Foto: Fernando Tribiño

Eu sou o samba

Por: Gabriel Cardoso

Eu sou o Samba. O herói da resistência. No pé, sou dança que afugenta dores, ginga que se esquiva de preconceitos.

Meu baile é na rua. Minha folia contagia. E eu te desafio a ficar parado, quando aquele tambor começar a tocar. Seu corpo sacode involuntariamente por minha causa. Estou na sua alma.

A história me fez DNA de uma escola. Escola de Samba. Por lá, vieram até mim aqueles que nasceram pra me dominar: os passistas. Cabrochas e malandros. Que me defendem com paixão e conduzem a arte da minha dança para iluminar outras curimbas do mundo. Em torno deles, criaram-se carnavais inteiros, as mais belas canções de amor.

Cabrochas e malandros que me levam a sério e lutam pelo resgate da minha essência. Pois sou parte deles. Mas também sou parte de um morro inteiro. Um morro que festeja comigo, que precisa de mim. E me faz de escudo, espada e cruz.

Eu existo pra eles. E enquanto houver passistas, resistirei; eles nunca me deixarão morrer.

Pois sou o Samba. E eles também.

Este ano, o Prêmio Plumas e Paetês propõe a seguinte reflexão: será que ainda somos mesmo escolas de samba ou será que estamos perdendo a identidade do nosso patrimônio cultural?

Nos desfiles de hoje, é frequente observar que muitas alas de passistas atravessam a Avenida coreografas de ponta a ponta. Logo a ala em que se faz necessária a apresentação da dança do samba, um dos únicos momentos no qual se identifica uma escola de samba. E ela passa justamente sem… samba? A escola passeia, a alegoria imponente brilha, o povo brinca, o folião pula. Mas o passista samba. Precisa sambar.

Passistas são responsáveis por impedir que nossa cultura seja confundida com qualquer outro espetáculo de entretenimento do mundo: nada se compara ao samba no pé. E eles defendem seu pavilhão assim, sambando. É por isso que, em sua 14ª edição, o Prêmio Plumas e Paetês homenageia seis daqueles que são considerados alguns dos mais importantes profissionais da arte de sambar do carnaval, e que dedicam suas vidas a propagar (e a resgatar) a cultura sambista.

São eles: Aldione Senna, Celynho Show, Eduardo “Pelezinho” Campista, Nilce Fran, Sonia Capeta e Valci Pelé.

Salve as cabrochas e malandros imortais! Salve os eternos passistas do samba!

Eduardo Campista, Aldione Senna, Celynho Show, Nilce Fran e Valci Pelé – Foto: Edimar Silva

ALDIONE SENNA
Vencedora de nada menos que dois Estandartes de Ouro de Melhor Passista (pela GRES Unidos de Vila Isabel) e integrante de algumas das mais renomadas companhias de dança do Brasil, Aldione Senna levou o samba para países como Portugal, Japão, Argentina, Paraguai e Filipinas. Professora de dança, a passista já preparou candidatas à rainha do carnaval e dá aulas no Projeto Social “Gente que samba é feliz”.

CELYNHO SHOW
Aos oito anos de idade, Célio Roberto de Oliveira Justino, o Celynho Show, já era “o menino que flutuava sambando”, conhecido por sua ginga suave e seu samba de gente grande. Depois de estrear pelo Acadêmicos do Engenho da Rainha, Celynho passou pelo Salgueiro, recebeu convites para ser passista em várias escolas e conheceu o mundo graças ao samba. O passista se orgulha também de ter feito parte do time da produtora do saudoso Joãosinho Trinta.

EDUARDO CAMPISTA (PELEZINHO SAMBA SHOW)
Com quase 25 de carnaval na bagagem, Eduardo Campista, mais conhecido no mundo do samba como Pelezinho, já passou por Estácio de Sá, Porto da Pedra, Sossego, Tradição e Unidos da Tijuca (nesta última venceu o Estandarte de Ouro de Melhor Passista, em 2009), e foi coordenador das alas da Renascer de Jacarepaguá, da Alegria da Zona Sul e da Lins Imperial. Atualmente, Pelezinho coordena a Ala de Passistas da Estácio de Sá e realiza shows particulares para grandes eventos.

SONIA CAPETA
Apelidada por Joãosinho Trinta pelo seu infernal samba no pé e seu rebolado de liquidificador, Sonia Capeta tem um extenso e invejável currículo: passista desde os 10 anos de idade, Sonia é um dos grandes nomes que marcaram a história da Beija-Flor. Com apenas 19 anos sagrou-se rainha da agremiação de Nilópolis, posto que defendeu por vinte anos. Vencedora de inúmeros prêmios de Melhor Passista (entre eles, o Estandarte de Ouro), Capeta tornou-se mãe da comunidade da Beija-Flor e foi nomeada por Laíla como eterna rainha da escola nilopolitana. O palco da agremiação, inclusive, foi batizado com seu nome.

NILCE FRAN
Nilce Fran é daquelas que possui uma vida inteira dedicada ao samba. Começou como porta-bandeira mirim, já foi rainha de bateria da Portela, venceu o Estandarte de Ouro em 2012 e é bailarina dos cantores Dudu Nobre, Serjão Loroza e Zeca Pagodinho, além de presidente de honra da GRES Rosa de Ouro (RJ). Coordenadora da ala de passistas da Portela e da Viradouro, coordenadora do Ballet da Cidade do Samba, ao lado de Carlinhos de Jesus, educadora e instrutora de dança em projetos sociais e faculdades (ufa!), Nilce é responsável pela formação de muitos grandes nomes da arte de sambar, entre passistas, rainhas, musas e destaques. A passista também já levou o samba para diversas partes do mundo, entre Espanha, Itália, Coreia, Dinamarca, Colômbia, Argentina e Angola.

VALCI PELÉ
Coordenador da Ala de Passistas da Unidos do Viradouro e ganhador de vários prêmios (entre eles dois Estandartes de Ouro), Valci Pelé é um dos mais conceituados passistas do Carnaval. O sambista, inclusive, é criador do Projeto Primeiro Passo, instrutor de dança e idealizador da lei que leva seu nome (Lei Valci Pelé), que cria o Dia do Passista, comemorado em 19 de fevereiro. Valci já gravou vinhetas para comerciais da Itália e da Inglaterra, para a Rede Globo e outras empresas, além de ter sido membro do Elenco Show da Cidade do Samba. Atualmente, o passista participa de eventos pelo Brasil inteiro, relativos ao mundo do samba.


* Gabriel Cardoso é editor chefe no site Carnavalizados e escreveu para a Revista Plumas & Paetês Cultural 2018. 

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