiosidade, luxo, componentes um pouco mais vestidos. Mas esse respiro entre Joãosinho e Milton foi fundamental e fez muito bem à agremiação de Nilópolis”, detalha o carnavalesco da Unidos de Padre Miguel.

De fato, a Beija-Flor de Maria Augusta veio mais leve e mais colorida. A veterana carnavalesca fez questão de mostrar logo na entrada da Avenida essa mudança, com uma Comissão de Frente com as cores do arco-íris. Com um belo e iluminado abre-alas, onde o destaque era um grande pião prata que girava na base superior do carro – fazendo referência ao verso do refrão do samba que dizia “Gira meu mundo pião” –, a agremiação entrou empolgando. Beija-flores giravam, subiam e desciam na parte frontal do carro (também era possível ver o pássaro sobrevoando a luxuosíssima ala das baianas, através de balões). A insistência no aparecimento do beija-flor na abertura do desfile se deve ao fato de que o pássaro foi adotado como símbolo do pavilhão justamente em 1993– antes, era uma estrela. O abre-alas representava o UNI – O GERADOR DA VIDA, e reunia na sua concepção os nove planos da criação e os movimentos que impulsionam o universo. Era um carro com muitos efeitos especiais. Nele, inclusive, Maria Augusta usou um elemento muito presente nos desfiles do carnavalesco Joãosinho Trinta: espelhos. Muitos espelhos. A idéia dos espelhos em alegorias é dar mais profundidade e dar mais luminosidade para o carro alegórico, rebatendo os canhões de luz. Inovação de Joãosinho Trinta que Maria Augusta não poderia deixar de utilizar.

Beija-Flor Desfile 1993 – Foto: Wigder Frota

Madame Augusta apostou em alegorias com muito movimento, interativas, e propôs um tema alegre, leve e colorido, tal como fez no memorável e maravilhoso desfile da União da Ilha do Governador, Domingo, no ano de 1977. Reviver aquele desfile não seria uma tarefa fácil, mas a carnavalesca e a escola (e seus componentes empolgadíssimos) fizeram bonito, levando essa nova cara para Avenida em sua estréia. A Beija-Flor alcançou a 3ª colocação, ficando atrás apenas da Imperatriz, que ficou em segundo lugar, e do Salgueiro, campeão, com o famoso enredo Peguei um Ita no Norte.

Voltando ao desfile, é preciso dizer que mesmo parecendo um tema complexo para falar do universo infantil, a carnavalesca desenvolveu o enredo de forma que todos saíram do desfile com a clareza da mensagem passada pela Escola (ela dizia que fazer carnaval de brincadeira era coisa séria). Uma das idéias da artista foi colocar a galeria da Velha Guarda desfilando de mãos dadas a crianças. Todos vestidos a passeio, representando os avós e seus netos. Triste foi saber que o sexto carro alegórico quebrou a barra de direção ainda na Concentração e não pode entrar na Avenida (ele representava o livro que contava histórias infantis). Nesse mesmo ano, a Escola levava outra novidade: eram justamente as alegorias motorizadas e com motorista, dispensando os famosos “empurradores”. Falando em alegoria, há que se destacar uma, onde um trenzinho circulava com crianças. Muito colorido, muito lindo esse momento!

Driblando o atraso: os protótipos e os chefes de alas enlouquecidos

Em matéria publicada pelo Jornal O Globo, em janeiro de 1993, o atraso na entrega dos protótipos das fantasias deixou os chefes de alas da Beija-Flor revoltados, pois, enquanto a maioria das Escolas começou a produzir suas fantasias em setembro, a agremiação de Nilópolis só apresentou seus protótipos no fim de novembro. Ao jornal, Maria Augusta se defendeu dizendo: “Criei 54 protótipos para 40 alas e por isso demorei um pouco para entregá-los, mas o trabalho ganhou em qualidade”. É fato que as fantasias estavam maravilhosas como é o padrão da agremiação até hoje. Outra dificuldade para a carnavalesca foi não fugir muito da característica da escola, acostumada com a grandiosidade de alegorias e fantasias. Para Maria Augusta, as escolas deviam desfilar sem alegoria, só com fantasia, diz a matéria. Será que ela ainda pensa assim?

À época,a carnavalesca também fez uma declaração que gerou polêmica: segundo ela, Joãosinho Trinta não fez os carnavais da Beija-Flor sozinho. Justificou: disse que o carnavalesco deu uma identidade ao carnaval da azul e branco de Nilópolis, e que foi importante também no Salgueiro, mas ninguém faz um espetáculo desse sozinho (em matéria publicada em fevereiro de 1993, também do Jornal O Globo).

O desfile também marcou a estréia do casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Edmar e Juju Maravilha, que no ano anterior defendeu(com nota máxima) o pavilhão da Unidos da Tijuca, alcançando as mesmas notas 10,0 de todos os jurados em 93.

Outro que fez parte do time da escola de Nilópolis neste ano foi o Mestre Odilon, comandando abateria. Com a marcante ousadia de Odilon, os ritmistas fizeram “perguntas e respostas” entre surdos de terceira e tamborins, e deram um show na passarela. Em termos de fantasia, a carnavalesca Maria Augusta teve a brilhante idéia de colocar as cores do arco-íris na vestimenta da bateria e inovou, colorindo igualmente os invólucros dos instrumentos.

Os quinze componentes da Comissão de Frente também vieram de arco-íris. Segundo Maria Augusta, a Comissão de Frente infanto-juvenil, chamada de “Os mensageiros do Cosmo – O Homem que harmonizou a Bipolaridade, o Sol e a Lua”, iria sintetizar o enredo e abriria a alegria da escola. Pontuação máxima: três notas 10,0.

Beija-Flor Desfile 1993 – Foto: Wigder Frota

Vale a pena ver: Alexandre Frota, novinho, vestido de criancinha, em cima do carro alegórico.

A Escola entrou na Avenida com 4500 componentes, divididos em 47 alas e 12 alegorias. Com samba-enredo de autoria de Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca, interpretado pelo grande Luiz Antônio Feliciano Marcondes, mais conhecido como Neguinho da Beija-Flor, a agremiação fez o couro comer na Sapucaí.

Algumas notas atribuídas na avaliação dos jurados ao desfile:
Alegorias e adereços: 10,0 – 9,5 – 9,5 / Enredo: 10,0 – 10,0 – 10,0 / Fantasias: 10,0 – 9,0 – 10,0 / Samba enredo: 10,0 – 9,5 – 10,0. Vale lembrar que, à época, o desconto das notas era sempre “redondo”, sem décimos quebrados: 10,0, 9,5, 9,0, 8,5, e assim por diante.

O registro em vídeo do desfile:
https://www.youtube.com/watch?v=52DhlYERLXw

A letra do samba:
Uni-duni-tê
Vem ver o sol no amanhecer
A Beija-Flor escolheu é você
Se a vida é uma volta na lembrança
Uma roda de esperança
Espalhando amor no ar,
Liberte de seu peito essa criança
Dê as mãos na contradança
Vamos juntos cirandar

Nosso pique-fantasia
Vai brincando pela rua
E o anoitecer do dia
Vê o sol beijando a lua

Vai, criança beija-flor
Voar no azul do infinito
Quem semeia paz e amor …
Faz o mundo mais bonito
Se esta via fosse minha
Eu mandava ela brilhar

Com as cores do meu mundo de alegria
Só pro tempo não parar

Gira, meu mundo pião
De listras brancas e azuis
E vai bordando no chão
Um arco-íris de luz

 

Por: Claudio Rocha e Gabriel Cardoso

2 comentários

  1. Que trabalho de pesquisa INCRÍVEL!! Parabéns Carnavalizados!! Adorei! Vou acompanhar toda série!!!

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