Na madrugada deste domingo (22), a Unidos da Tijuca elegeu seu samba-enredo para o Carnaval 2025. Três composições estavam na competição do “Logun-Edé – Santo Menino Que Velho Respeita”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira, e o samba-enredo campeão foi o samba 16, que traz Anitta entre o time de compositores. Apesar da cantora não ter estado presente na final, sua contribuição foi muito celebrada pela comunidade do Borel.
Minha Sina é Recomeçar!
“Desfecho aberto, sabido e festejado; caminhada longa, árdua e doce. O samba escolhido para eternizar na esfera musical o tão desejado enredo sobre Logun-Edé, nas suas linhas e entrelinhas, versa muito sobre nós, Unidos da Tijuca, e a história que nos leva até o Orixá Menino.
Nossa gente operária dos Morros do Borel e da Casa Branca teve, desde sempre, a inovação na linhagem: fomos a primeira escola de samba a apresentar como trilha musical um samba-enredo, ou seja, um samba temático: também fomos pioneiros no uso das alegorias. Isso tudo nos longínquos anos 30, quando este carnaval que conhecemos hoje ainda era um embrião.
No avançar das décadas, esta senhora de 93 anos, entre altos e baixos, lágrimas e sorrisos, se transformou na escola dos jovens sambistas e talentos, inovando no campo das temáticas, da visualidade e da dança.
Passamos a ser reconhecidos como a Escola de Samba do público LGBTQIAP+, da inclusão e do acolhimento. O pavão, mimético ou em mosaico, passou a ser o arquétipo dessa nossa exuberância, desta jovialidade que coexiste com a antiguidade em nosso tempo quase secular.
Os enredos históricos ou voltados ao folclore e a antropologia nacional deram espaço para as tecnologias, para o cinema e uma contemporaneidade, até então, inéditas para a escola. Revolucionamos as Comissões de Frente e o fazer carnaval, voltando o cortejo para o público, imaginando um desfile que atingisse, frente a frente, a Marquês de Sapucaí.
E se, por ventura, carregamos o fardo do que se passou, saibam que se trata de mais um dos desafios que permearam a nossa história.
No vai e vem das coisas, na linha do tempo que nos atravessa, sempre estão pontuadas a mudança e a transformação. A Unidos da Tijuca de Oxum e Oxóssi, da antiguidade secular, é também a Unidos da Tijuca de Logun-Edé, que foi morar em nossa bandeira porque procura o colo de seus pais, porque está em sua essência a metamorfose, o não ter começo e nem fim, a migração e o recomeço.
Nosso samba, para além da narrativa interpretativa, transcende na construção das imagens de nós, que, por vezes, nem nós mesmos nos damos conta, como por exemplo, a dualidade e o fulgor que desafiam o consenso: tradicional ou transgressora? Técnica ou disruptiva? Dona da Terra ou Criadora de Sonhos? Quem é a Unidos da Tijuca?
A resposta segue o samba: Somos tudo o que aprendemos com tantos enredos, somos o todo que reunimos em tantos carnavais. Somos eterna busca pelo que virá, o dia que para sempre vai chegar. Nossa samba é o ponto cantado de Logun-Edé espelhado sobre a Unidos da Tijuca: é o antigo e o novo, é a nossa reza para iluminar com brilho imenso esse novo momento de transformação.
Vibrantes, confiantes e determinados vamos rumo a mais um renascimento, nessa nossa sina de sempre recomeçar”.
Para 2025 a Unidos da Tijuca terá como compositores Anitta, Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho e Diego Nicolau. Confira a letra:
Confira a letra do samba:
Reflete o espelho… Orisun
Nas águas de Oxum
À luz de Orunmilá
Magia que desaguou na ribeira
E fez o caçador se encantar
Sou eu, sou eu
Príncipe nascido desse grande amor
Herdeiro da bravura e da beleza
É da minha natureza a dualidade e o fulgor
De tudo que aprendi, o todo que reuni
Fez imbatível a força do meu axé
Com brilho imenso, desafio o consenso, inquieto e intenso
Sou Logum Edé
Oakofaê, odoiá
Oakofaê, desbravei o mar
Não ando sozinho montei no cavalo marinho
Abri caminho pro povo de Ijexá
E no rufar dos Ilus meu tambor
A fé no Kale Bokum assentou
A proteção de meus pais, ofás e abebés
Sou a Tijuca e seus candomblés
Um lindo leque se abriu, ori do meu pavilhão
Amarelo ouro e azul pavão
Orixá menino que velho respeita
Recebi sentença de pai Oxalá
Eu não descanso depois da missão cumprida
A minha sina é recomeçar
Logun edé
Logum arô
Logun edé loci loci Logun arô
A juventude do Borel
Desce o morro pra cantar em seu louvor