Muito além de quatro dias de folia

Por Édy Dutra*

Há tempos eu venho pensando sobre isso. E até muito mais que pensar, venho externando o meu discurso a cerca da contribuição da escola de samba para a sociedade. Houve aí um desencontro neste caminho que vinha sendo costurado ao longos dos anos, entre a cultura popular e a sociedade como um todo. Por razões diversas – mas principalmente, motivada por essa onda de desgovernos anti-cultura (principalmente a cultura popular) que assola o país – a escola de samba acabou ganhando um papel de “mais atrapalha que ajuda”, na visão de muitas pessoas. O que é um erro tremendo.

Nós, carnavalescos, sambistas, já sabemos de cor e salteado o quanto uma escola de samba é e pode ser importante para a comunidade em que ela está inserida, ou para a comunidade que ela atende. Mas é preciso externar o papel da escola de samba para que as outras pessoas, leigas (por desconhecer a cultura carnavalesca, ou até mesmo por preconceito, já que o samba ainda é visto de forma marginalizada algumas vezes) possam abrir os olhos (e a mente) para o real entendimento do existir de uma escola de samba.

Muito mais do que um simples local de festejos de um grupo, que ao longo do ano se prepara, organiza um espetáculo rico de manifestação cultural, que deságua na avenida como um rio em fevereiro. A escola de samba é um patrimônio brasileiro onde se encontram pilares primordiais para a formação e preservação da identidade, da cultura e da consciência social de um cidadão. A escola de samba é porta-voz de cultura, de ensinamento, aprendizado.

Sim, na escola de samba (e aí por isso o termo escola) se aprende cidadania, respeito aos mais velhos, a agregar, compartilhar, cooperar, fraternizar. Se aprende a cultuar o samba. Sambar não é meramente dançar o ritmo. Sambar é cultuar a ancestralidade de um povo que muito lutou para se manter visto e digno diante de uma repressão covarde.

Uma escola de samba que se preocupa com a sua comunidade, com as suas raízes, mantém-se forte, pois está cumprindo com seu papel primordial. E nós, como carnavalescos, sambistas, devemos sempre brigar para que este patrimônio nosso, tão rico, seja respeitado. A contribuição da escola de samba vai (e deve ir sempre) muito além dos quatro dias de folia. É isso que devemos mostrar. É isso que devemos exaltar.

 

(*) Édy Dutra – jornalista em formação, temista, campeão 2017 com a Imperadores do Samba (Porto Alegre/RS), editor do Camarote Cultural.

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