Parceria de Jefinho vence disputa na Mocidade 2019 - Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Paixão que inebria! Jefinho e Cia Emocionam e Vencem Disputa na Mocidade

O tempo é o senhor da razão, diz o ditado. Armazenando o tempo em seu enredo, a Mocidade Independente pretende, entretanto, movimentar a emoção de sua comunidade, torcida e do público no encerramento do próximo carnaval.

Última escola a desfilar pelo grupo Especial, na segunda-feira, dia 4 de março de 2019, a Mocidade foi a primeira agremiação da elite do carnaval a realizar a grande final da disputa de samba enredo, no sábado passado (22). Antecipação no calendário que é parte de um planejamento para finalização dos trabalhos com uma confortável folga até o desfile, podendo voltar toda a dedicação aos ensaios.

Eu sou o tempo. Tempo é vida. Com este enredo autoral assinado pelo carnavalesco Alexandre Louzada, com o apoio do renomado designer, Hans Donner, a Estrela Guia de Padre Miguel pretende brilhar na Marquês de Sapucaí. O fará com um olhar sobre o tempo da natureza, formado de repetidos dias e noites e seus fenômenos naturais; o tempo do homem, medido por relógios, ampulhetas e outros artefatos, somado ao aprisionamento dos diversos períodos da humanidade em museus, na arqueologia e outras ciências dedicadas ao passado, presente e futuro; e sobre o tempo da própria escola, matando a saudade dos mestres que construíram a trajetória de sucesso da verde e branco da zona oeste.

O Maracanã do Samba, como é conhecida a grandiosa quadra da Avenida Brasil, inaugurada em 2012, abriu as portas para um público ansioso e entusiasmado com o momento da escola, que vive uma fase de orgulho e envolvimento com sua comunidade. Vale lembrar que a Mocidade voltou a usar sua antiga quadra durante todo o período de corte de samba, uma reivindicação daqueles que viram na mudança para o endereço novo um distanciamento das suas raízes e dos seus componentes. A retomada do berço histórico contou com a participação intensa dos apaixonados pela agremiação, seja por contribuição financeira, através de campanha de financiamento coletivo, ou pelos mutirões de limpeza que colocaram ordem na casa.

Em conversa com o Carnavalizados, o vice-presidente Rodrigo Pacheco destacou a importância dessa aproximação com a comunidade, fruto dos bons resultados alcançados nos últimos carnavais e dos esforços de retomada da quadra tradicional: “isso reflete no resultado! Estamos cada vez mais fortes, cada vez mais alcançando os resultados, as boas notas. Isso é a demonstração nítida de que a comunidade realmente está vindo com a gente. Não existe escola de samba sem a comunidade. Não existe o samba, a bateria: não existe nada! O primordial é a comunidade. Fico muito feliz com o que está acontecendo. Cada vez mais a comunidade se sente à vontade dentro da escola, cada vez mais está participando das atividades. Para a disputa de samba nós ouvimos todos os segmentos. Todos votaram nos seus sambas para que a gente tenha um parâmetro real do que a escola está querendo. Isso tudo me deixa muito orgulhoso e com a certeza de que estamos no caminho certo”.

Sobre as quatro obras finalistas, Rodrigo Pacheco ressaltou a liberdade de trabalho dos compositores: “na Mocidade os compositores trabalham totalmente à vontade. Vocês podem ver que nós temos sambas que fogem daquela linha de raciocínio básica da sinopse do enredo. Isso deixa caracterizado que essa liberdade é total. A partir da escolha é que a gente senta, pega a obra vencedora e analisa a necessidade de ajustes. Provavelmente alguns ajustes acontecerão, porque dentro do que precisamos para o resultado temos que ajustar para a voz do cantor — que tem um tom diferente dos que defenderam—, e uma letra daqui ou dali para ajustar no enredo. Isto com certeza será feito”.

Ao ser questionado sobre as notas do último desfile e o que precisa ser corrigido, o vice-presidente afirma: “nós tínhamos algumas coisas a corrigir e já temos trabalhado nelas, principalmente na parte de fantasias, que foi onde nós perdemos o carnaval. Para o restante nossa visão é de aprimorar. A Mocidade foi a escola que mais tirou notas dez no último carnaval, o que demonstra que os quesitos estão fortes. Agora o trabalho é pela manutenção dessa força e pelo aprimoramento, óbvio, porque a gente sempre tem que melhorar para alcançar mais”.

Quanto aos maiores desafios na construção do carnaval, Rodrigo Pacheco é categórico: “o maior desafio da Mocidade é o maior desafio do carnaval como um todo. É a crise financeira que assola o país; é a inconstância do nosso poder público na exatidão de datas, valores, apoios. É a maior dificuldade, mas é do carnaval como um todo. Apesar de tudo, eu acho que todas as escolas estão se preparando mais para poder passar por esse obstáculo.

Quadra renovada para a festança por vir, público entusiasmado chegando aos montes e as parcerias prontas para fazer uma noite de fortes emoções. O tapete vermelho para a passagem dos convidados principais, os concorrentes, foi estendido pelo grupo Simples Assim, que chamou no pé os clássicos do samba.

Essa seria só a primeiro fagulha. Encerrada a apresentação foi a vez da Bateria Não Existe Mais Quente estremecer os alicerces. Um trabalho surpreendente que vem sendo desenvolvido pela equipe do Mestre Dudu, que nos últimos anos restabeleceu a força e vitalidade dos tambores da bateria que é parte importantíssima na história do carnaval e do samba enredo, mas que andava um tanto desacreditada, distante do seu potencial de notas máximas. Uma exibição incendiária, que elevou a temperatura e euforia de quem ali estava.

Daí em diante, com os corpos em ebulição, tudo o que viria seria parte de uma noite de sucesso. E por falar em sucesso, o intérprete da casa, Wander Pires, assumiu o microfone para relembrar os grandes momentos da história da escola. No ponto alto da exibição, colocou o povo em chamas como se revivesse a Sapucaí ao entoar o samba de 2017, ano em que a agremiação retratou a cultura do Marrocos e sagrou-se campeã após uma polêmica reivindicação do título. A forma como alcançou o campeonato, aliás, já não faz a menor diferença diante da marca que o samba de qualidade inquestionável deixou nos amantes do carnaval. Se um sujeito sequer resistiu ao aclamado verso, “sonha Mocidade”, não se conteve quando do palco ouviu o samba de 2018, em homenagem à Índia. Com uma letra primorosa e evoluções rítmicas de tirar o fôlego, a quadra veio abaixo, provando que o amor da Mocidade não tem início, meio e fim.

Já passava das duas da manhã quando a disputa começou de fato. Quatro sambas qualificados que comprovaram que a escola caminha na direção certa, superando períodos pouco competitivos em sua história recente.
A primeira parceria a se apresentar foi a composta por Domenil, Marcelo do Rap, Jairo Santos, Dr. Márcio, Professor Laranjo, Márcio Ribeiro, Rodrigo Motta e Fábio Arerê. Trouxeram uma torcida entusiasmada, que somou-se a uma quadra quente, fazendo uma bela apresentação.

O segundo samba a se apresentar foi a composição de Denilson do Rozário, Léo Peres, Carlinhos da Chácara, Alex Saraiça, Marcelo Casa Nossa, Darlan Alves, Gui Cruz e Lula. Seu desempenho foi um tanto inferior, mas manteve o brilho da noite.

O momento mais esperado, entretanto, ainda estava por vir. Os dois últimos sambas foram os mais esperados, pois dividiam o favoritismo da comunidade. Eis que sobe ao palco a parceria de Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit Stop, Orlando Ambrosio e Cabeça do Ajax. O intérprete Tinga soltou o bicho e fez do samba um rolo compressor. Uma apresentação suficiente para indicar a preferência da maioria pela obra.

A competição foi encerrada pelo samba de J. Giovanni, Ricardo Simpatia, Gustavo Soares, Solano Santos, Jedir Brisa, Dudu Educar, G. Alves e Igor Vianna. Zé Paulo Sierra e Igor Vianna dividiram o microfone com sua garra característica, mas mesmo tendo uma bela obra em mãos e uma torcida relevante, a exibição não atingiu a apoteose do anterior.

Após uma apresentação dos passistas da escola para preencher o tempo entre a competição e o anúncio do vencedor, a diretoria tomou o palco para o momento mais aguardado da manhã do domingo, que amanhecia com olhar atento para aquele cantinho da zona oeste.

O vice-presidente, Rodrigo Pacheco, fez um discurso entusiasmado, em que destacou a importância do modelo de disputa de samba para a renovação da ala de compositores da comunidade. Wander Pires, então, retornou ao microfone para se despedir do samba de 2018, que foi seguido pelo grande campeão da noite. Como disse o vice-presidente, a vitória foi dada ao samba que se destacou na noite.

Assim, a parceria de Jefinho Rodrigues sagrou-se como a grande vencedora. E a festa não parou mais. O sol raiou e Padre Miguel ainda estava no samba. A ebulição de uma paixão inebriante que só há de parar em março de 2019.

Jefinho, que também emplacou o samba vencedor na Unidos de Padre Miguel no mês passado, vence pela 9ª vez na Mocidade, igualando a marca de Dico da Viola e ficando atrás apenas do grande mestre Tôco (12 vitórias), no ranking dos maiores vencedores da escola. O compositor levou para a Avenida os sambas dos anos de 1994, 1996, 2000, 2002, 2009, 2013, 2014, 2016 e, agora, 2019.

Confira abaixo a letra do samba:

Compositores: Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit’sTop, Orlando Ambrosio e Cabeça do Ajax

OLHA LÁ MENINO TEMPO
TENHO TANTO PRA CONTAR
ERA EU, GURI PEQUENO
PÉS DESCALÇOS, MEU LUGAR
QUANDO UM TOCO DE VERSO ÔÔÔ
SEMEOU A POESIA ÊLÁIÁ

EU COLHI À FLOR DA IDADE
FIZ DE MINHA MOCIDADE
O RAIAR DE UM NOVO DIA

BAILA NO TEMPO, DEIXA O TEMPO PARAR
NAS VIRADAS DESSA VIDA, VOU SEGUIR MEU CAMINHAR
AH QUEM ME DERA VER O TEMPO VOLTAR
E REENCONTRAR O MESTRE NA AVENIDA

DESMEDIDO CORAÇÃO
NO CONTRATEMPO DESSA ILUSÃO
ORA MACHUCA, ORA “CURA DOR”
DO MEU DESTINO COMPOSITOR
TEMPO QUE FAZ A VIDA VIRAR SAUDADE
GUARDA MINHA IDENTIDADE
INDEPENDENTE RELICÁRIO DA MEMÓRIA
PADRE MIGUEL O TEU GURI JÁ NÃO CAMINHA TÃO DEPRESSA
MAS NUNCA É TARDE PRA SONHAR
VAMOS LÁ A HORA É ESSA

SENHOR DA RAZÃO, A LUZ QUE ME GUIA
NOS TRILHOS DA VIDA ESCOLHI TE AMAR
ESTRELA MAIOR, PAIXÃO QUE INEBRIA
EU CONTO O TEMPO PRA TE VER PASSAR

Confira as imagens da Final de Samba:

Parceria de Jefinho vence disputa na Mocidade 2019 – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Primeiro Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas – Foto: Ruan Rocha/ Carnavalizados

Segundo Casal Jeferson Pereira e Bruna Santos – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

Parceria de Jefinho Rodrigues – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Parceria de Jefinho Rodrigues – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados


Wander Pires – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Marquinhos Marino e Vô Macumba – Foto: Pablo Sander / Carmavalizados

 

Velha Guarda Mocidade – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

Baianas Mocidade – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Solange Cruz – presidente da Mocidade Alegre; Luciana Silva presidente da Tom Maior; Simone Drumond; e Tia Nilda – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

Cíntia Abreu – Foto: Ruan Rocha / Carnavalizados

 

 

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