Crivella, ouça os 5 sambas-enredo já definidos para o Carnaval de 2018

Querido prefeito Marcelo Crivella,

Sabemos o quanto o senhor é um grande apaixonado pelo Carnaval do Rio e o quanto Vossa Excelência tem lutado incansavelmente por essa festa. Reconhecemos também, Senhor Prefeito, o tamanho apreço que sua comunidade tem para com a cultura afro-brasileira, que respira a plenos pulmões n’O Maior Espetáculo da Terra, ao som dos tambores e atabaques. Por conta de tudo isso, tivemos o imenso prazer em reunir nesta publicação todos os sambas-enredo já escolhidos pelas Escolas de Samba para o Carnaval de 2018. Acreditamos que Vossa Excelência gostaria muito de ouvi-los. Sei que o senhor não vai se incomodar, mas antes precisamos pedir licença à Zé Pilintra para listar as composições. Por uma questão de respeito e segurança, sabe?

Laroiê Mojubá, Seu Zé! Vamos falar de samba.

Pois bem. Até o momento, cinco agremiações já escolheram seus hinos oficiais: Inocentes de Belford Roxo, Acadêmicos do Sossego, Alegria da Zona Sul, Renascer de Jacarepaguá, todas no Grupo de Acesso, e o Paraíso do Tuiuti, no Grupo Especial. Segura aí.

Como Vossa Excelência com certeza já sabe, a cultura afro-brasileira é a forma de expressão que emana dança, culinária, religiões de matriz africana, e, claro, música. E o samba de enredo é um estilo musical derivado, como o próprio nome já sugere, do Samba. Ele é a tradução, em letra e melodia, do enredo escrito pelo carnavalesco e/ou pelos pesquisadores das agremiações. É o trabalho feito por compositores para embalar um desfile de uma Escola de Samba.

É importante salientar, aliás, que o compromisso das Escolas de Samba é, principalmente, levar questões de cunho cultural para a Avenida. Certo, prefeito? Certo.

Sabemos também que o samba originou-se dos antigos batuques trazidos pelos africanos, muitos deles descendentes de reis e rainhas que vieram como escravos para o Brasil. E o samba-enredo nada mais é que uma vertente e um documento que conta muitas dessas histórias. Mas essa é apenas uma de suas funções. Os sambas também podem remeter ao passado ou falar de futuro. O samba é contestador. O samba é resistência. O samba é luta e vitória. O samba é nossa história contada e cantada. Daí a importância que temos que dar a ele, assim como ao Carnaval e a força que essa festa tem. Fora o impacto no turismo e o retorno financeiro para a cidade do Rio, e Vossa Excelência sabe disso mais do que ninguém, acreditamos.

O Rio. Logo o nosso Rio. Que possui o maior espetáculo a céu aberto do mundo, a maior manifestação cultural do mundo, o evento que atrai turistas de varias regiões do Brasil e também do exterior, que reuniu mais de um milhão de pessoas em três dias neste ano. Que hoje, inclusive, é reconhecido e premiado internacionalmente, graças ao The Trazee Awards 2017, que Concedeu ao Carnaval do Rio de Janeiro o prêmio de Melhor Evento do Mundo.

Realmente, Crivella, é de orgulhar.

Foi por isso que resolvemos vir aqui trazer para apreciação do senhor os sambas-enredo e seus temas MARAVILHOSOS já definidos para o carnaval do ano que vem. É claro que gosto é algo muito pessoal, cada um tem o seu, e o senhor pode não necessariamente gostar de todos os sambas aqui expostos. Normal. Mas nós, sambistas, aprendemos desde pequenos que o importante mesmo é respeitar. Gostando ou não. Afinal, é nossa herança. Nossa cultura. E como Vossa Excelência se orgulha de cuidar das pessoas e das manifestações dessa cidade (SEM DISTINÇÃO, NÃO É MESMO), sei que vai entender e respeitar.

Respeito é bom e a gente gosta.

Enfim. Diferente de anos anteriores, parte dos sambas já escolhidos foram definidos através do formato de encomenda. Ou seja, as agremiações buscaram renomados compositores do nosso carnaval para fazerem as obras para 2018, optando por não realizarem disputas em suas quadras com várias composições de diversos compositores participando. Então segura aí, Crivella! Teremos:

“Mojú, Magé, Mojubá. Sinfonias e Batuques” – Em 2018, a Inocentes de Belford Roxo exaltará na Avenida os aspectos históricos e culturais do município de Magé e sua relevância sócio cultural. O samba tem uma pegada afro maravilhosa, de arrepiar mesmo. Prefeito, tenho certeza que o senhor vai curtir o toque dos atabaques desse samba.

“Bravos Malês. A saga de Luiza Mahin” – A Alegria da Zona Sul traz um enredo muito forte. A escola do Pavão Pavãozinho e Cantagalo vai contar uma história forjada na coragem e valentia da negritude que almejou um Brasil livre da escravidão e das desigualdades sociais. Luiza Mahin, uma mulher guerreira vinda de Daomé e símbolo da resistência e da fé, será homenageada nessa obra. O samba também é muito forte e certamente vai incorporar até mesmo o cidadão mais distante dessa cultura maravilhosa que o Brasil herdou.

“De flechas e de lobos” – A Renascer de Jacarepaguá terá a missão de levar a Amazônia de Villa Lobos para Avenida, através da diversidade de sons e do rico folclore da floresta. Esse enredo é de uma beleza e relevância cultural maravilhosa, e o samba, assinado mais uma vez por Claudio Russo, Moacyr Luz e Diego Nicolau, segue a mesma linha. Mais uma vez, a Renascer vem com um belo samba para o Carnaval. Linda obra.

“Ritualis” – A Acadêmicos do Sossego terá como tema o símbolo dos poetas, da harmonia cósmica e da inspiração musical, fonte das mais primorosas melodias e comunhão de saberes. Por meio de uma viagem, multifacetada pela história dos rituais mais diferentes da humanidade ao longo dos anos, a Sossego escolheu um tema rico, de variadas possibilidades. Tema que deve interessar bastante ao senhor, prefeito Marcelo Crivella. O samba-enredo da Sossego, aliás, será o primeiro samba da história da Avenida sem utilizar um verbo sequer na letra.

“Meu Deus, Meu Deus! Está Extinta a Escravidão?” – O Paraíso do Tuiuti vai mostrar que é preciso nunca esquecer a Escravidão e oportunamente levará para a Avenida os 130 anos da Lei Áurea no Brasil. Na verdade, o tema proposto pelo carnavalesco Jack Vasconcelos levanta uma questão: está mesmo extinta a escravidão? Ou será que a libertação foi apenas uma maquiagem? A agremiação de São Cristóvão trará uma verdadeira aula da nossa história para o mundo. Coisas que só o Carnaval podem proporcionar, não é mesmo, prefeito? O samba-enredo do Tuiuti é outra boa obra, com excelente refrão do meio.


VEJA A LETRA E OUÇA OS SAMBAS

G.R.E.S. Inocentes de Belford Roxo
“Mojú, Magé, Mojubá. Sinfonias e Batuques”, do carnavalesco Wagner Gonçalves
Compositores: Cláudio Russo e André Diniz

UM BATUQUE AFRICANO ME CHAMOU
A PINTURA FEZ DA TELA, SEU LUGAR
OS PRAZERES VÃO SE REFLETIR
NAS HISTÓRIAS QUE EU VOU CONTAR
SAI O TREM DA ESTAÇÃO, PRA TRILHAR ESTA CANÇÃO
MOJU, MAGÉ, MOJÚBÀ!
LUZ DOS OLHOS DE OLODUMARÉ EM CADA AMANHECER

TOCA O ATABAQUE, ONDE A ÁFRICA APORTOU
CLAMANDO POR PIEDADE
TOCA O ATABAQUE, ONDE A LÁGRIMA APORTOU
MARIA CONGA ERGUEU A LIBERDADE

BENTA ÁGUA, RITOS TÃO DIVINOS
SENTIMENTOS CRISTALINOS
PUREZA A PÉ, PROCISSÃO
SE A FESTA É DE PEDRO NÃO DEMORA
NOSSA FÉ, SENHORA, DESTA ORAÇÃO!
A TRIBO QUE CHEGOU AQUI PRIMEIRO
DEU O NOME FEITICEIRO ÀS ENTRANHAS DESSE CHÃO

AUÊ, AUÊ NA RIQUEZA DA PINGUEIRA
PRA ESCORRER A DOÇURA BRASILEIRA

CAMINHO DO NOBRE METAL
PAVIO DE FOGO E FÉ
DA LUTA CONTRA O MARECHAL
AOS DRIBLES NA VIDA, MANÉ
FOLIA DE TODOS OS REIS
E O SAMBA DESABROCHANDO EM FLOR
NAS CORES DO PINTOR

QUEREM PEMBA, QUEREM GUIA,
QUEREM FIGA DE GUINÉ
AXÉ, MAGÉ
SINFONIA DE TAMBORES,
HOJE A GIRA VAI GIRAR
Ê MOJÚBÁ, Ê MOJÚBÁ

ÁUDIO: https://www.youtube.com/watch?v=oUvqYx5_E78


G.R.E.S. Alegria da Zona Sul
“Bravos Malês. A saga de Luiza Mahin”, do carnavalesco Marco Antônio
Compositores: Samir Trindade, Telmo Augusto, Fernandão, Girão, Marco Moreno, Marcelão da Ilha e Thiago Meiners (Part. Especial: Diego Tavares)

JEJÊ-NAGÔ ÔÔÔ ILUMINA MEU CAMINHAR
DIZIAM MEUS ANCESTRAIS, NA INFINITA IMENSIDÃO
VODUNS SÃO A MATIZ DA CRIAÇÃO
FUI BATIZADA, LUIZA, VI A FÚRIA DO INVASOR
EU SOU A VIRTUDE DE DAOMÉ
NO MEU SANGUE, A MINHA FÉ, BRAVURA PRA ENFRENTAR
CORAGEM NORTEANDO O MEU DESTINO
APRISIONADA AOS PORÕES NO ALÉM MAR

Ô SAUDADE QUE NAVEGA EM ÁGUAS CLARAS
FORTALEZA DE UM NOBRE CORAÇÃO
SALVADOR, ENTÃO “AFRICANIZADA”
NEGRA HERANÇA, RAIZ DO MEU CHÃO

LUTAR, PARA SEMPRE LUTAR
À LUZ DE ALLAH, A INSURREIÇÃO
NA PELE, A FORÇA QUE INFLAMA A NEGRITUDE
NA REVOLTA, ATITUDE PELA LIBERTAÇÃO
UM GRITO POR IGUALDADE, ORGULHO DOS ANCESTRAIS
A CHAMA QUE PERSISTE É ESPERANÇA
MESMO TRAÍDA NÃO ME CALAREI JAMAIS
A RAÇA NÃO SE CURVA A CHIBATA
POESIA ETERNIZADA NOS MEUS IDEAIS

BATE O TAMBOR… UM CANTO ECOA
Ô KOLOFÉ… KOLOFÉ MALÊ
INCORPORA MINHA ALMA AFRICANA
ALEGRIA É RESISTÊNCIA, FAZ O SONHO FLORESCER

ÁUDIO: https://www.youtube.com/watch?v=NQ4jipl58X8


G.R.E.S. Renascer de Jacarepaguá
“De flechas e de Lobos”, dos carnavalescos Alexandre Rangel e Raphael Torres
Compositores: Claudio Russo, Diego Nicolau e Moacyr Luz

EU VOU PEDIR A ILUMINADA LUA
QUE NO AZUL FLUTUA, PRA COMPREENDER
MINHA FLORESTA, MÃE DE TODA MATA
JÁ É MADRUGADA, O DIA VAI NASCER
O UIRAPURU EM SUA CANTORIA
FAZ A HARMONIA PRA CHAMAR DE AMOR

JÁ VAI BEM LONGE, O CURURU VIGIA
OUTRA MELODIA PRO COMPOSITOR

YARA SEGUE O SOM DA CORREDEIRA
O BOTO TRAZ A SEDUÇÃO
COBRA CORAL NO PÉ DA BANANEIRA
ALMA BRASILEIRA, ANUNCIAÇÃO
Ô Ô Ô PELA FLOR DO BURITI
UMA CUIA DE AÇAÍ
NO IGAPÓ DO TRACAJÁ
Ô Ô Ô PELOS OLHOS DE TUPÃ
A BELEZA DE CUNHÃ
AFINANDO O SABIÁ…
AS BACHIANAS SÃO UBIRAJARAS
IMAGINANDO UM CORAL DE SACIS
SOB O CÉU REPLETO DE ARARAS
VITÓRIA REGE A ORQUESTRA DE TUPIS
FESTA NA ALDEIA O ÍNDIO PEDE BIS
LAIÁ LAIÁ
SOU DE FLECHA
LAIÁ LAIÁ DE TACAPE E COCAR
AO BAILAR A BATUTA DO MAESTRO
RENASCE A TRIBO JACAREPAGUÁ

CANOEIRO, CANOEIRO
O VELHO CANDIEIRO ALUMIA
VILLA LOBOS, BRASILEIRO
FAZ DA RENASCER A SUA SINFONIA

ÁUDIO: https://www.youtube.com/watch?v=6xfis_FiDUQ


G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego
“Ritualis”, do carnavalesco Petterson Alves
Compositores: Felipe Filósofo, Ademir Ribeiro, Sérgio Joca, Orlando Ambrósio, Macaco Branco, Mário da Vila Progresso, Pacote, Xandinho Nocera, Fabio Borges, Ivan Câmara e Bertolo

OS ACORDES DA LIRA
NO SANTUÁRIO DA VIDA
DO SONO PROFUNDO À IMORTALIDADE
Ó NATUREZA A CADA COLHEITA, FERTILIDADE
ALIANÇA AOS FILHOS DE ABRAÃO
ALVORADA, ORIENTE EM ORAÇÃO
Ó CORDEIRO DE DEUS
REINO DO CÉU, REI DOS JUDEUS
LABAREDAS DE FOGO, LUA CHEIA, HERESIA
ENTRE A CRUZ E A ESPADA, SABÁ, BRUXARIA

SANGUE, SACRIFÍCIOS, CRÂNIOS NO ALTAR
CULTO AO SOL, BANHO DE ROSAS, MARACÁ
ESPÍRITOS DA FLORESTA, FEITICEIROS
CORPO E ALMA EM EQUILÍBRIO, CURANDEIROS

NEGRA MAGIA, OGANS, MAMBUS
ATABAQUES, RAÍZES VODUS
A SAIA NA GIRA, CINTILANTE AZUL
VELAS BRANCAS PARA O CRUZEIRO DO SUL
BRASIL, MAIS TOLERÂNCIA
SÚPLICA DE ESPERANÇA
MENSAGEM DE OLORUM
LÁGRIMAS DE OXALÁ NESSE CHÃO
PROTEÇÃO DO POVO DE ARUANDA
LAVAGEM PRA FESTA PROFANA

MORINGA, ÁGUA DE CHEIRO, ARRUDA E GUINÉ
MÃES DE SANTO NA AVENIDA, AXÉ
SALVE, SÃO SEBASTIÃO! OXÓSSI CAÇADOR!
SOSSEGO, RITUAL DE AMOR! SOSSEGO, RITUAL DE AMOR!

ÁUDIO: https://www.youtube.com/watch?v=MxBVHwydUAM


G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti
“Meu Deus, Meu Deus! Está Extinta a Escravidão?” do carnavalesco Jack Vasconcelos
Compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal

IRMÃO DE OLHO CLARO OU DA GUINÉ
QUAL SERÁ O VALOR? POBRE ARTIGO DE MERCADO
SENHOR, EU NÃO TENHO A SUA FÉ, E NEM TENHO A SUA COR
TENHO SANGUE AVERMELHADO
O MESMO QUE ESCORRE DA FERIDA
MOSTRA QUE A VIDA SE LAMENTA POR NÓS DOIS
MAS FALTA EM SEU PEITO UM CORAÇÃO
AO ME DAR ESCRAVIDÃO E UM PRATO DE FEIJÃO COM ARROZ
EU FUI MANDINGA, CAMBINDA, HAUSSÁ
FUI UM REI EGBÁ PRESO NA CORRENTE
SOFRI NOS BRAÇOS DE UM CAPATAZ
MORRI NOS CANAVIAIS ONDE SE PLANTA GENTE

Ê CALUNGA, Ê! Ê CALUNGA!
PRETO VELHO ME CONTOU, PRETO VELHO ME CONTOU
ONDE MORA A SENHORA LIBERDADE
NÃO TEM FERRO, NEM FEITOR

AMPARO DO ROSÁRIO AO NEGRO BENEDITO
UM GRITO FEITO PELE DO TAMBOR
DEU NO NOTICIÁRIO, COM LÁGRIMAS ESCRITO
UM RITO, UMA LUTA, UM HOMEM DE COR
E ASSIM, QUANDO A LEI FOI ASSINADA
UMA LUA ATORDOADA ASSISTIU FOGOS NO CÉU
ÁUREA FEITO O OURO DA BANDEIRA
FUI REZAR NA CACHOEIRA CONTRA BONDADE CRUEL

MEU DEUS! MEU DEUS!
SE EU CHORAR NÃO LEVE A MAL
PELA LUZ DO CANDEEIRO
LIBERTE O CATIVEIRO SOCIAL

NÃO SOU ESCRAVO DE NENHUM SENHOR
MEU PARAÍSO É MEU BASTIÃO
MEU TUIUTI, O QUILOMBO DA FAVELA
É SENTINELA DA LIBERTAÇÃO

ÁUDIO: https://www.youtube.com/watch?v=gij3UyMbbKA

 

Por Gabriel Cardoso e Claudio Rocha

Deixar uma resposta

Seu email não sera publicado. Campos obrigatórios *

*