Foto: Marilda Campbell

Duplas Dinâmicas do Samba – Carnavália Sambacon 2017

Criação e desenvolvimento de um enredo

Nos dias 13, 14 e 15 de julho foi realizada a 4ª edição do Carnavália Sambacon – Feira de Empreendedorismo e Negócio do Carnaval Brasileiro, no Centro de Convenções SulAmerica, Cidade Nova.

A programação foi intensa: com mesas de debates sobre o carnaval e a crise; painel profissional sobre economia criativa; desfile de moda carnaval; stands com produtos e serviços para o setor; shows das Escolas Mirins, do Ilê Aiyê (Bahia) com a bateria da Mocidade e dos Bois de Parintins com a bateria da Portela; e o sorteio da ordem dos desfiles das Escolas do Grupo Especial.

Um dos destaques foi o painel acadêmico “Duplas Dinâmicas do Samba”, realizado no sábado (15/07). Com apresentação de Milton Cunha, estavam presentes: Samile Cunha (figurinista e professora acadêmica); os jornalistas Flavia Oliveira e Aydano Mota; a dupla João Vitor Araújo e Daniel Targueta (carnavalesco e pesquisador) da Unidos de Padre Miguel; e a dupla Mauro Quintaes e Gustavo Melo (carnavalesco e pesquisador) da Unidos do Peruche – SP.

Em clima descontraído foram discutidos os rumos do carnaval, que envolvem a importância e a valorização dos profissionais que fazem essa grande festa; a crise econômica e política no setor; e o processo de criação e de desenvolvimento de um enredo.

Sobre o processo criativo, o carnavalesco João Vitor Araújo e o pesquisador Daniel Targueta contaram como foi a pesquisa e a criação do enredo “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin” para a Unidos de Padre Miguel, escola da Série A que irá desfilar no sábado (10/02/2018).

Tudo começou quando João Vitor pesquisou os enredos já apresentados pela UPM e descobriu que a escola nunca falou sobre a região norte do país. Com inspiração no livro “Órfãos do Eldorado”, de Milton Hatoun, o enredo irá apresentar a história de uma cidade submersa no rio Amazonas.

Uma cidade mágica, rica, justa e harmônica. Onde seus moradores vivem como seres encantados; onde o pajé é o único capaz de viajar para esta cidade e conversar com seus moradores, trazendo-os de volta para o nosso mundo.

“Na verdade, chamei você porque quero ir ao rio. Mas já não estás perto dele, homem? Sim, perto, mas não dentro. Quero mais que mergulhar. Quero ir além do murmúrio das águas. Imergir nessa imensidão. Quero adentrar toda sua profundidade. Prosa doida? Nunca ouviste falar na cidade que mora embaixo do Amazonas? Quem contava são os caboclos ribeirinhos daqui. Gente que vive rio abaixo, rio acima, nas palafitas do beiradão. São as histórias que eu ouvia quando brincava com os indiozinhos da aldeia, lá no fim da cidade. Há nessas terras um emaranhado de histórias assim, que habitam as curvas dos rios.” (trecho da sinopse da Unidos de Padre Miguel) 

Durante o processo de pesquisa Daniel Targueta descobriu que muitas das lendas do eldorado submerso são apresentadas em Parintins. Com isso, ficou definido que ao final do desfile terá uma referência a esse festival onde as lendas amazônicas ganham voz.

Esse enredo é inédito na avenida. Tanto o carnavalesco quanto o pesquisador não conheciam essas histórias, o Eldorado Brasileiro, com o nosso olhar, com as nossas lendas, é muito diferente do Eldorado Espanhol que já foi retratado na Sapucaí. Daniel afirmou, ainda, que: muito do que sabe sobre História, sabe pelas pesquisas que fez para o Carnaval.

Foto: Divulgação

O processo criativo do carnavalesco Mauro Quintaes e do pesquisador Gustavo Melo não é muito diferente. A escola paulista, Unidos do Peruche, irá apresentar o enredo: “Peruche celebra Martinho – 80 anos do Dikamba da Vila” uma homenagem a Martinho da Vila.

A dupla criativa afirmou que é preciso humildade e companheirismo para que seja desenvolvido um bom trabalho. No caso do enredo sobre Martinho, o historiador Gustavo Melo tinha muito material sobre o tema, o que facilitou um pouco o processo de criação. Por outro lado, falar sobre Martinho da Vila é muita responsabilidade, trata-se de um sambista e escritor conhecido e respeitado no Brasil e no exterior.

Foto: Divulgação

Sobre os temas apresentados no Carnaval, surgiu a questão: tudo pode ser enredo?

Para a professora Samile Cunha, sim, tudo pode ser enredo. Cabe ao carnavalesco fazer uma colagem do que já foi visto e vivido; fazer um paralelo do que já foi apresentado no carnaval com o que pode ser extraído do tema. Tudo é a forma como se conta a história.

Os enredos “mal-apresentados” na avenida, os equívocos ocorrem no desenvolvimento, na forma como a equipe pensou em contar a história; ou como os dirigentes da escola se relacionam com o patrocinador.

Por outro lado, para o historiador Gustavo Melo, nem tudo pode ser enredo. Dependendo do tema, há uma dificuldade em traduzir o abstrato em material que possa ser desenvolvido pelo carnavalesco e pelos compositores.

Para ele a palavra chave na escolha de um enredo é: pertinência. O tema deve ter importância para quem vai assistir o desfile, deve acrescentar informação.

O debate é sempre importante para a troca de ideias e, no caso, para o aperfeiçoamento do carnaval enquanto manifestação da cultura popular.

 

Por: Marilda Campbell – Colaboradora do Site Carnavalizados

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