Série “Sete enredos com a temática infantil”: Vila Isabel 1985

Série “Sete enredos com a temática infantil”: Vila Isabel 1985
PARECE ATÉ QUE FOI ONTEM

Sobre a série “Sete enredos com a temática infantil”

Desfiles com enredos infantis despertam todas as crianças: as do mundo e as interiores.

As crianças do mundo são as do presente. Nossos filhos. Frutos da nova geração. Que ficam vislumbradas com a beleza magnética das cores. Talvez ainda não entendam a estrutura e a origem das coisas, mas entendem que elementos atraem, despertam o encantamento e a curiosidade.

As crianças interiores são as do passado. Que vivem dentro de cada um de nós. Nós, esses adultos crescidos, cheios de responsabilidades, trabalhos a realizar, contas a pagar, famílias a sustentar. Adultos que precisam constantemente voltar a serem crianças, seja através de um brinquedo, de um desenho, ou…

De um desfile.

Quem é amante do Carnaval sabe o quanto alguns desfiles de escolas de samba fizeram viajar nas lembranças da infância. E o Carnavalizados preparou este conteúdo exclusivo como uma forma de homenagear nossas crianças, o futuro do nosso mundo, mas também como forma de homenagear a criança que há dentro de cada um de nós, resgatando o universo infantil dos desfiles de Carnaval. Pois, quando nos tornamos adultos, nossa criança interior fica distante, guardada num baú de histórias e memórias, no qual pouco mexemos. E recordar esses trabalhos feitos na Avenida é uma forma de relembrar tudo aquilo que nos divertia e nos trazia alegria.

Como é bom ainda ser criança! E como é bom para o Carnavalizados poder te ajudar a matar a saudade da criança que habita em você.

É um presente pra você, adulto, criança crescida, que acompanha o nosso trabalho.

Divirta-se. Oni Beijada!

Unidos de Vila Isabel 1985
PARECE ATÉ QUE FOI ONTEM

Dando sequência a nossa série de conteúdos em homenagem ao Dia das Crianças, seguimos com o enredo da Unidos de Vila Isabel de 1985, Parece que foi ontem, assinado pelo carnavalesco Max Lopes. O enredo, segundo Max, visava mostrar “a infância de hoje, o que foi a infância de ontem e fazer com que o grande público presente recordasse de seu tempo de criança e participasse de uma grande festa”. Percebam: a infância de hoje e a infância de ontem, só que em 1985. Quisemos trazer esse enredo, pois é muito curioso ver a passagem do tempo através de um desfile de carnaval. Após 32 anos, o “hoje” retratado pela Vila Isabel tornou-se ontem e o “ontem” tornou-se anteontem, podemos assim dizer. Depois de mais de três décadas, as brincadeiras da infância mudaram; até mesmo as crianças de 1985 já estão adultas.

A agremiação levou o público ao delírio com sua animação e brincadeiras, ficando com o 3º lugar, atrás apenas da Mocidade Independente de Padre Miguel, campeã com o inesquecível Ziriguidum 2001, Carnaval nas Estrelas, e da Beija-Flor, segunda colocada com o enredo A Lapa de Adão e Eva. Dividido em três setores, o enredo da Vila Isabel mostraria no primeiro setor “A preparação da Festa”; “Entre nessa roda” no Segundo; e “Os meus amigos encantados” no terceiro.

Com um tema infantil que era também uma homenagem a grandes escritores, como os brasileiros Maria Clara Machado, Monteiro Lobato e Mauricio de Souza, e os estrangeiros Irmãos Grimm, o carnavalesco Max Lopes buscou imprimir um desfile com fantasias e alegorias com um caráter mais crítico, muito diferente do que esperamos para um desfile que se propõe a tratar do universo infantil. Mas o carnaval da Vila Isabel foi uma verdadeira volta ao tempo de criança. A escola de Noel fez uma excelente apresentação e proporcionou um mágico passeio pelo imaginário infantil, onde não faltaram brincadeiras como peladas, carniça, roda pião e petecas. Numa grande cidade dos sonhos, também estavam presentes arautos, príncipes, rainhas e cavaleiros medievais, todos numa mistura com brinquedos, doces e personagens imortais criados pelos escritores homenageados. E é incrível como, mesmo depois de 32 anos, muitas dessas histórias que mexiam com o imaginário das crianças e dos adultos daquela época ainda seguem cativando muitas crianças, como é o caso do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato, a Turma da Mônica de Maurício de Souza. Até hoje inclusive, muitos espetáculos são reencenados com as histórias de Maria Clara Machado, e as fábulas dos irmãos Grimm são recontadas e reeditadas em edições especiais de livros, sempre com novas roupagens.

No ano anterior, em 1984, Max havia dado à Mangueira o super campeonato, com o enredo Yes, nós temos Braguinha. O carnavalesco chegava então à Vila Isabel com muita moral e com um grande desafio. Em entrevista concedida à época para a extinta Rede Manchete, Max – com seu já famosíssimo bigode – demonstrou estar muito entusiasmado. Ao ser questionado sobre o tema infantil ter facilitado seu trabalho, o carnavalesco da Vila contou que facilitou muito sim, e que falar de criança permite o uso de uma variação imensa de coisas e cores.

A imensa variação de cores realmente esteve presente no desfile da Vila Isabel. Em 84, com a Estação Primeira de Mangueira, Max trabalhou praticamente apenas com verde, rosa e branco ao longo de todo o desfile, ainda que em diversos tons. Na Vila, ainda predominaram as cores da escola, o azul e o branco, mas a temática infantil possibilitou que o carnavalesco utilizasse bastante colorido. No abre-alas predominaram o azul, o branco e a prata, cor que Max usou muito ao longo do desfile para dar luxo. Já na segunda alegoria, palhaços coloridíssimos vinham em cima de grandes cubos (que representavam os cubos de madeira com letras e números pintados, brinquedos muito famosos na época) igualmente coloridos.

Nas fantasias, estandartes e adereços de mão foram a grande sacada do carnavalesco Max Lopes para dar cor ao desfile. As fantasias eram praticamente todas azuis e brancas, mas os adereços, em formatos de girassóis, pipas, bandeiras e bolas davam um toque de cor que a escola precisava.

A Vila Isabel veio muito bem vestida e com ótimas fantasias. E também não fez feio no quesito alegorias, que trouxe bonitas esculturas (algumas com movimentos que pareciam seguir o ritmo do samba), que mostravam a natureza usada nos cenários de vários personagens. É muito interessante perceber esse caráter mais cenográfico e teatral das alegorias da Vila. Uma de suas principais alegorias vinha com um letreiro preto escrito VILA e nela estava sentado o cartunista Mauricio de Souza, criador das histórias da Turma da Mônica, que interagia com o publico e até com suas criações: Cascão, Mônica, Cebolinha e outros personagens vinham à frente do carro. Na mesma alegoria havia um “Cavalinho Azul”, pertencente ao universo das histórias de Maria Clara Machado.

Nesse desfile, a Vila colocou 200 crianças ao todo. As meninas representavam os jardins das cidades dos doces e os meninos eram os duendes da floresta encantada.

Algumas das personalidades presentes no desfile foram a saudosa Elke Maravilha, que representou “A Bruxinha que Era Boa”, umas das personagens da peça infantil homônima de Maria Clara Machado. O ator André Valli, que representou o Visconde, no Sítio do Pica-Pau Amarelo; e o ator Castrinho, que desfilava com seu personagem Cascatinha.

Neste ano, a agremiação do bairro de Noel entrou com bastante atraso, por conta do desfile anterior da União da Ilha do Governador, que teve problemas na dispersão e demorou a retirar seus carros. Depois de muita espera, a Comissão de Frente abriu a o desfile com 15 componentes masculinos representando os arautos que anunciavam com trombetas a chegada do desfile. Os arautos eram personagens muito comuns nas histórias infantis da época. A comissão obteve pontuação máxima: duas notas 10,0.

A Vila desfilou com 3.200 componentes, com 51 alas, sendo 320 ritmistas na bateria, 200 crianças e 40 destaques. Vale lembrar que o mestre-sala da escola naquele ano era o imortal Peninha, falecido mês passado (26/09), que desfilou ao lado da porta-bandeira Adriana, e defendeu o pavilhão da Unidos de Vila Isabel por quatro anos.
O samba-enredo que tem em seus versos “Ê balão, balão, balão…” foi a justificativa para escola levar um balão enorme nas cores azul e branco para abrir o seu carnaval. Ele ficou aportado na Praça da Apoteose, aguardando para evoluir com a chegada da escola. A autoria e interpretação do samba ficou a cargo de David Corrêa, Jorge Macedo (ambos compuseram no ano anterior a obra do GRES Acadêmicos do Salgueiro, no famoso “Skindô skindô”), além do parceiro Tião Grande. O samba foi considerado um dos destaques desse desfile e tinha um dos refrãos mais entoados do ano. Curioso ressaltar que a obra não agradava muito ao carnavalesco Fernando Pamplona, que estava como comentarista durante a transmissão da TV Manchete. Pamplona dizia que o samba era 90 % marchinha de carnaval e apenas 10% samba-enredo). Ainda assim, a composição recebeu nota máxima dos jurados.
E nós achamos o samba lindo, que fique claro!

Algumas notas atribuídas na Avaliação dos jurados ao desfile da Unidos de Vila Isabel em 1985:
Samba enredo: 10,0 – 10,0 / Fantasia: 10,0 – 10,0 / Enredo: 10,0 – 9,0 / Alegoria e adereços: 10,0 – 10,0

Link do vídeo do desfile:
https://www.youtube.com/watch?v=iGbt4eQe2Zg

Segue a letra do samba:
“Eu vou desaguar neste encanto
De riso pra decantar
Deixa eu ser a sua fonte cristalina
Ser criança neste olhar
Poema que afaga
É vento que o arauto soprou
Eu dei pra ti uma cidade doce
Há cheiro de doce no ar
Inhá preta doce de amor
Entra nessa roda menino vem cirandar
Eu perdi a conta na ponta do meu polegar
No baile colorido lá vou eu
Pra ver Cinderela, mel de amor
Menina e o vento fez o par
Vem Narizinho na luz do luar
No circo encantado, cantar, correr
Sentir a brisa do amanhecer
Óh minha Vila
Contigo de braço rodei
Cantando no azul do horizonte
Eu e ela
Parece até que foi ontem
Ê balão, balão, balão,
Balão que leva eu
Balão me dê luar
E o céu pra eu brincar…”

 

Por: Claudio Rocha e Gabriel Cardoso

Deixar uma resposta

Seu email não sera publicado. Campos obrigatórios *

*