Acadêmicos do Cubango Carnaval 2020 - Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Abertura dos Desfiles da Série A: Veja o que rolou na Marquês de Sapucaí na noite de sexta-feira

A noite de sexta-feira (21) marcou o início dos festejos na Marquês de Sapucaí, com a apresentação de sete escolas da Série A. Como era previsto, uma forte chuva começou no fim da tarde, com maior intensidade poucas horas antes dos desfiles, o que preocupou os integrantes das agremiações. Apesar da apreensão, a cidade não chegou a ter pontos de alagamentos que pudessem prejudicar o início da festa, como ocorreu no primeiro dia do carnaval em 2019. Durante as exibições a chuva apareceu em alguns momentos, mas de forma branda.

Todas as escolas encerraram sua exibição dentro do tempo estipulado (55 minutos), mas algumas tiveram que lidar com problemas em alegorias e fantasias. Unidos da Ponte, Porto da Pedra e Cubango se destacam no 1º dia de desfiles.Veja um panorama da primeira noite do carnaval carioca.

Acadêmicos de Vigário Geral

Como manda o regulamento, a primeira escola a desfilar foi a Acadêmicos de Vigário Geral, campeã da série B em 2019 com o enredo, Mwene Kongo – O Reino Europeu na África que se Tornou Folclore no Brasil. Este ano a escola defendeu O Conto do Vigário, que trata das artimanhas praticadas ao longo da história do Brasil, ideia de uma comissão de carnaval, composta por Alexandre Costa, Lino Salles e Marcus do Val.

Vinda dos desfiles da Intendente Magalhães, a escola chegou à Marquês de Sapucaí renovada, tendo como estreantes o intérprete (Tem-Tem Jr.), o primeiro casal (Jefferson Gomes e Paula Penteado), o coreógrafo da Comissão de Frente (Handerson Big), o mestre de bateria (Luygui) e sua rainha (Egili Oliveira).

O desfile foi dividido em três setores. Na abertura a escola fez uma viagem ao passado, com os contos do vigário desde os tempos da colonização. Um processo que começou já com o desvantajoso escambo entre portugueses e índios. A Comissão de Frente, desenvolvida pelo coreógrafo Handerson Big, veio vestida de ovelhas para falar do rebanho ludibriado pelos vigaristas, enquanto a primeira alegoria retratou a chegada dos colonizadores como a busca pelo eldorado. No segundo setor foi dado destaque à corrida do ouro. O santo do pau oco foi o tema assumido para a segunda alegoria. Por fim, o Brasil dos dias atuais, com a corrupção rolando solta em terras tupiniquins e ênfase na crise que enfrentamos no país há alguns anos. O 171, os laranjas, a farra dos guardanapos e outros episódios chamaram atenção do público. Mas o grande destaque foi para um tripé com um palhaço utilizando uma faixa presidencial e fazendo gesto de arma com os dedos, uma referência ao presidente da república.

Acadêmicos da Rocinha

A segunda escola da noite foi a Acadêmicos da Rocinha. A borboleta da Zona Sul levou para a avenida o enredo, A Guerreira Negra que Dominou Dois Mundos, uma homenagem a Maria da Conceição, a Vovó Maria Conga de Aruanda.

Maria da Conceição era uma princesa, filha de reis do Congo. No dia de seu batismo foi escravizada e trazida para o Brasil. Com uma história de resistência, tornou-se uma guerreira, heroína de um quilombo em Magé. Segundo a crença dos cultos afro-brasileiros, após a morte, Maria da Conceição é recebida por Oxalá e coroada por Zambi como Vovó Maria Conga.

A comissão de frente, idealizada por Júnior Barbosa, retratou os dois mundos de Maria Conga: um cruzeiro das almas separou a guerreira que ergueu o quilombo em Magé da figura do plano espiritual.

O desfile foi dividido em três setores. A escola teve problemas de evolução com buracos causados pela primeira e pela terceira alegoria, o que deve impactar no resultado da agremiação..

Unidos da Ponte

Terceira escola a desfilar, a Unidos da Ponte defendeu os Elos da Eternidade, que tratou das relações da humanidade com a eternidade. A ideia foi desenvolvida pelo carnavalesco, Lucas Milato, que volta a assinar o desfile na escola de São João de Meriti depois de uma passagem vitoriosa na Série B em 2018. No ano passado a Ponte foi muito prejudicada pelo temporal que atingiu a cidade. A agremiação fazia a reedição do seu clássico, Oferendas. Na noite de ontem a chuva voltou a cair sobre os meritienses, mas de forma moderada.

O enredo fez uma conexão com os laços de resistência e eternidade do samba. A comissão de frente coreografada por Léo Torres e Daniel Ferrão teve como base o “big bang”, o caos. Destaque para o momento em que os integrantes exibiram placas para formar a frase “o samba resiste”, o que arrancou aplausos do público.

No desenrolar do seu enredo a escola meritiense desfilou com quatro setores. A descoberta do conceito de eternidade pelos seres humanos abriu o cortejo, uma relação entre o caos e o cosmos. No segundo setor os carnavalescos exibiram as formas com que os humanos imaginaram ao longo da história alcançar a eternidade: fontes da juventude e outras tentativas de alcançar a vida eterna pontuaram este momento. A seguir o homem já tinha entendido a sua finitude, passando a buscar a eternidade através do seu legado. Diferentes legados foram, então, exaltados no quarto setor, que encerrou o desfile.

Unidos do Porto da Pedra

A Porto da Pedra entrou na Sapucaí pelas mãos da carnavalesca, Annik Salmon, que trabalhou sobre o enredo O que é que a Baiana Tem? Do Bonfim à Sapucaí, uma homenagem às baianas, mães do samba, que contou com referências desde as escravas de ganho, quituteiras, às baianas modernas.

A comissão de frente desenvolvida por Carlinhos de Jesus e Karen Ramos trouxe um Exu cercado por baianas e conquistou aplausos do público.

Durante o desfile foram lembradas as procissões, as oferendas aos santos e o surgimento do samba na Praça Onze, a “pequena África do Rio de Janeiro”, berço do ritmo que embala a Sapucaí.

Acadêmicos do Cubango

A escola de Niterói entrou na avenida cercada de expectativas, devido ao encantamento provocado no carnaval passado, em que saiu com o vice-campeonato. Para este ano, os carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, estreantes na agremiação, prepararam o enredo A Voz da Liberdade, uma homenagem a Luiz Gama, o patrono da abolição.

A verde e branco teve de lidar com problemas ao longo da sua exibição. O abre-alas desacoplou no primeiro módulo de jurados e o segundo carro passou com esculturas danificadas.

Na comissão de frente, o coreógrafo Patrick Carvalho retratou a luta pela liberdade nos tribunais. Luiz Gama, que era advogado, apareceu defendendo os direitos dos negros para um juiz, enquanto um grupo de escravos seguia sendo castigado.

Renascer de Jacarepaguá

Em seguida foi a vez da Renascer de Jacarepaguá contar o seu enredo, Eu que te benzo, Deus que te cura, sobre as benzedeiras e os males que elas trabalham para afastar.

A comissão de frente de Carlos Fontinelle encarou as adversidades do povo brasileiro, como a fome, a violência, a intolerância, as inundações, o caos na saúde.

Ao longo do desfile a escola tratou das mazelas que afligem as pessoas e da fé capaz de afastá-las.

Império Serrano

O encerramento da noite coube ao Império Serrano, que retornou à Série A após o rebaixamento do Grupo Especial em 2019. A escola defendeu o enredo Lugar de Mulher é onde ela quiser, uma exaltação à força feminina.

A comissão de frente de Paulo Pinna exaltou as “gloriosas imperianas”, com o morro como um jardim onde florescem as mulheres da Serrinha.

O Reizinho de Madureira decepcionou. Era visível a falta de partes de fantasias em diversas alas. A mais chocante foi a tradicional ala das baianas, que teve que cruzar a Marquês de Sapucaí sem a sua principal estrutura: as saias. A falta de planejamento provocou emoção entre as baianas. Muitas choraram durante o desfile. O público também reagiu perplexo à passagem. Faltou ao Império eficiência de gestão e respeito a um dos setores mais importantes de uma agremiação.

Confira as fotos da primeira noite de desfiles:

Vigário Geral 2020 – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Acadêmicos da Rocinha – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Unidos da Ponte – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Porto da Pedra – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Acadêmicos do Cubango – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Dandara Oliveira rainha de bateria Renascer de Jacarepaguá – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

Quitéria Chagas rainha de bateria Império Serrano – Foto: Fernando Tribino/Carnavalizados

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