Foto: Fernando Tribiño

Prêmio Plumas & Paetês celebra os artistas do espetáculo do Carnaval carioca

Por Flávio Amaral

De volta ao Grupo Especial, Viradouro é recordista de premiações na 14ª edição do evento; comissão do Tuiuti emociona de novo e Wander Pires decreta “fico” na Mocidade

Enquanto as escolas de samba não definem enredos e sambas para 2019, ainda é hora de conhecer os artistas do espetáculo que deram um show na Passarela do Samba neste ano. O teatro Carlos Gomes, no centro do Rio, recebeu a 14ª edição do Prêmio Plumas & Paetês Cultural, que já premiou 857 profissionais do Carnaval carioca em suas 14 edições.

A cada edição, uma personalidade do mundo do samba é homenageada. Este ano, foi a vez de Wilson Moreira, sambista carioca, parceiro de mestres como João Nogueira, Nelson Cavaquinho, Moacyr Luz e Grande Otelo, e que foi gravado por intérpretes como Alcione, Clara Nunes e Beth Carvalho.

Wilson Moreira (ao lado de Zé Katimba) – Foto: Fernando Tribiño

Dando uma palhinha de seus sucessos, Wilson mostrou em três músicas o porquê de ser chamado de mestre pelas cantoras da banda Mal de Raiz, que interpretaram sambas de sua autoria como “Judia de Mim” e “Gostoso Veneno”. O ápice da homenagem veio num coro entoado por cantoras e plateia em “Senhora Liberdade”, samba que se tornou um hino das Diretas Já, movimento de luta pela democracia no Brasil nos anos 1980.

Um documentário feito por alunos de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá apresentou alguns dos premiados desses 14 anos de Plumas & Paetês e ressaltou a importância daqueles que são o foco da premiação: os artistas do espetáculo, que fazem o Carnaval acontecer. Nessa festa do mundo do samba, mais de 70 profissionais foram premiados, embalados pela bateria da campeã da Série A, a Furacão Vermelho e Branco do Unidos do Viradouro.

Outro destaque da noite foi a dupla do Paraíso do Tuiuti: Jack Vasconcelos foi premiado como melhor carnavalesco e melhor pesquisador do Grupo Especial, e Patrick Carvalho — com sua comissão antológica — eleito o melhor coreógrafo de comissão de frente; mestre Ciça levou, ainda pela União da Ilha (hoje está na Viradouro), o prêmio de melhor mestre de bateria; Wander Pires, voz da Mocidade Independente de Padre Miguel, foi o melhor intérprete; e Edson Pereira, da Viradouro (agora na Unidos de Vila Isabel), o melhor carnavalesco da Série A.

Comissão arrebatadora
Em uma das apresentações da noite, a comissão de frente da Tuiuti voltou a emocionar o público presente, com uma coreografia que refletiu a dor do escravo nas mãos de um capataz também negro, e sua libertação através da fé, com auxílio de pretos-velhos. Assim como ocorreu no Sambódromo, a apresentação encantou a plateia, arrancando lágrimas e aplausos.

Fico de Wander Pires na Mocidade
Antes de receber o prêmio de melhor intérprete, Wander Pires se dirigiu à bateria da Viradouro para saudar mestre Ciça, mas brincou ao dizer que não deve conseguir trabalhar com o amigo nos próximos Carnavais — o cantor havia sido sondado pela escola de Niterói. Isso porque ele decretou seu “fico” na Mocidade, já voltando sua atenção à plateia. “Vocês sabem que estou em casa, voltei (à escola de Padre Miguel) para ficar, lá vou me aposentar e passar o bastão para eles”, afirmou, apontando para os filhos, que lhe acompanharam no palco.

Curiosidades
Recordista! Jack Vasconcelos é o profissional mais vitorioso da história do Plumas, com 12 premiações. Dessa vez, ele levou a melhor graças ao trabalho que culminou no desfile histórico da Paraíso do Tuiuti, apresentando uma abordagem histórica da escravidão e questionando as relações trabalhistas no Brasil do século XXI.

Jack Vasconcelos – Foto: Fernando Tribiño

Não perca as contas! Em 14 edições, já foram premiados 862 profissionais em 129 categorias. Subiram ao palco passistas, aderecistas, figurinistas, costureiras, ferreiros, diretores de harmonia, bateria e barracão, entre muitos outros que fazem a festa acontecer.

Prêmio para todo mundo! Na história do prêmio, 67 escolas já tiveram profissionais premiados. Sinal de que muitos têm o reconhecimento do mundo do samba.

Ano da Virada! No ano de seu retorno ao Grupo Especial após três anos, a Viradouro foi a recordista de prêmios, com 18 profissionais na lista de premiados.

Palavra dos vencedores

Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Acadêmicos do Cubango, premiados como melhores pesquisadores da Série A:

“É um enredo (sobre o Bispo do Rosário) fruto de uma pesquisa longa, que vínhamos trabalhando e esperando o momento certo, dada a sua carga simbólica. É muito orgulho vencer esse prêmio numa época em que se discute tanto os insumos do quesito enredo. São tantas referências e conexões, que daria para fazer mais uns 5 enredos a partir desse conteúdo”.

Mestre Maurão, da Viradouro, melhor mestre de bateria da Série A:

“É muito difícil trabalhar com bateria no grupo de acesso. Vocês não têm ideia. Tivemos muitas dificuldades, até falta de instrumentos, mas esse prêmio vai para todos os mestres de bateria”

Jorge Silveira, carnavalesco da São Clemente, premiado como melhor desenhista do Especial (pelo segundo ano consecutivo):

“Eu fiquei feliz com esse prêmio porque eu estava fora da minha área de conforto. Eu sou um desenhista de cartoons. Essa característica é muito presente no meu traço porque antes de trabalhar com carnaval eu fui professor de desenho. Eu lidei a vida toda com crianças e adolescentes ensinando-os a desenhar. E esse universo do cartoon é muito próximo do universo da molecada, o que invariavelmente contamina as minhas referências. O que não é um problema; acabou sendo um diferencial. Mas esse ano foi um pouco diferente porque eu estava trabalhando com referências históricas reais, dentro de estilos muito bem demarcados. Meu esforço maior era colocar meu lado cartoon de lado e deixar florescer meu lado acadêmico, mais tradicional, da minha formação na Escola de Belas Artes. Aparentemente tive êxito: meu desenhista interior floresceu e fui premiado. O desenho é uma parte do projeto muito solitária; é você, o papel e mais nada. Receber esse prêmio mostra que o que eu concebi no papel estava no caminho certo.”

Wigder Frota, melhor fotógrafo do Carnaval 2018

Wigder Frota – Foto: Fernando Tribiño

“Vou ser sincero: meu equipamento é muito básico. Sempre foi. E eu sei que um grande equipamento ajuda muito, é verdade. Mas o OLHO é o que mais ajuda. A visão para o espetáculo. A gente tenta se aprimorar na parte técnica, mas a visão do dia a dia no carnaval é que precisa mudar todos os anos. O fotógrafo precisa saber o que está fotografando e tentar inventar um ângulo diferente pra sair daquela rotina. Então tento criar um ângulo diferente, um zoom diferente, uma variação técnica… mas muito vem da inspiração mística ali na hora do desfile. Não tem receita, e quase nada estabelecido antes. O grande segredo é sair batendo com diferentes truques até encontrar. Pra tirar uma imagem muito boa é preciso tirar 50. Por isso o acervo é muito grande”, conta Wigder.

Confira algumas imagens do evento:

Foto: Fernando Tribiño

Foto: Fernando Tribiño

Foto: Fernando Tribiño

Giovanna Angelica – Musa da Mocidade – Foto: Fernando Tribiño

Carnavalesco Alex de Oliveira e Rei Momo – Foto: Fernando Tribiño

Foto: Fernando Tribiño

Mestre Ciça e a bateria da Viradouro – Foto: Fernando Tribiño

Repórter Julie Alves da Rede TV – Foto: Fernando Tribiño

Passistas – Foto: Fernando Tribiño

Cristina Frangelli – Site Carnavalizados – Foto: Fernando Tribiño

 

 

Deixar uma resposta

Seu email não sera publicado. Campos obrigatórios *

*