Unidos do Porto da Pedra

FICHA TÉCNICA

Presidente: Fábio Montibelo
Carnavalesco: Jaime Cezário
Diretor de Carnaval: Amauri de Oliveira
Diretor de Harmonia: Amauri de Oliveira
Intérprete: Luizinho Andanças
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Rodrigo França e Cynthia Santos
Mestre de Bateria:  Pablo
Rainha de Bateria: Kamila Reis
Comissão de Frente: Márcio Moura
Classificação em 2018: 3.° Lugar
Classificação em 2017: 5.º Lugar
Classificação em 2016: 5.º Lugar
Títulos: Especial: 0
Série A: 2 (1995, 2001)
Série B: 0
Enredo 2019: Antônio Pitanga, um negro em movimento

 

SINOPSE:

Apresentação da Sinopse

A maior festa da celebração popular é o nosso carnaval que ano após ano traz para as ruas e avenidas a alegria do nosso povo, que mesmo em momentos adversos busca energia para exorcizar as mazelas e celebrar a vida! Nesse cenário as Escolas de Samba sempre desempenharam um papel importante, utilizando seus desfiles para propagar ideias, resgatar histórias, levantar polêmicas e promover a cultura nacional.

A Porto da Pedra vem desde 2016, apresentando enredos que resgatam momentos e personagens da cultura nacional, histórias de fácil identificação e comunicação com o público. Nosso desejo sempre é de que pelo tempo que durar o desfile do Tigre de São Gonçalo, todos possam viver uma doce ilusão, se extasiando na emoção para guardá-las na memória, foi assim que, revivemos a alegria do Palhaço Carequinha, cantamos as hilárias Marchinhas de Carnaval e saudamos as eternas Rainhas do Rádio.

O tempo passou e temos a certeza de que o recado de felicidade foi bem dado. Nesses três anos, vimos a receptividade estampada nos olhos marejados e nos sorrisos de um público feliz. A melhor resposta de que o caminho está correto. Por isso, precisamos continuar buscando em nossa cultura fatos ou personagens que tenham representatividade popular para nossos enredos, afinal, o carnaval é do povo e para o povo!

Mergulhamos na busca dessa nova inspiração para manter acesa a chama da emoção. Foi revirando os livros da memória que encontramos um brasileiro de origem humilde, que nasceu na efervescente cidade de Salvador, na Bahia, no final da década de 30 e soube transformar a sua história. Ele buscou caminhos teoricamente mais difíceis, com grandes desafios e barreiras. Menino pobre de pele negra que encontrou nas artes cênicas sua vocação. Naquela época, atores eram marginalizados e o teatro e o cinema ainda não davam espaço para atores negros… Nesse cenário surge nosso homenageado: Antônio Luiz Sampaio, popularmente conhecido como “Antônio Pitanga”.
Antônio Pitanga é um ator intuitivo, vigoroso, desbravador social e cultural. Respeitador dos Movimentos Negros, mas que prefere se intitular como “um negro em movimento”, para ter a capacidade de pensar, avançar e recuar. Mandingueiro de essência fascina por sua vida e pela construção, através de seus personagens, do protagonismo do negro no cinema brasileiro. De operário à Cristo, Antônio, nosso cavaleiro de Ogum, abriu caminhos para o Cinema Novo. Mostrou ao longo de sua vida que o impossível não existe, basta querer e lutar de forma digna por seus objetivos. Uma vida construída pelos bons valores familiares que o alicerçou a transformar a sua realidade.

Homenagear esse singular artista, que marcou presença em terrenos tão díspares como o cinema novo, teatro de vanguarda paulista, as novelas de televisão, a militância política e as relações afro-brasileiras, é motivo de grande orgulho para a família Porto da Pedra. Vamos saudar este grande homem que está completando 80 anos, sendo sessenta deles dedicados a arte, um exemplo inspirador para um país que precisa de brasileiros que não se curvem as dificuldades e ao preconceito. Ele é a encarnação viva de um sonho feliz de país: miscigenado, livre e justo.
Antônio Pitanga, um negro em movimento!

Jaime Cezário
Carnavalesco

Sinopse setorizada

Ancestralidade Africana.

Nosso homenageado foi em busca de suas raízes ancestrais na Mãe África, e vai encontrá-la na região hoje conhecida como Benim, onde se localizava o antigo Reino de Daomé.

PRIMEIRO MOVIMENTO: Salvador

O primeiro Movimento do nosso enredo começa na cidade de Salvador, no final da década de 30, onde nasceu nosso homenageado Antônio Sampaio, em pleno Pelourinho. De origem humilde, sua mãe era filha de ex-escravos, mas com larga visão de futuro e fez questão de fazer despertar em todos os filhos a importância da educação e de se ter consciência político-social e assim, foi criado Antônio. O batismo foi na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, um marco da força de trabalhos dos negros em Salvador, que a construíram para driblar o preconceito e poderem frequentar. Esse menino pobre e de pele negra era um peralta que adorava uma briga, encontrou no jogo de capoeira uma forma de extravasar tanta energia. Sua mãe, sempre observadora e preocupada, quis logo dar uma boa direção ao pequeno Antônio. Assim o menino foi matriculado no Colégio Interno São Joaquim para estudar e aprender uma profissão. Aos dezessete anos, já formado, presta concurso para empresa inglesa Western de Correios passando a exercer a função de carteiro. Em paralelo deu continuidade aos estudos no Colégio Ipiranga para fazer o ginásio. Foi nesse período que seu lado “contador de histórias” e namorador afloraram ainda mais, seduzindo a todos. Esse perfil sedutor o fez aproximar do Terreiro do Gantois, atraído pelas belezas das filhas de santo e das festas com comida e bebida farta. Acabou desenvolvendo uma bela amizade com Mãe Menininha do Gantois, que se tornou uma amiga e conselheira. Nesse período, foi morar ao lado de uma escola de teatro chamado Clube de Fantoches Euterpe, e que vai fazer despertar todo o encanto pelas artes cênicas. O Clube era fechado para negros, mas Antônio adorava ficar vendo e ouvindo os ensaios do lado de fora, e com o tempo, fez amizades com os atores e que passaram a estimulá-lo a enveredar pela carreira de ator, convidando-o a participar de algumas encenações teatrais na periferia de Salvador. Todo esse convívio foi de suma importância para incentivar a fazer seu primeiro teste visando a participação em um filme e sua matricula na Escola de Teatro da Bahia. Fazendo a roda girar para o seu segundo movimento. O Cinema!

SEGUNDO MOVIMENTO: O Cinema.

O segundo movimento se inicia com Antônio Sampaio fazendo os testes e sendo aprovado para atuar no filme “Bahia de Todos os Santos”. Este filme fez parte do “fenômeno baiano” que marcou os primeiros cinco anos da década de 1960 do cinema brasileiro e foi considerado um precursor do cinema novo. Ele interpretou o personagem “Pitanga”, nome este que passou adotar a partir de então: Antônio Pitanga. Nas gravações deste filme ele conheceu Glauber Rocha que ficou impressionado com o vigor de sua interpretação, surgindo a partir de então, uma parceria que marcou o “Cinema Novo”. Antônio Pitanga, um ator negro fez algo inimaginável até aquele momento, o protagonismo em grandes e premiados filmes produzidos no Brasil. Desde a primeira produção do diretor Glauber Rocha – “Barravento” – Pitanga em toda sua carreira participou de mais de 70 filmes dos maiores diretores do nosso país. Os filmes possuíam uma mensagem político-social muito clara e mostrava a realidade nua e crua do nosso povo, dentre tantos, temos: “O Pagador de Promessa” ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, “Ganga Zumba”, “Quilombo”, “A Grande Feira”, “Lampião, Rei do Cangaço”, “Idade da Terra”, “Quando Carnaval chegar” e muitos outros. Reconhecido internacionalmente por suas interpretações, passou a ser convidado para representar o Brasil em diversos Festivais pelo mundo, se tornando uma espécie de “Embaixador do Novo Cinema Nacional”.

Pitanga com seu jeito vigoroso e contestador quebrou barreiras e transformou um universo até então, completamente fechado a essa possibilidade, descortinando para as Artes um novo momento: o reconhecimento do talento do ator negro. Nosso cavaleiro de Ogum, abriu caminhos para o negro no Cinema Nacional, mostrando que o impossível não existe, basta querer e lutar por seus objetivos e sonhos.

TERCEIRO MOVIMENTO: O Teatro e a Televisão.

Quando das gravações do seu primeiro filme “Bahia de todos os Santos” ouviu o seguinte conselho do seu futuro amigo Glauber Rocha: “Quer ser ator? Tem que fazer teatro!”. Esta recomendação e o apoio de Glauber, o levou a se matricular na Escola de Teatro da Bahia e expandir todo seu talento. Nessa fase baiana de sua carreira, participou de algumas peças que mexeram com as cabeças de uma classe artística emergente na efervescente Salvador, pois eram peças questionadoras que discutiam sobre o preconceito e problemas sociais, com destaque para “A Morte de Basie Smith” e “Chapetuba Futebol Clube”.

O seu talento rompeu as fronteiras regionais. Foi convidado a participar da peça o “O Poder Negro” no Teatro Oficina em São Paulo. A peça criticava o racismo e a violência das relações entre brancos e negros. Pitanga aceitou o desafio, participando desse momento que ficou conhecido como “Teatro de Vanguarda Paulista”. No meio de toda essa agitação cultural entre peças e filmes, nosso homenageado viveu um novo e especial momento em sua vida, a “Terra da Garoa” acertou em cheio o coração desse inveterado namorador, que abandonou os flertes e viveu uma linda história de amor, se casando com a modelo Vera Manhães.

No Rio de Janeiro, participou da peça “Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come” no Teatro Opinião, esta foi uma das peças que acabou se tornando um marco de resistência cultural ao Regime Militar. Outra importante participação foi no musical “Hair”, que narra a história de um grupo de jovens hippies que protestam contra a Guerra do Vietnã, defendem a paz e o amor livre. Um musical que se tornou uma bandeira dos pacifistas. Pitanga se integrou com facilidade a agitação cultural e política da classe artística carioca.

O Cinema em conjunto com o Teatro levou-o a uma nova vertente para a dramaturgia que despontava e que já começava a invadir todos os lares brasileiros na década de 60: a Televisão. Esse novo modismo chegou para ficar e inaugurou a fase das novelas que se tornou uma coqueluche para este país. Pitanga fez sua primeira participação pela TV Excelsior em São Paulo interpretando José do Patrocínio em “Sangue do meu Sangue”, a partir daí não mais parou. No Rio de Janeiro, ainda na década de 60, passou pela TV Rio e em 65 foi convidado para participar da fundação da TV Globo, onde fez inúmeras participações com personagens de grande sucesso. Uma carreira pautada em grandes atuações e sempre se movimentando ao longo de quase seis décadas, sempre estando e atuando onde seu coração de ator o levava para novos desafios.

QUARTO MOVIMENTO: Rio de Janeiro

O quarto e último movimento de nossa homenagem é a sua identificação com a Cidade Maravilhosa. Esse baiano mandingueiro com seu jeitão sedutor malandreado foi abraçado de tal forma por esta cidade que fez surgir em sua vida um novo caso de amor. Chegou na década de 60 e se encantou pela similaridade do jeito carioca de ser com sua baianidade, encontrando aqui um território fértil para seus projetos. Um Rio de pura sedução que o fez encontrar novos e especiais amigos, e o motivou a escolher esse lugar para construir um novo momento de sua história. Pitanga participou e até hoje participa ativamente de tudo de fervilhante desta cidade que o enfeitiçou e o fez descobrir novos amores. Esse é o Rio do Mestre Cartola que o levou para conhecer a Estação Primeira de Mangueira que tingiu seu coração de verde rosa. Rio da Cruz de Malta e do futebol. O Rio do samba e do Carnaval. O Rio das favelas e das lutas comunitárias. O Rio da Bené e da política. O Rio que o fez “Primeiro Damo”. O Rio da militância e dos projetos sociais. O Rio da Camila e do Rocco. Esse é o Rio que te abraça nesse momento tão especial ede mãos dadas com a família da Unidos do Porto da Pedra do município de São Gonçalo. Vamos celebrar, em plena Marquês de Sapucaí, no Carnaval, a sua história que completa 80 anos, sendo sessenta deles dedicados à Arte.

Antônio Pitanga, você é nossa inspiração, um exemplo para um país que precisa de brasileiros como você, que não foge à luta e sabe dizer não as dificuldades e ao preconceito. Você é a encarnação viva de um sonho feliz do Brasil que precisamos: miscigenado, livre e justo. E hoje, o Tigre de São Gonçalo irá rugir mais forte, orgulhoso e feliz, fazendo de você o motivo de nosso Carnaval.

Antônio Pitanga, um negro em movimento!!!

Jaime Cezário
Carnavalesco

SAMBA-ENREDO
Compositores: Bira, Claudinho Guimarães, Duda SG, Márcio Rangel, Alexandre Villela, Guilherme Andrade, Adelyr, Bruno Soares, Rafael Raçudo, Paulo Borges, Eric Costa e Oscar Bessa

Meu povo chegou de Daomé
Escravizado pela mão do invasor
Trazendo na alma axé
A fé foi alento na dor
Nasci em São Salvador da “Bahia
De todos os santos”, Ogum é meu guia
Subo a ladeira do “Pelô”
A batucada começou, tem capoeira (ê, camará!)
Histórias de um griô,
Memórias vindas de lá do Gantois

Ôôôô do “barravento”
Vem a força da transformação
Ôôô do meu “quilombo”
Ecoa um grito de libertação

No “cinema novo” fiz brotar
Resistência popular… eu sou Pitanga!
Na tela a pele negra reluz
Um gingado que seduz… eu sou Pitanga!

Com raça venci preconceitos, mostrei meu talento e “opinião”
Na “oficina” da arte segui lutando contra a opressão
Deixei o sol entrar, vivi lindas “manhães”
Meus frutos vi crescer
Rio de Janeiro, de braços abertos, me acolheu
Pra você eu tiro o chapéu, Mangueira
Estação Primeira do meu coração
No céu, a estrela não vai se apagar
Brilha na terra, ilumina o mar
É sentimento que não tem fim
Bendito amor que mora em mim

Sou Porto da Pedra, chegou o momento!
No berço do samba, nosso apogeu
Guerreiro e bamba, negro em movimento
“Esse mundo é meu”!

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