Diretores da Supersom junto com o Mestre Ricardinho - Foto: Gabriel Cardoso

O que é (e como funciona) uma diretoria de bateria?

Ricardinho Pereira e Gilmar Cunha têm muitas coisas em comum. Ambos são mestres de bateria de escolas de samba tradicionais do Rio de Janeiro — da Paraíso do Tuiuti e do Império Serrano, respectivamente —, já ganharam prêmios, já atingiram a nota máxima do quesito Bateria (os tão sonhados 40,0 pontos), e vão desfilar na elite do Carnaval no próximo domingo, dia 11. Mas, além de tudo isso, ainda há mais uma coincidência entre os dois comandantes: eles não conquistaram nada disso sozinhos. Por trás de todas essas vitórias há uma equipe. Uma família. Um time chamado Direção de Bateria.

Uma galera escolhida a dedo, selecionada com o objetivo de dar mais qualidade ao trabalho. Você já deve ter notado pelo meio das baterias das escolas de samba um monte de homens e mulheres — muitos deles bem jovens — pulando, gritando, gesticulando, correndo de um lado para o outro e fazendo sinais. Uma galera incansável e dedicada que, para o comandante da Supersom, Ricardinho, faz todo o trabalho e é pouco reconhecida. “Por muitas vezes, o mestre é só um fantoche. Porque no desfile, a gente fica lá na frente dando comandos e recebe a nota no final, mas quem trabalha são os diretores. São eles que fazem a orientação dos sinais, corrigem posicionamento de ritmista, acalmam a galera num momento de tensão, caso alguma coisa não esteja dando tão certo. Eles estão em contato direto com os ritmistas, principalmente na parte da cozinha.”

“O diretor trabalha e se dedica até mais do que o próprio mestre em determinados períodos”, afirma mestre Gilmar. “E sempre quem leva o crédito é o mestre. Por isso, ser mestre de bateria é muito complicado, porque você toma a glória do que um diretor pode ter feito. Você escuta uma bossa sensacional na Avenida e às vezes quem a elaborou não foi nem o mestre, foi o diretor dele. Essa é uma vaidade que não pode existir, e mesmo assim existe muita briga por causa disso. O papel e o dever do mestre é exaltar aqueles que trabalham com ele. Quando ganha um prêmio, quando tem um bom cachê, quando chamam pra outra escola. Ele sai, mas indica o cara que pode lhe substituir e os caras que devem ir com ele pro outro desafio.”

Gilmar foi o surdo de 3ª microfonado da Sinfônica por muitos anos, até tornar-se diretor do mestre da época, Átila, que atualmente comanda a bateria da Acadêmicos do Sossego. Quando Átila se desligou, a direção da agremiação convidou Gilmar para assumir. O atual mestre da Serrinha afirma que esse é o percurso normal. “É muito difícil um ritmista virar mestre de bateria. Quando um mestre se desliga, a direção da escola ou traz algum outro mestre de fora pra assumir ou puxa alguém da diretoria da própria agremiação que esteja apto. É uma hierarquia. Eu passei por isso. E o fato de você vir como ritmista e diretor te ajuda a conhecer todas as fases, te ensina a saber respeitar cada um, seu papel e sua função.”

Tanto para o mestre da Sinfônica quanto para o mestre da Supersom não existe o “eu”; apenas “nós”.

“Eu não consigo ditar nada naquela bateria sozinho”, admite Gilmar Cunha. “O comando sai de mim, mas quem executa são os diretores. Eu só preciso mostrar que sou muito grato a cada um deles. Todos eles desempenham seu papel muito bem, e às vezes eu nem preciso falar nada, eles já fazem direto. Tem vezes que eu chego ao ensaio só pra levantar a mão, porque quem já fez tudo até a hora de eu chegar foram eles. Eu dependo 100% deles. Mas também preciso ser sempre o primeiro a segurar a alça do caixão quando surge algum problema.”

O diretor Felipe D’Lelis (à frente, de verde) comanda o ensaio nos fundos da quadra do Império – Foto: Gabriel Cardoso

Ricardinho, que já foi diretor de tamborins da Unidos da Tijuca, afirma que é preciso dar valor para o trabalho deles, pois, no futuro, serão eles os próximos mestres de bateria. E respeitando e dividindo o mérito com quem merece, ensina-os a reproduzir a filosofia de trabalho e a obter sucesso em seus próximos desafios.

“Vários diretores, inclusive, já são mestres de bateria em outras escolas. Então, o trabalho que a gente faz aqui acaba servindo pra eles também, onde aprendem as coisas num lugar maior. Onde a fogueira de vaidades é maior. O importante é dar todo o suporte e toda a valorização pra que cada um consiga tirar proveito e aprenda coisas pra aplicar nos seus trabalhos. Até mesmo me observando, que sou um pouco mais velho, em questão de liderança, de gestão. Sempre que possível estou presente e procurando prestigiar. No desfile eu estou lá pra dar aquela orientada. Eles sentem mais segurança por estar com uma pessoa mais experiente do lado.”

No caso da Tuiuti, cinco diretores já são mestres em outras agremiações: Polinho (Unidos do Cabuçu, Grupo B), Laion (Acadêmicos do Engenho da Rainha, Grupo B), Luigui (Unidos da Ponte, Grupo B), Denílson (Jacarezinho, Grupo B) e Rodrigo (Manguinhos, Grupo E). Luis Claudio, o “Polinho”, que comanda a Cabuçu, afirma que o nível das baterias dos grupos que desfilam na Intendente Magalhães é altíssimo, uma vez que a maioria dos mestres vem da diretoria das escolas do Grupo Especial. “Isso é muito comum, os diretores do Especial serem mestres nos grupos B, C e por aí vai. Tudo que aprendemos aqui é pra levar pra lá [para a Intendente]. Levamos um trabalho de nível especial pra elas [as baterias], isso as deixa com muito mais qualidade.”

Braço direito do mestre Ricardinho, Polinho conta que é os olhos do mestre dentro da bateria: “o que ele passa pra mim, eu passo para os demais, e vice versa. Estou nessa posição por mérito e amizade, estamos juntos há muitos anos e ele me chamou por confiar no meu trabalho. Hoje, ele já ouve mais a mim e aos diretores do que as próprias ideias”, conta o diretor, rindo.

Laion Arc é outro que divide as funções: é diretor da cozinha da Supersom, e é mestre do Acadêmicos do Engenho da Rainha. Aos 25 anos, o jovem comandante — que conquistou a nota 40,0 em 2017 — conta que conseguiu levar para o Engenho da Rainha muito daquilo que aprendeu em São Cristóvão. “Às vezes você acaba se precipitando demais e precisa voltar atrás. E aí, pensa: ‘por que no Tuiuti eu dou ideias claras e objetivas e na Rainha eu extrapolo e faço coisas mais complicadas?’. Eu preciso levar experiências de um trabalho mais maduro para o meu trabalho novo pra não errar. Eu podia querer inventar por ser o mestre, mas eu tive a oportunidade de aprender com gente que tem currículo. E muita coisa que aprendo aqui, eu coloco lá. É importante pro meu trabalho e pra minha carreira. E ter meus diretores comigo, meus amigos e pessoas competentes, me ajuda a não ficar saturado, cheio de coisas pra resolver sozinho.”

 

O que faz um diretor? E o que um diretor faz?

Negão é o diretor responsável pela manutenção dos instrumentos da bateria do Tuiuti – Foto: Gabriel Cardoso

Montar um time de diretoria não é das tarefas mais simples. Quase sempre, o mestre leva seus próprios diretores consigo, na hora de começar um novo projeto. Em muitas ocasiões também, ele não pode levar todos, pois a agremiação possui seus próprios diretores fixos, que permanecem mesmo com o desligamento dos comandantes. Também não há um número mínimo, nem máximo — tampouco ideal — de diretores que um mestre de bateria precisa ter em seu auxílio para fazer um bom trabalho.

Diretor da bateria do Império Serrano há dezesseis anos, Felipe D’Lelis conta, inclusive, que já viu a Sinfônica com 15 mestres e apenas seis diretores. “Tivemos seis diretores quando reeditamos Aquarela [2004], mas eram seis diretores fora de série. E tivemos 15 mestres em 2003, quando nosso mestre de bateria da época [Mestre Macarrão] veio a falecer. E o Átila, que viria a assumir, optou por criar uma comissão de bateria, porque queria ser justo. Por ter um coração maior que ele e por respeitar os remanescentes da diretoria do Macarrão. Mesmo assim, hoje temos o habitual e dá certo, apenas um líder e seus 14 auxiliares.”

Assim como no Império, o Tuiuti também dispõe de 14 diretores na equipe do mestre Ricardinho. Contudo, independente do número, ser diretor requer muitas atribuições e capacidades. “O que faz um diretor, o que o faz tornar-se diretor: ele ser um líder”, define Ricardinho. “Não adianta apenas saber tocar, tem que ter gestão de liderança, ser receptivo, saber lidar com as pessoas. Precisa ser político, saber a hora de falar, saber a hora de cobrar. Então se a pessoa vem de fora pra tocar e é destratada por um diretor, fatalmente essa pessoa não vai voltar mais. Então o diretor tem que tratar com carinho, cobrar dele horário e comprometimento com respeito.”

Ricardinho destaca também a importância do conhecimento técnico do instrumento pelo qual o diretor será responsável, além da boa relação com o mestre, fator considerado imprescindível. “Não dá pra colocar um garoto na direção de cuíca se ele não sabe tocar direito, nem colocá-lo pra dirigir o repique se ele não domina o instrumento. Da mesma forma que não dá pra trabalhar com um diretor com o qual você não tem uma amizade. O trabalho não flui.”

Mas o que, em linhas gerais, um diretor de bateria faz? Polinho explica: “Em linhas gerais, a função do diretor é ajudar o mestre a formar o trabalho. Cada um tem uma função aqui dentro. Ajeitar os instrumentos, chegar cedinho pra deixar tudo arrumado e afinado. Reunir e convocar os ritmistas para os eventos. E dar uma brincada em cima do palco, né? Mostrar o trabalho”.

O diretor de caixas, Carlos — conhecido carinhosamente como “Feijão” — afirma que os diretores também são responsáveis por orientar os ritmistas, ajudá-los a aprimorar a forma de tocar e até mesmo buscar outros ritmistas que possam somar na qualidade do trabalho. “Eu tenho uma relação muito boa com o Casão [Mestre Casagrande, da Unidos da Tijuca]. Sou ritmista da bateria dele, inclusive. Nós nos ajudamos muito, ele arruma caixeiros pra mim e eu arrumo caixeiros pra ele. Nenhuma bateria tem 100% do seu contingente de casa. Aqui no Tuiuti a gente tem as marcações praticamente todas da comunidade, mas é um naipe só em muitos.”

Outra atribuição dos diretores é um tanto quanto ingrata: sendo responsável pelos ritmistas e pela evolução do trabalho deles, bem como por convidar outros, o diretor também tem a incumbência de cortar alguns instrumentistas que não estão rendendo de acordo com o esperado. Durante o ensaio da Paraíso do Tuiuti, que acontece todas as segundas-feiras, em São Cristóvão, Feijão levou um papo muito franco sobre o assunto com seus caixeiros: “Eu não quero ter que cortar ninguém, galera, então vamos acertar. Com calma. Direito. Cadência em frente, no nosso ritmo. Beleza? Vocês sabem da seriedade desse trabalho. Se não aprender a batida, não vai adiantar nada.”

O diretor de caixa, Feijão, orientando os ritmistas – Foto: Gabriel Cardoso

O diretor começou a prática com as caixas 40 minutos antes do ensaio geral. No fim da noite, ainda conversou por alguns minutos com cada um deles, dando orientações sobre o que viu e o que precisava ser corrigido. “Eu sou responsável por disciplinar esses ritmistas. Fui ensinado pelo Claudinho [ex-mestre do Paraíso do Tuiuti] a ter disciplina. Entrar na quadra sabendo que aquilo é um trabalho sério e que se esse trabalho não está sendo feito, é preciso tomar uma atitude. São em torno de 80 caixeiros, tocando em cima e embaixo. Eu preciso ouvir um por um pra ver quem está bem e que está errando. E eu os ajudo a tocar de forma correta, a limpar a batida. Se não demonstrar evolução e tiver que cortar, corta. Dói. Dói muito. Mas corta.”

Na hora do ensaio geral, assim como no desfile na Sapucaí, é preciso ter muita organização. Nesse ponto, os diretores também são fundamentais. “Também auxiliamos o mestre na condução”, afirma Feijão. “A gente organiza a diretoria dentro da bateria. Não é uma norma, cada uma tem seu jeito, mas aqui nós usamos a técnica do ‘garfo’, que é bem comum e uma das mais usadas: fazemos um corredor no meio da bateria e alguns de nós ficam nesse corredor. Outros ficam pelo meio das fileiras. Isso nos ajuda a prestar atenção em tudo, ajuda na nossa comunicação na hora de virar pra primeira, virar pra segunda, fazer bossa. E não deixa atravessar.”

A organização dos diretores dentro da bateria também propicia que cada um deles acabe ficando responsável por um naipe de instrumentos, uma separação muito comum no mundo do samba. “A diretoria de naipe especificamente também ajuda no trabalho. É o cara que decide se vai fazer um desenho ou não no tamborim, se o chocalho vai interagir em determinada bossa ou não. Até as nossas cuícas estão vindo desenhadas pra 2018, graças ao trabalho da direção de bateria. É importante ter diretores competentes que façam um trabalho acontecer”, explica o mestre Ricardinho. Além daqueles que cuidam dos naipes, ainda há funções mais específicas dentro da direção.

No Império Serrano, há diretores administrativos, que cuidam de fantasias, numeração e controle dos ritmistas, e há diretores de cuidados mais específicos dentro da bateria, como é o caso de João Império que, há quase quinze anos, é o diretor de manutenção e afinação dos instrumentos da Sinfônica.

A bateria do Império Serrano possui diretores para cuidar da parte administrativa – Foto: Gabriel Cardoso

“Eu tenho uma dificuldade aqui, porque os instrumentos são muito velhos. Alguns estão na UTI”, brinca João. “Então a manutenção tem que ser feita o tempo todo, com muito cuidado. Se eu errar, eu comprometo o trabalho dos outros diretores e dos ritmistas.”

“Cada um sabe muito bem da sua função aqui dentro”, analisa o diretor de caixa, Felipe D’Lelis. “O Gilmar só pode cobrar excelência dos meus caixeiros se eu tiver os instrumentos adequados ou em bom estado. Isso eu cobro do João. Ele que é nosso diretor de manutenção. Eu cobro dele, não cobro do Gilmar. E é assim com todos os outros diretores. A Fabi [Fabiane Brum, a diretora de chocalho], por exemplo, cuida do chocalho. E ponto. Eu não me meto no chocalho dela. Ninguém se mete. Além da hierarquia, também existe um respeito muito grande, ninguém vai tentar consertar alguma coisa que está acontecendo com a caixa, porque é minha. Organizado assim, tudo funciona. O nosso piano já foi bem mais pesado. Hoje a gente carrega flauta.”

Fabi “Gaúcha”, a primeira diretora mulher da bateria do Império Serrano, diz que essa é uma forma de respeitar o trabalho do outro diretor. “O que não impede os outros de opinar, sempre rola uma interação nossa. Depois do ensaio, nós ficamos mais 10, 15 minutos conversando pra acertar algumas coisas. Mas um não se meter no trabalho do outro mostra para os ritmistas que há um comando aqui dentro.”

 

Sou todo ouvidos!

O mestre da Supersom e seus diretores coordenando os ritmistas da bateria – Foto: Gabriel Cardoso

Muitos diretores também costumam trazer para si a responsabilidade de buscar novas formas de tocar, de consertar, e de outras melhorias de um modo geral para a bateria. O mestre da Paraíso do Tuiuti, Ricardinho Pereira, inclusive, afirma que nem mete a mão em muitas coisas que são feitas na Supersom. “Apesar de eu ser o mestre, a afinação fica na mão do Polinho, por exemplo. A palavra final é a dele. O Laion é o cara que sempre traz as bossas e novidades do repique, eu só tenho que segurar alguns devaneios devido à idade. Os desenhos dos instrumentos são decididos em conjunto, temos um grupo onde nos falamos diariamente pra arredondar tudo. A gente bota as ideias sempre na mesa e debate, porque é um trabalho pra bateria toda, não pode haver ego. O diretor de tamborim não pode fazer um desenho elaboradíssimo que não corresponda como gostaríamos. Então precisa mudar. E ele precisa entender que é um trabalho em conjunto e precisa ceder nesse aspecto. Mas cada um tem seu ponto mais forte e seu ponto mais fraco; eu estou ali pra administrar o conjunto da obra. Até mesmo esse ano, a gente tinha uma bossa que não estava legal e todo mundo meteu a mão nela pra trocar. Hoje achamos que é a nossa melhor.”

Feijão, o diretor de caixa, é bem direto na avaliação ao mestre: “Ricardinho não é um mestre cabeçudo. Ele nos escuta o tempo todo”. O diretor também admite que não possui o dom para criar as bossas, mas enaltece os companheiros que tem a capacidade. “Os meninos, o Laion, o Polinho, o Luigui, já chegam com ritmos antes mesmo de termos a letra do samba. Isso permite que treinemos alguns toques com antecedência pra nos preparar melhor. Fazemos isso, claro, num churrasco, tocando e bebendo nossa cerveja.”

Laion é a segunda pessoa da confiança de Ricardinho na criação das bossas, mas afirma que qualquer diretor pode chegar com suas ideias, desde que o mestre a abrace e a valide. E enaltece o caráter do comandante da Supersom, que procura ser justo e ouvir a todos. “O Ricardo é um pai pra todos nós. O que esse cara já fez pela gente, não tem preço. E graças a essa nossa amizade e ao nosso trabalho constante, ele confia bastante na gente. Aprendi muito com ele e hoje consigo suprir as expectativas dele na criação. Ele é certo e objetivo, não suporta coisas mirabolantes. A batida é mais tradicional. Ele não gosta de muita conversa, ele quer sempre ‘reto, chapado, a porrada comendo pra arquibancada vir ao delírio’.”

O mestre Gilmar Cunha também dá essa liberdade: “eles podem criar qualquer coisa, mas tudo depende da minha aprovação. Eles sabem muito bem a forma como eu trabalho. Respeitam ao máximo a minha liderança e, acima de tudo, os ritmistas. Eles sabem que se botar dedo na cara de alguém só por ser diretor, eu tiro”.

Felipe D’Lelis é um dos diretores que mais procura trazer novidades para a Sinfônica. De acordo com ele, isso foi fundamental para que a bateria da Serrinha pudesse enxergar “um mundo lá fora”.

Os diretores da Sinfônica – Foto: Gabriel Cardoso

“A bateria do Império mudou bastante. Ela sempre foi uma bateria mais tradicional e uma bateria muito fechada. Mas existia um mundo lá fora e muita coisa legal acontece nesse mundo. Temos que ser abertos ao conhecimento de fora. E eu, como diretor preciso estar sempre atento ao que pode ser interessante trazer e mudar. O Gilmar é nosso grande supervisor e ouve muito a gente. Nosso grande líder, o pensador da parada. Ele sabe mais do que ninguém o que fazer pela bateria do Império. Mas a gente sempre tenta contribuir, trazendo ideias novas, métodos novos e passando pra ele. E ele estuda aquilo e avalia se é aplicável ou não.

“Algumas coisas são impossíveis de mudar”, intervém João Império. “Não entra outro tipo de instrumento na nossa bateria, por exemplo. Tambor, atabaque, timbal, frigideira. Nada. Mesmo que o enredo peça, a gente monta bossas com os instrumentos que o Império tem. Até o repique mór eu já tentei trazer, por várias vezes, e o Gilmar não aceitou, por não querer quebrar a tradição. É repique de 12 [polegadas] e acabou.”

Na véspera do desfile e no dia da apresentação, a diretoria também cumpre outro de seus papeis: a de companheirismo.Com a ciência de que o trabalho está pronto para ser executado, os membros da direção se encarregam de deixar o mestre à vontade para que ele não tenha qualquer tipo de preocupação ao longo de todo o dia do desfile no Sambódromo. “Todo ano a gente faz o nosso encontro na Feira de São Cristóvão um dia antes do desfile”, conta Feijão. “Pra fazer nossa confraternização, nossa corrente. O dia em si é muito pesado. Então a gente tem que deixar o nosso mestre de bateria longe disso, pra ele não focar em problemas. O Ricardo não gosta de hotel. O nosso presidente [Renato Thor] sempre dá um hotel para os segmentos se concentrarem, mas ele não gosta. Ele gosta de ficar no canto dele, quietinho. E a gente pede pra ninguém ficar azucrinando, porque isso pode até prejudicar o trabalho. Deixem o homem fazer o que ele gosta: como ele fala, ‘tomar a cervejinha pra soltar a panturrilha’.”

Tem que respeitar os carregadores de piano do ritmo!

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