Tijuca com Aroma de Café – Império da Tijuca apresenta seu Enredo para o Carnaval 2019

Por: Ruan Rocha

Na noite de segunda-feira (18), em uma apresentação a compositores e à imprensa, a Império da Tijuca deu o pontapé inicial para o carnaval de 2019. Sob a supervisão atenta e participativa do presidente Marco Antônio Teles e capitaneada pelo carnavalesco, Jorge Caribé, a Escola do Morro da Formiga apresentou a equipe e o enredo que levará para a Avenida. Uma homenagem à história e pluralidade do Vale do Café e seus 15 municípios, intitulada Império do Café, o Vale da Esperança. Um enredo cultural com o qual o time da verde e branco tijucana convida a comunidade a acreditar na força e capacidade da agremiação em disputar e conquistar o título.

No ano em que completará vinte anos como carnavalesco, Caribé contará com o apoio do figurinista Ney Junior e do pedagogo e historiador, Fernando Portugal, que assume a função de diretor cultural da Escola, com a responsabilidade pela pesquisa e desenvolvimento do enredo. Na direção de carnaval, Luan e Andrezinho ganham o reforço de Aílton Junior.

Carnavalesco Jorge Caribé – Foto: Carnavalizados

Jorge Caribé projeta um grande carnaval, em que pretende apresentar ao público alegorias com muita arquitetura e uma comunidade bem vestida, com fantasias que promovam uma viagem no tempo, ao luxo proporcionado pela era de ouro do café. A história será contada a partir da vinda da corte imperial ao Brasil. Com a decadência da exploração do ouro nas Minas Gerais o futuro passa a ser o ouro verde no Vale do Paraíba. Essa fuga para o café povoa a região com seus barões e negros escravizados. Uma população negra que só aumenta com a importação de mais de 300 mil escravos para servirem de mão de obra nos cafezais e casarões. A escravidão não será apresentada, entretanto, pelo sofrimento dos negros, mas pela importância e riqueza cultural dos povos que fizeram florescer a diversidade brasileira. Uma verdadeira homenagem a “todos os negros que vivem dentro de nós”, ressalta Caribé. Para tal serão destacados alguns personagens negros que escreveram seu nome na história do Vale.

De tamanha diversidade surgiram muitos festejos interligando o candomblé à religião católica. O cortejo de festas negras atravessará a Passarela do samba nos braços de uma comunidade que tem o orgulho de defender enredos de temáticas africanas, raízes de sua existência. Com os sinais do tempo, “as terras que plantavam café, hoje plantam cultura”. Passado e presente irão se conjugar nos setores finais do desfile, mostrando ao público o rico potencial turístico, empresarial e da pecuária no Vale do Café. A história do Vale e do Morro da Formiga vão se entrelaçar ao longo da passagem da Escola. Caribé lembra que a floresta da Tijuca abrigou grandes cafezais, de modo que a quadra do Império remeterá a uma fazenda de café. E foi pelas mãos dos negros que a floresta foi replantada quando uma crise de abastecimento de água se abateu sobre a cidade. Nesse enredo “vamos falar de coisas nossas”, afirma o carnavalesco.

Para a realização do desfile, a Escola busca apoio na região. O presidente pretende se empenhar em apresentar o projeto nos municípios do Vale em busca de parcerias que possam suprir a crise que se abateu sobre o carnaval nos últimos anos. A indecisão quanto a futuros cortes de verba da prefeitura preocupam, mas serviram de estímulo para o desenvolvimento de um enredo capaz de conquistar diferentes tipos de apoiadores, públicos ou privados, vindos dos diversos municípios valorizados pela agremiação, sem abandonar a relevância cultural do tema escolhido.

Presidente Tê – Foto: Carnavalizados

Sobre o julgamento do desfile, o presidente Tê revelou ao Carnavalizados que a diretoria analisa as falhas apontadas no último carnaval para aprimorar o trabalho do próximo ano: “diretoria e harmonia vem trabalhando para sanar as falhas que os jurados pontuaram. Certamente não veremos problemas no carnaval de 2019. Vamos tentar resolver através das reuniões que estamos fazendo na nossa quadra”. Ao tratar dos possíveis patrocinadores, o presidente considera que possa captar apoio não só financeiro, mas através de materiais vindos da produção das cidades envolvidas: “o planejamento é feito sem que tenhamos nenhum apoio, mas no decorrer do ano o que nós formos conquistando vai melhorando cada vez mais o trabalho, o que vai resultar em um grande desfile. E vocês podem esperar um grande samba e um grande desfile”.

A partir do dia 05 de agosto a quadra do Império da Tijuca passa a abrir suas portas para o corte do samba. A escolha está prevista para o dia 06 de setembro.

Confira a sinopse:

“Império do Café, o Vale da Esperança”

Sinopse do enredo

Após longa travessia pelos oceanos, centenas de milhares de Africanos desembarcam nos Portos do Rio de Janeiro, Paraty, Mangaratiba e Cabo Frio. Seu destino, o Vale do Café Sul Fluminense. A pé, enfrentando todas as intempéries climáticas, marcham sobre sol e chuva, pés descalços e com fome, rumo ao grande Vale de terras férteis, verdes matas, mas também de dor e escravidão; lar de seus lamentos, sua labuta e saudade. Assim o negro chega ao Vale do Paraíba, posteriormente conhecido como o Vale do Café. Esse plantado e colhido por mãos escravas.

“O Nêgo tá cansado de trabaiá… Trabaia… Trabaia Nêgo…”

Graças a sua chegada e ao ouro negro por eles cultivado, nasce uma áurea e aristocrática sociedade escravagista com toda pompa, luxo e alta cultura, como deveria ser uma próspera sociedade nobiliárquica rural. O Vale é tomado por arte em forma de concertos, óperas, poesias, festas, ourivesaria, valsas, polcas, saraus… Corte; oriundos do escorrer do sangue vermelho/negro a banhar cafezal. Mas, assim como esta sociedade branca escravocrata introduzia em seus costumes a cultura europeia, o negro africano miscigenava sua herança cultural com a da nova terra…

“Foi na beira do rio, Aonde Oxum chorou… Chora iê iê ô, Chora os filhos seus…” (Ponto de
Oxum)

Assim brota a pluralidade que encontramos hoje em nosso Vale com ritmos sincopados em seus lundús, maxixes, jongos, figurinos multicores. Exú, Obaluaiyê, Ogum, Oxumarê, Iroko, Iansã, Xangô, Obá, Oxóssi, Logun Edé, Ossain, Oxalá, Oxum, Yemanjá, Nanã, Ybeji, coloridas e poderosas divindades da natureza e a crença em ervas, rezas e benzedeiras, força da raça que não se deixou intimidar com a chibata algoz de seus senhores.

“Na hora em que a terra dorme,
enroladas em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céus…”
(Castro Alves)

O Vale se transformou… O cafezal virou cidade, a história e o turismo e a dor de outrora, poeira ao vento. A cultura se expande sobre a influência de imigrantes que vieram atrás do sonho dourado nas terras Sul Fluminense, pisando em chão negro e magicamente gerar filhos genuínos brasileiros, resultantes da mistura de raças. Nasce o novo dono do Vale… Sua arte é múltipla! Nela destacam-se o jongo, calango, maculelê, caninha verde, capoeira, sociedades musicais, Folias de Reis, viola sertaneja, choro, serestas, orquestras, balé, canto lírico, artes plásticas e o samba onde sua origem se dá nos Quilombos das Serras Fluminenses e cantado por sua filha maior, Clementina de Jesus.

“Não cadeia Clementina… Fui feita pra vadiá…” ( Clementina de Jesus)

O artesanato e a culinária somados a todas essas manifestações artísticas e folclóricas atraem turistas do mundo inteiro, gerando renda e progresso. Na religiosidade encontramos as quermesses e novenas dedicadas aos Padroeiros de cada Altar Matriz com seus belíssimos jardins aos pés. N. S. da Conceição, N. S. da Guia, N. S. da Glória, São
Sebastião, N. S. da Piedade, Santa Teresa D’Ávila, Santana, N. S. da Soledade, São Pedro e São Paulo, Santo Antônio e Santa Cruz, formam a Ciranda de fé que cada cidade ostenta como seus protetores. No entorno desses altares em ouro com seus anjos barrocos, os terreiros de Umbanda e Candomblé com seus pés descalços e o ocultismo místico, curam, rezam e Benzem ao som de atabaques e pontos mágicos; herança negra com seu sincretismo cultural.

“A Treze de Maio, Na Cova da Iria, No Céu Aparece, A Virgem Maria…” (Hino Católico)

Hoje o Vale é pecuário, agronegócio. Festa de Peão e rodeio. Muito do que consumimos nas grandes cidades foram sementes e embriões enraizados em pastagens que outrora, foram antigos cafezais. A indústria de minério, têxtil, automobilística, o comércio em grande escala fazem do Vale hoje, uma máquina próspera e de grande renda que emprega seus filhos e cria oportunidades de crescimento sócio urbano.

A educação é presente nas redes Municipais e Estaduais com ensino público de qualidade, assim como uma infinidade de escolas particulares com propostas educativas de grande relevância. Universidade e Faculdades são um capítulo à parte devido a infinidade de cursos oferecidos. No Vale encontramos o grande Hospital Escola Severino Sombra que atende toda a população não só da região como de vários municípios do Grande Rio.

O Vale possui a sua rede de TV própria que reflete ao mundo a beleza do Vale do Café, gerando
notícias e programas que mostram o seu povo com toda a sua diversidade cultural. A TV Rio Sul como
grande agente divulgador da cultura do Vale do Paraíba Sul Fluminense e Sul do Estado do Rio de
Janeiro.

Passando todos esses anos desde a chegada do negro em nossa região, a Império da Tijuca traz para a Avenida Marquês de Sapucaí esse lindo rosário de pérolas em que cada município do Vale do Café, colore sua conta com o que seu povo tem de mais puro e belo, o AMOR!

Jorge Caribé – Carnavalesco
Fernando A. Portugal – Diretor Cultural

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