Carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato - Foto: Divulgação

Confira a Sinopse do enredo da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025

A Unidos de Padre Miguel divulgou neste sábado, 25 de maio, a sinopse para o Carnaval de 2025, quando levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “EGBÉ IYÁ NASSÔ” que está sendo desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Lousada e Lucas Milato.
Durante os sábados de junho , os carnavalescos estarão à disposição dos poetas para tirar dúvidas acerca do enredo .
A entrega dos sambas está prevista para o dia 03 de agosto e o início da disputa no dia 18 de agosto.
Em 2025, a Unidos de Padre Miguel será a primeira escola a se apresentar no domingo de Carnaval, pelo Grupo Especial.

 

SINOPSE:

EGBÉ IYÁ NASSÔ

I
Agô!
É no sangue que corre a vida.
É o Axé que nos faz viver.
Orixá é cabeça da nossa força!
E do ventre da Iyá de todos nós, o Axé chegou de mãe para filha, de mãe para uma nação.
A Iyá que legou ao mundo o vermelho-sangue da fé de pretas e pretos que matiza nossa terra,
nossa Vila Vintém, nosso pavilhão.
Hoje, os tambores do samba ecoam a tradição oral e um chamado ancestral, conectando o
Orun dos Orixás às raízes profundas da vida Iorubá.
E, pela força do Axé, se levanta o Boi Vermelho em um cortejo mágico para buscar a
exuberância de reinos encantados, filhos do ventre sagrado de Ialorixás que pairam entre divindade
e humanidade e que se fundem na gênese da criação Nagô.
O vento, em seus sussurros, revela o resplandecer do vermelho ardente, enquanto grãos de
areia acariciam o solo, testemunhando passos que acalentam as almas. No céu, o orvalho se ergue
como lágrimas de gratidão em honra ao Alafin. Na corte do palácio, rainhas e princesas adornam o
Adê do Rei com sua preciosa beleza.

Kaô Kabecilê Xangô!
Em Oyó-Ilé, a majestade resplandecia, refletindo a força dos segredos guardados pelas Iyás.
Suas vidas eram devotadas ao bem, como uma poesia eterna entoada aos deuses. Os tesouros que
teceram o Adê de Xangô se espalhariam pelo Brasil, entrelaçando mistérios e ancestralidade.

II
Os raios de Oòrún e a luminosidade de Òsùpá testemunhavam os dias de esplendor e as
noites de glória que banhavam Oyó. Mas o horror dos ventos de imposta mudança soprou
impiedosamente com a fúria covarde de usurpadores, rasgando o tecido da existência do império.
No horizonte, uma travessia de dor, procissão ao desconhecido dos filhos e filhas que carregariam
o lume de outrora em seus corações.

Nas espumas do Atlântico, onde lágrimas se confundiram com ondas, a fé se ergueu como
velas a singrar os destinos através das águas turbulentas. O grivar daquelas velas destronadas de
Oyó apontava na direção de outros rumos. O legado de uma África ancestral, entrelaçado com a
coragem e determinação de uma princesa destemida, desembarcou nas terras sagradas de
Salvador. Seus passos trouxeram consigo lembranças, afetos, saberes. Pulsava em seu peito a
justiça e o Axé como um coração vibrante: Iyá Nassô, a filha de Oyó sob o Oxê de Xangô.
O tecido vermelho que outrora adornava o trono do Alafin não se esvaneceu. Iyá Nassô,
guardiã e herdeira do sagrado segredo do Axé, o trouxe consigo, erguendo das cinzas uma chama
ardente de esperança alimentada pela fé inabalável em seus Orixás, tornando-se um farol de
resistência e resiliência para todos os seus descendentes.

III
Pela Ladeira do Berquó, Iyá Nassô, ao lado de outras princesas, protegidas pela força
invencível de Ayrá Intilé, consagraram a luz da tradição nas imediações da Capela da Confraria de
Nossa Senhora da Barroquinha. A fé se enraizou. Xangô, com seu trovão e tempestade de justiça,
abençoou e guardou Iyá Nassô, tecendo um manto de proteção invisível, mas impenetrável.
E a resistência negra, nas vizinhanças católicas, se encontrou em irmandades, confrarias e
sociedades secretas de pretas e pretos que nunca esmoreceram. Firmado um elo com suas irmãs
de Ketu, Iyá Adetá e Iyá Akalá, e com a ajuda de outro venerável que permaneceu ao seu lado, Babá
Assiká, Iyá Nassô teria plantado o Axé, semeando a fé primordial e dando o sopro da vida ao
Candomblé no Brasil. Cada lágrima derramada foi uma prece silenciosa que ecoou pelos
corredores do tempo. Entre os sussurros das noites escuras e os murmúrios dos dias sufocantes,
as sementes dos Orixás foram abençoadas no solo brasileiro, carregadas de esperança e coragem.

Sementes que, nutridas pela determinação e regadas pelo suor da devoção, começaram a
germinar. Cada cântico entoado, cada tambor ressoado e cada ritual celebrado foi um ato de fé que
fortaleceu as raízes dessa árvore sagrada. Nos arredores da Barroquinha, o Ilê Iyá Omi Axé Ayrá Intilé
se enraizou como um bastião de esperança, uma fortaleza espiritual construída com os tijolos da
ancestralidade e o cimento da união de todas as nações.

Ayrá Ponon Opukodê!
No solo abençoado, onde a dor se transformou em força e a opressão se converteu em
resistência, a semente dos Orixás começou a florescer. As folhas de seus ramos abrigaram os filhos
e filhas da diáspora, oferecendo sombra e consolo.
IV
Todavia, o preconceito, como uma doença, sempre estava à espreita, impregnando os ares
com intolerância. As religiões ancestrais, vivas nas almas dos negros e negras, eram vistas com
desdém pelos olhos cegos de brancos indoutos e desprezíveis. Diante da injustiça e pela luta, o
brado dos revoltosos! O grito dos Imalês ecoou pela noite, marcando profundamente o coração
maternal de Iyá Nassô.

Tendo os filhos perseguidos após a Revolta dos Malês, por professarem sua fé à Xangô, Iyá
Nassô, com a bravura destemida do machado de seu Orixá, interveio bravamente por seus filhos e
converteu a prisão deles em um retorno à África.
Assim, para sua terra ela voltou, levando consigo sua família, de sangue e de santo,
sacramentando a liberdade dos filhos e buscando mais aprendizados sobre a tradição dos rituais
dos Orixás, sua força vital.

Aqui, a semente plantada com tanto sacrifício permaneceu. Essa semente, enterrada no solo
fértil da Bahia de Todos os Santos, guardou a promessa de renascimento e resistência, mistério de
vida eterno que continuou a penetrar cada vez mais fundo no solo, mantendo viva a chama da
ancestralidade.
V
Anos depois, o mar, testemunha viva de idas e vindas, trouxe então de volta de Uidá a
sucessora filha-de-santo daquela que plantou a semente no solo baiano. Marcelina Obatossi
sentou-se no trono de Xangô, dando continuidade ao legado matriarcal de Iyá Nassô, que
ancestralizou em África. Obatossi, em seu caminhar, soprou a liberdade para o babalaô Bamboxê
Obitikô, guardião dos segredos de Ifá e do Xirê, ancestrais que regaram o Axé plantado pela Mãe de
Todos.

O terreiro foi consagrado com seu nome, agora em outra encosta, em outro morro de fé.
Reergueu-se como Ilê Axé Iyá Nassô Oká, considerado o mais antigo terreiro de Candomblé do
Brasil, com a Casa para Xangô, o terreno para Oxóssi e o Axé de Oxum, a tríade que compõe seus
alicerces. Foi na Casa Branca do Engenho Velho, com os assentamentos de Ayrá e de Oxóssi vindos
da Barroquinha, que o Axé encontrou refúgio definitivo sob a Coroa assentada de Xangô, um
santuário construído com as mãos calejadas da fé, à sombra do Bambuzal sagrado de Dankô e no
acalanto das águas de Oxum. Uma Casa onde Oríkì’s sagrados ecoam pelos corredores.

De lá, as sementes continuaram a se espalhar pelo Brasil, pelo Rio de Janeiro e pela Vila
Vintém, e as festas do calendário espiritual da Casa são a presença viva do matriarcado de Iyá
Nassô.

VI
No próximo carnaval, essa semente dará muitos frutos em forma de homenagem àquela que
é considerada a Iyá de todos os Ilês, a Mãe de todos os terreiros. Que sua história seja contada e
celebrada com alegria, pois seu legado vive em cada toque dos atabaques, em cada dança sagrada,
em cada gesto de devoção aos Orixás. Que sua luz continue a guiar os passos daqueles que buscam
a verdadeira essência da fé e da ancestralidade.

A comunidade vai cantar o pertencimento ao Egbé Iyá Nassô. Unidos, celebraremos a força
que nos guia, mantendo viva a chama do Axé e honrando o legado eterno de nossas raízes. O espírito
de Iyá Nassô até hoje floresce em cada canto, fazendo ecoar a união que reverbera através dos
tempos.

Assim, hoje o Egbé Vila Vintém bate seus tambores.
Somos mais uma Pequena África.
Somos mais um terreiro sagrado de Samba.
Somos o cortejo de um povo feliz.
Somos mais uma nação orgulhosa nascida do ventre do Axé.
Somos filhos e filhas das Mães Baianas.
Somos descendentes de Iyá Nassô e do machado da justiça de Xangô.
Somos Unidos nas cores das Áfricas e do nosso Orixá.
Somos o Branco de Ayrá Intilé e o Vermelho de Xangô.
Somos o Boi Vermelho que humildemente bate cabeça em reverência ao Ilê Axé Iyá Nassô
Oká.
Somos parte de uma comunidade de fé.
Aguerridos, somos Egbé Iyá Nassô.

Carnavalescos: Alexandre Louzada e Lucas Milato
Enredistas: Clark Mangabeira e Victor Marques
Texto da Sinopse: Clark Mangabeira e Victor Marques
Gratidão e devoção sempre à presença viva do Axé da tradição da Casa Branca do Engenho Velho,
que tanto nos ensinou e ensina, e agradecimento pelo auxílio e colaboração mais do que especiais
da pesquisadora pós-doutora e Ekedy Lisa Earl Castillo.
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Glossário:
Egbé – comunidade
Agô – pedido de licença
Iyá – mãe
Orun – céu
Adê – coroa
Oòrún – sol
Òsùpá – lua
Oxê – machado de duas pontas, símbolo de Xangô
Oríkì’s – saudações aos Orixás e frases portadoras do Axé
Dankô- Orixá Senhor dos Grandes Bambuzais
Ayrá Ponon Opukodê – saudação: “Assim Ayrá ficará muito feliz”.
Kaô Kabecilê Xangô – saudação: “Venham saudar o Rei Xangô!”
Oyó-Ilé – capital do Império de Oyó.
Alafin – título do rei do Império de Oyó

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