Carnavalesco Gabriel Haddad - Foto: Marilda Campbell/ Site Carnavalizados

Série Barracões 2020: Renovação é a aposta da Grande Rio para se conectar com a sua comunidade e brigar pelo título

Quinta escola a desfilar no domingo de carnaval, a Acadêmicos do Grande Rio vai apresentar na passarela do samba o enredo, Tata Londirá: O canto do caboclo no Quilombo de Caxias, em que homenageará um famoso pai de santo, Joãozinho da Gomeia. Através da sua história, a tricolor da Baixada Fluminense vai propor na Sapucaí um debate sobre a intolerância religiosa. O Carnavalizados foi recebido no barracão por Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da agremiação, que falaram sobre a estreia no Grupo Especial e sobre o que pretendem levar para a Marquês.

Os jovens artistas vem de uma passagem de sucesso na Acadêmicos do Cubango. Foram dois carnavais na verde e branco de Niterói, com direito a dois Estandartes de Ouro e um vice-campeonato conquistado em 2019 com o enredo, Igbá Cubango – a alma das coisas e a arte dos milagres. Neste novo momento do carnaval, em que as escolas abrem suas portas a novas ideias e conceitos, a Grande Rio apostou todas as suas fichas no novo para buscar um reencontro com as suas raízes.

Carnavalesco leonardo Bora – Foto: Cristina Frangelli/Site Carnavalizados

Coube aos estreantes a responsabilidade de reintegrar a comunidade de Caxias com a sua escola, o que não chega a ser uma novidade para eles. Gabriel Haddad aponta semelhanças entre essa proposta e o desenvolvimento dos últimos carnavais à frente da Cubango:

“Estamos fazendo um trabalho muito parecido com o da Cubango, que é tentar reconectar a comunidade à escola de samba; fazer com que a cidade de Caxias se enxergue na Grande Rio durante os ensaios e durante o desfile. É muito gratificante ver que isso tem acontecido. É um resultado pré-desfile que já satisfaz bastante. Claro que o nosso objetivo é a vaga no desfile das campeãs e o campeonato, mas quando a gente vê a comunidade feliz e se identificando com a escola, ficamos imensamente felizes.”

O estilo de trabalho dos dois não mudou com a vinda para o Grupo Especial. A escala de tarefas, entretanto, devido às maiores proporções dos desfiles na elite do carnaval, é muito maior. Questionados sobre o que mudou com a ida para a Grande Rio, Haddad pontua:

“A nossa sala continua igual à da Cubango: uma sala onde se trabalha, que gente usa como ateliê, como espaço para confecção.

“Hoje o volume é muito maior e a gente não consegue fazer isso na mesma escala. Até porque a demanda burocrática ligada a nós é muito maior também, o que acaba tirando nosso tempo lá de baixo, das alegorias, que é uma coisa que a gente gosta muito de fazer.”

Aproveitamos a deixa sobre as alegorias para perguntar o que o público pode esperar do desfile da Grande Rio. As características artísticas impressas pelos carnavalescos nos últimos anos valorizam uma imagem artesanal no conjunto alegórico e de fantasias. Além disso, os carros costumam contar com uma volumetria menor, o que não é comum na nova escola que representam.

“Na verdade a gente tem uma característica grande que é se adequar à realidade de cada escola. A base estrutural dos carros da Grande Rio é muito parecida com a dos anos anteriores, o que é uma estratégia que a gente utiliza para economia de custos, algo que já fazíamos na Cubango. Os carros não eram necessariamente grandes ou pequenos porque a gente queria, mas porque era a realidade da escola. Construir um chassi totalmente do zero, fatalmente impactaria no investimento em fantasias, em produção, em uma pintura de arte mais qualificada ou em um acabamento melhor. Então, a gente joga muito olhando para essa estrutura prévia de cada escola”, revela Leonardo Bora.

“Sobre a questão dos detalhes, do cuidado, a proporção aqui é muito maior, mas a gente não abre mão dessas características, até por estar diretamente relacionado ao enredo. A gente vem desenvolvendo uma linha de enredos que, no nosso entendimento, permitem explorar essa linguagem dita artesanal, com materiais não tão usados no carnaval, com técnicas de confecção mais distantes do dia a dia de um barracão, que é muito preso a um trabalho repetitivo”, completa.

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

Na mesma linha de raciocínio, Haddad destaca que as estruturas que herdaram de Renato e Márcia Lage, que assinaram os últimos dois carnavais da Grande Rio, são grandes, com um chassi bem maior do que aqueles que tiverem em anos anteriores, o que exigiu um aumento de volume para o preenchimento das alegorias.

“O importante é que os carros vão ser do tamanho que tem que ser. Uns maiores, outros menores, mas todos dentro da leitura do tema, pertinentes às partes do enredo”, afirma Gabriel Haddad.

O debate sobre o conjunto alegórico continua e Leonardo Bora destaca que a questão da volumetria depende da leitura que é feita. Expõe que muitas vezes carros menores que os deles podem ser considerados maiores por adotar uma escultura grande. E revela que essa linguagem das esculturas gigantes não será utilizada ao longo do desfile. Ressalta, entretanto, que o número de esculturas que vão apresentar é bem grande.

“A gente está utilizando um volume de esculturas que há muito tempo a escola não apresentava. São inúmeras peças escultóricas, com pintura de arte, que é uma linguagem que nós gostamos e vimos no enredo a possibilidade de explorar.”

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

O estilo artístico que fez muito sucesso nos desfiles da Cubango está de volta no barracão da Grande Rio, aumentadas as proporções e a riqueza de detalhes que o Grupo Especial possibilita. Mas o olhar dito artesanal não deve ser esperado na totalidade do cortejo. A dupla aposta na diversidade, o que, garantem, já faziam na escola de Niterói.

“Atrás da estética escolhida a gente vai ter diversos setores diferentes. A abertura é mais artesanal; o segundo carro leva espelhos, que é um material muito utilizado pelas escolas há um tempo; no quarto setor a gente tem as plumas, por ser um setor ligado ao carnaval. Então a variedade de material depende do setor e da história que a gente está contando”, nos conta Gabriel Haddad.

Leonardo Bora, seu parceiro de trabalho, completa:

“É uma coisa curiosa: a segunda alegoria, por exemplo, não é lida como artesanal, por ser espelhada, mas ela tem um trabalho de metal batido que é totalmente manual, com tempo lento, distante da temporalidade corrida do carnaval.”

Esse uso de características artesanais, manuais, exige dos carnavalescos um maior planejamento, vez que o tempo de produção é muito maior, menos previsível. Para vencer o tempo, vez que a demanda de uma escola do Grupo Especial é superior, os carnavalescos realizaram oficinas dentro do barracão com professores e alunos da Escola de Belas Artes, da PUC e do Instituto Federal. Assim, não só renovaram os olhares sobre o carnaval como garantiram um número maior de profissionais dedicados à execução do projeto.

Para desenvolver o enredo, Haddad nos conta que foi o processo de pesquisa mais intenso que fizeram. Além de livros, teses, artigos, buscaram conversar com frequentadores do centro de João e com pessoas próximas ao pai de santo. Foi importante, também, a pesquisa em jornais. Joãozinho da Gomeia sempre teve uma grande visibilidade, seja pela importância religiosa ou mesmo por sua participação ativa no carnaval. A fama do seu terreiro atraía gente de todas as partes, anônimos e famosos. Artistas e políticos frequentavam seus cultos em Caxias. Pessoas como Dercy Gonçalves, Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Jorge Amado, entre tantos outros.

A participação em concursos de fantasias de luxo, o espaço do terreiro, a presença de frequentadores ilustres, tudo isso permite aos carnavalescos uma riqueza de visualidades, as quais utilizaram como referências ao seu desfile, como exemplifica Leonardo Bora:

“O Jorge Amado, por exemplo, traz consigo uma visualidade inteira: as fotografias do Pierre Verger, as aquarelas do Carybé. Tudo isso a gente absorve e traz para o enredo. Em toda a parte dedicada ao carnaval a gente vai beber na fonte das decorações de rua, do Fernando Pamplona, daquela revolução estética que estava mudando a cara do carnaval carioca no final da década de 50.”

Com tantas inspirações, o que pode ser esperado do carnaval da Grande Rio é um desfile plural, com uma estética diferente da que a escola está habituada, mas de extremo bom gosto. Com um samba forte e uma comunidade empolgada com a nova fase de resgate das raízes, a escola promete fazer um grande carnaval. Seu desfile será dividido em seis setores, com cinco alegorias e três tripés. Enquanto Bora assume ser fã de carros menores e da linguagem dos tripés, Haddad diz gostar de carros médios e grandes. Assim, alegorias diversas atravessarão a Sapucaí, garantindo um conjunto diversificado, mas sem perder a integração um com o outro.

A tricolor de Caxias vem com garra em busca de um título no Grupo Especial.

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

Detalhes Barracão Grande Rio – Foto: Cristina Frangelli/ Site Carnavalizados

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