“EBA” – Um Painel ACADEMICAMENTE POPULAR do carnavalesco Jorge Silveira

A São Clemente vai render homenagem aos filhos da Academia que ajudaram a transformar o carnaval carioca na maior manifestação cultural do planeta

Rodolfo Amoedo, Dirceu e Marie Louise Nery, Fernando Pamplona, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda e Márcia Lage. Esses são alguns dos “imortais” da Escola de Belas Artes, segundo o carnavalesco da São Clemente, Jorge Silveira.

Estreante na escola da Zona Sul – e também no Grupo Especial dos desfiles do Rio de Janeiro –, Jorge levará para a Avenida o enredo “Academicamente Popular”. Dia desses, em uma das suas publicações na rede social Facebook, ele lançou uma colagem com imagens de algumas personalidades importantes para história do carnaval e que saíram da “EBA”, esse nome carinhoso dado à Escola de Belas de Artes do Rio de Janeiro.

A EBA já teve uma geração de carnavalescos no seu quadro de docentes, isso lá pelas décadas de 70 e 80. O Professor Fernando Pamplona acabou formando o seu grupo com nomes como Maria Augusta, Rosa Magalhães, entre outros. E vendo a homenagem para alguns desses profissionais na publicação do Jorge Silveira, esse talentoso e jovem artista por quem tenho uma enorme admiração (e venho acompanhando seu trabalho) resolvi seguir um pouco essa publicação trazendo um pequeno histórico para justificar ainda mais a importância de cada um desses imortais, para o enredo e para história do carnaval, saber o que levou o carnavalesco a fazer essa bela homenagem para esses artistas. E como eles entraram no enredo e qual a importância de cada um desses profissionais para Jorge Silveira.

Seguindo a ordem do painel:

Foto 1: Rodolfo Amoedo (1857–1941)

O pintor Rodolfo Amoedo é um dos responsáveis pela renovação no ensino e na estética acadêmica da Escola Nacional de Belas Artes, no fim do século XIX. Apesar de ter uma visão essencialmente tradicionalista da pintura, o artista foi um dos introdutores de correntes artísticas que atualizaram a arte acadêmica, trazendo para o país um realismo burguês menos idealizado nos temas e no tratamento do que nas correntes neoclássicas e românticas predominantes no Brasil até então. Foi o professor Rodolfo Amoedo que pintou o estandarte do Ameno Resedá, em 1913.

Fotos 2 e 3: Dirceu da Câmara Nery (1919-1967) e Marie Louise Nery (1924-)

Marie Louise nasceu em Berna, na Suíça, no dia 31 de maio de 1924. Estudou na Escola Técnica de Ofícios (Gewerbeschule) e na Escola de Artes Utilitárias (Kunstgewerbeschule). Casou-se com Dirceu da Câmara Nery, cenógrafo e aderecista pernambucano, com quem formou uma dupla de reconhecido talento. Em junho de 1957 veio para o Brasil e logo começou a participar ativamente da vida artística e cultural do Rio de Janeiro. Em 1959, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro deu início a uma das primeiras revoluções estéticas do carnaval carioca, ao convidar o casal para criar o enredo sobre Jean Baptiste Debret, pintor e desenhista francês, membro da Missão Artística Francesa que chegou ao Brasil em 1816. O resultado foi um belo desfile que surpreendeu a todos que o assistiram.
Marie Louise também confeccionou figurinos carnavalescos para a Portela. Ao lado de Dirceu, criou cenários, figurinos e adereços para peças infantis de autoria de Maria Clara Machado, encenadas pelo grupo amador “O Tablado”: “O Cavalinho Azul” (1960/1966), “A Menina e o Vento” (1963) e “A Volta do Camaleão Alface” (1965), são algumas das encenações. “O Tablado” tornou-se uma referência e uma espécie de cartão de visitas do casal, além de um trampolim para o teatro profissional.

Foto 4: O Mestre Fernando Pamplona (1926–2013)

Fernando Pamplona foi carnavalesco, cenógrafo, fotógrafo, ator e até mesmo jurado de Carnaval, além, claro, de ser também professor e diretor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. No ano de 1959 foi premiado com a Medalha de Ouro, no Salão de Arte Moderna. Neste mesmo ano, a convite do escritor Miécio Tati, passou a integrar o corpo de jurados do desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi convidado para o cargo de carnavalesco, quando desenvolveu o enredo do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, para o qual formaria a seguinte equipe de carnaval: Dirceu e Marie Louise Nery (que assinaram em 59), Arlindo Rodrigues e o aderecista e desenhista Nilton de Sá. Ele foi o responsável pela mudança da proposta de enredo. Ao falar do negro brasileiro/africano, o mestre Pamplona rompeu com os “tradicionais temas de capa e espada”, como ele mesmo define os enredos da época.

Foto 5: Maria Augusta (1950-)

Era carnaval de 1969 e a aluna de Belas Artes trabalhava como ajudante de seu professor, o carnavalesco Fernando Pamplona, na decoração do Baile do Copacabana Palace. Oriunda de um grupo formado por Pamplona, Maria Augusta participou da criação de desfies ganhadores no Salgueiro como “Bahia de Todos os Deuses” (1969) e “Festa Para um Rei Negro” (1971). O grupo, que também era composto por Joãosinho Trinta, Arlindo Rodrigues e Rosa Magalhães, criou um novo jeito de se fazer carnaval, colocando o negro em seu papel de protagonista baseado em elementos de matrizes africanas. Maria Augusta Rodrigues também foi responsável pelo enredo histórico do G.R.E.S. União da Ilha do governador, “Domingo” (1977), entre outros. Artista plástica, professora da EBA-UFRJ, posteriormente viria a se tornar comentarista da Rede Globo, sobre os desfiles do Grupo Especial.

Foto 6: Rosa Magalhães (1947-)

Filha do escritor e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior, integrante do júri do primeiro desfile das Escolas de Samba, em 1932, e imortal da Academia Brasileira de Letras, e da autora teatral Lúcia Benedetti, Rosa Magalhães é formada em Pintura, pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e em Cenografia, pela Escola de Teatro da UNIRIO. Foi também professora de Cenografia e Indumentária na EBA. Rosa estreou na folia no início dos anos 70 e de lá pra cá ela passou por várias agremiações, abocanhando diversos títulos. Em 1982, ela e Lícia Lacerda assumem pela primeira vez um carnaval, no Império Serrano, onde realizaram o famoso enredo campeão daquele ano “Bumbum PraticumbumPrugurundum”. Rosa também teve anos de glórias na Imperatriz Leopoldinense, tornando-se uma das principais crias da geração de artistas pinçados da EBA-UFRJ e levados para o mundo do Carnaval, através da dupla Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues.

Foto 7: Lícia Lacerda

Artista também oriunda da Escola de Belas Artes, Lícia iniciou a carreira no Salgueiro em 1971, que veio com o enredo “Festa para um Rei Negro”, o famoso “Pega no Ganzê”. A artista foi convidada, junto com Rosa Magalhães, para auxiliar a equipe composta por Joãozinho Trinta, Maria Augusta, Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Na época, ela ainda era estudante da EBA-UFRJ. Lícia Lacerda considera Rosa Magalhães sua maior parceira, com quem dividiu momentos maravilhosos no carnaval. Seus principais campos de atuação: figurinos, cenários, direção de arte, adereços, pintura e projetos de decoração.

Foto 8: Márcia Lage (1960-)

Márcia Leal de Souza Lage, mais conhecida como Márcia Lage é uma importante cenógrafa e carnavalesca, que sempre atuou em conjunto com o seu atual marido, o também carnavalesco Renato Lage. Atualmente está no G.R.E.S. Grande Rio. A carnavalesca trabalhou em dupla com seu marido na Mocidade Independente na década de 90, primeiramente como assistente. A dupla atuou no Salgueiro, onde fizeram grandes carnavais. Ela sagrou-se campeã do Grupo de Acesso com o enredo “Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim”, no Império Serrano, em 2008.

Jorge Silveira revelou um pouco mais sobre que prepara para os homenageados

Jorge Silveira – Foto: Raphael Arantes

Sobre o Professor Rodolfo Amoedo

“Ele foi o primeiro ponto de contato oficial entre o carnaval da cidade do Rio de janeiro e o universo acadêmico da Escola de Belas Artes. Em 1913, ele pintou o estandarte do rancho Ameno Resedá. Ele fez a composição artística e pintou a mão o tecido do estandarte. Então foi o primeiro momento que eu identifiquei historicamente um contato entre um acadêmico e o trabalho de carnaval de rua da cidade do Rio de Janeiro.”

Logo depois ele fala da importância do casal Nery

“Eles eram professores da Escola de Belas Artes. Em 1959, eram carnavalescos do Salgueiro e fizeram um carnaval em homenagem a Debret. Que era um momento de inserção da cultura da Escola de Belas Artes no universo do carnaval e foi exatamente esse carnaval em 1959, que o professor Fernando Pamplona assistiu da janela do (Teatro) Municipal e o fez se apaixonar pelo Salgueiro.”
Jorge também falou um pouco sobre os outros homenageados listados na imagem, Fernando Pamplona, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda e Márcia Lage. Para o carnavalesco, eles são emblemáticos, significativos e importantes para essa comunicação entre a EBA e o universo do Carnaval da cidade do Rio de Janeiro.
“Na minha ultima alegoria eu faço uma referência ao trabalho do Pamplona, ao trabalho do professor Adir Botelho, e outros professores que desenhavam a decoração de rua dos concursos dos anos 60 e 70, que decoravam a (Avenida) Presidente Vargas, (Avenida) Rio Branco o Centro da Cidade, com aquela iluminação suspensa que a gente bem conhece do carnaval. Vou homenagear todos.”

Um pouco mais sobre a EBA: “A Aula Pública de Desenho e Figura, estabelecida por Carta Régia de 20 de novembro de 1800 foi a primeira ação oficial que se tem conhecimento para que se estabelecesse o ensino da Arte no Brasil. Este, porém, só teria início com a criação da Escola Real das Ciências Artes e Ofícios, por Decreto-Lei de D. João VI, em 12 de agosto de 1816. Com a chegada ao Brasil da Missão Artística Francesa, chefiada por Joaquim Lebreton, a convite de D. João VI, viabiliza-se o projeto do ensino artístico em nosso país. Durante os primeiros dez anos o que temos são apenas algumas aulas ministradas por Debret e Grandjean de Montigny numa casa do Centro da cidade, que os dois artistas alugaram para esta finalidade. Em 1826, já com o prédio próprio projetado por Grandjean de Montigny, tem-se início o ensino oficial das artes no Brasil, de acordo com o modelo da Academia Francesa, sendo que a Escola passa a chamar-se Academia Imperial das Belas Artes. Com o advento da República, a Academia passaria a chamar-se Escola Nacional de Belas Artes e, a partir de 1971, seria denominada Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nome que mantém ainda hoje.”

Vem aí um carnaval “Academicamente Popular”. Ainda bem! Toda sorte do mundo ao querido – e talentosíssimo – Jorge Silveira!

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