Foto: Carnavalizados

E a magia da sorte chegou

A relação entre o sorteio da ordem dos desfiles e o resultado do carnaval

No último dia 15, durante a Carnavália Sambacon, foi decidida a ordem dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial para o Carnaval 2018. O sorteio sempre é rodeado de especulações, euforia, mas principalmente, de superstições. Todas as agremiações vão ao sorteio na esperança de desfilarem na segunda-feira; as superpotências disputam o encerramento (a última escola a desfilar) das noites de domingo e segunda; leva-se em conta o lado de concentração da agremiação (que também é definido pela posição de desfile), além do horário da apresentação. Mas será que tudo isso tem algum fundamento?

Os dados parecem mostrar que sim. O consenso sobre a preferência pela segunda-feira vem do número de vitórias das agremiações na segunda noite de desfiles – desde 1984, quando se dividiu a apresentação em dois dias, foram sete vitórias no domingo contra 29 na segunda-feira – mas vai para além disso. Os números são impressionantes: em 34 anos de sambódromo, apenas em 2011, ano do incêndio da Cidade do Samba, que as colocações das agremiações que desfilaram no primeiro dia foram, em média, melhores do que as que se apresentaram no segundo dia. E quando o assunto é as seis primeiras colocadas, a disparidade continua: são 85 melhores colocadas no domingo contra 119 na segunda-feira. Para ter uma noção, só no ano de 2000, cinco das seis primeiras colocadas desfilaram na segunda noite.

Na parte de baixo da tabela outros fatos que comprovam essa teoria mística: Em 23 dos 34 carnavais do Sambódromo, a agremiação que abriu os desfiles no domingo foi a última colocada e em apenas 3 ocasiões a pior classificada desfilou na segunda-feira (nesses casos tratavam-se de agremiações que haviam ascendido no ano anterior). Coincidentemente ou não, nos anos de 2005 e 2006, únicas ocasiões em que a ordem de desfile foi completamente definida por sorteio, as escolas que abriram o espetáculo não foram rebaixadas.

Foto: Carnavalizados

E ao longo de todos estes anos, algumas agremiações se deram “melhor” que outras no quesito sorte. A Imperatriz Leopoldinense, por exemplo, é a que mais desfilou na segunda-feira, indo, em 2018, para sua 23ª participação neste dia, contra apenas 12 no domingo. Já o Salgueiro, que no próximo carnaval também se apresentará na última noite, é a agremiação mais “azarada”, já que esta será apenas sua 11ª participação no dia mais nobre, contra 24 no domingo. Mas, por outro lado, uma certa agremiação, que desfilará na primeira noite, tem as estatísticas a seu favor: a Mocidade, escola que mais vezes foi campeã no domingo, em 1985 e 1996. Enquanto isso, a Vila Isabel será a terceira escola de domingo, uma posição que o seu carnavalesco, Paulo Barros, está mais do que acostumado, já que nesta posição seu trabalho foi apresentado em 5 ocasiões, incluindo seu campeonato de 2010 com o enredo “É Segredo”.

Durante essas mais de três décadas, o número de agremiações no Grupo Especial variou muito – chegando a 18 escolas por ano em três ocasiões – assim como as regras que definem a posição daquelas que não entrariam no sorteio por estarem ascendendo à primeira divisão. Para se ter ideia, o ato de encerrar os desfiles, que hoje é exaltado, já foi espécie de “castigo” para quem subia do segundo grupo, como ocorreu em 1995, quando a Unidos de Villa Rica encerrou o carnaval. Todas essas variantes podem embolar os resultados de uma pesquisa matemática, por isso, foram também avaliados, em separado, os anos que seguem o molde a que estamos acostumados (e para o qual devemos voltar em 2018): 12 agremiações, seis em cada dia, com a campeã da Série A abrindo o domingo e a 11ª colocada do Especial abrindo a segunda. E os oito anos deste modelo revelam que a “melhor” posição de desfile é encerrar a segunda-feira, posição ocupada pela Beija-Flor em 2018, escola que traz outra marca expressiva: em sete das últimas 8 ocasiões em que a escola de Nilópolis desfilou segunda-feira, ela sagrou-se campeã. Já a pior posição sorteada de desfile do mesmo período é a 4ª escola de domingo, ocupada em 2018 pelo Paraíso do Tuiuti, após trocar com a Mocidade.

Todos estes números abordam diferentes períodos do carnaval, distintas fases das agremiações, em números expressivos, mas que também podem não significar nada, ou quase. A questão é que, sendo mero folclore ou não, os números servem de embasamento para quem acredita e acendem a discussão sobre a ordem dos desfiles, se todas as escolas deveriam entrar no sorteio, se o correto seria proibir a troca de posição entre agremiações ou se do jeito que está é justo. E você, qual sua posição?

 

Tiago Ribeiro é pesquisador de carnaval e jornalista

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