Matheus Olivério e Squel Jorgea - Foto: Marcelo Moura

Em Mangueira não é Pecado Sambar

Escola define o samba-enredo para o Carnaval 2018

A madrugada deste domingo (08/10) foi de muita alegria para a comunidade mangueirense. A escolha do samba-enredo que vai ecoar na Marquês de Sapucaí no próximo ano já era anunciada como uma antecipação da folia no Palácio do Samba. Convidados para um grande baile de carnaval, com início previsto para as 20h, a comunidade e visitantes compareceram em peso e com energia renovada para cruzar a madrugada sem perder a fantasia.

A noite começou, como prometido, em clima de baile. Sambas e marchinhas, confetes e serpentinas, trenzinhos no meio do salão. Uma atmosfera que projetou os presentes diretamente para fevereiro. Foi a introdução ideal para o enredo do talentoso carnavalesco, Leandro Vieira — “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco” —, um manifesto em favor do carnaval como identidade cultural do povo brasileiro. O título é inspirado na marchinha carnavalesca dos anos 1940, “Eu brinco”, e fala da importância da festa enquanto cultura popular, desde o entrudo, do Bumbo do Zé Pereira, dos cordões, ranchos, das grandes sociedades e do carnaval de rua; além de mostrar que, mesmo sem dinheiro, cada um tem o direito de ser feliz e brincar até que Momo decrete o fim dos seus dias de folia. É, também, uma grande sátira ao corte da subvenção para o carnaval, uma crítica que questiona padrões e modelos impostos pelos desfiles atuais.

Carnavalesco Leandro Vieira – Foto: Marcelo Moura

Quando os metais do grupo “Os Clarins da Mangueira” deixaram o palco, foi a vez dos anfitriões aquecerem ainda mais a multidão que se aglomerava em todos os cantos. Os diferentes segmentos da Escola tomaram o centro da quadra enquanto alguns dos sambas marcantes da Estação Primeira colocavam o povo para cantar e sambar, ao ritmo da eletrizante bateria comandada pelo mestre Rodrigo Explosão.

Mestre Rodrigo Explosão – Foto: Marcelo Moura

Mestre Rodrigo Explosão e Evelyn Bastos – Foto: Marcelo Moura

Mestre Rodrigo Explosão, simpático e seguro da sua responsabilidade com seus 160 ritmistas, falou ao Carnavalizados sobre o Carnaval 2018, mas não abriu o jogo quanto as bossas que vai fazer no desfile. “Não posso dizer o que será feito sem ter o samba definido. O samba é que nos dá sentimento pra fazer acontecer. Após a escolha, vamos começar a pensar as bossas para o desfile.”

E quando os corpos já atingiam o nível máximo de euforia, chegou a hora das torcidas invadirem os corações mangueirenses, em busca da aprovação de um dos três sambas como o hino que servirá de base ao desfile da agremiação no próximo carnaval.

Apostando na força da comunidade, as parcerias de Tantinho da Mangueira, Rodrigo Pinho e Lequinho, respectivamente, apresentaram suas obras com torcidas empolgadas, ávidas pelo direito de representar a verde e rosa em 2018.

“Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal. Pecado é não brincar o carnaval”

Parceria Lequinho – Foto: Marcelo Moura

Mas foi a última apresentação, com a composição de Lequinho, Júnior Fionda, Alemão do Cavaco, Gabriel Machado, Wagner Santos, Gabriel Martins e Igor Leal, uma parceria de campeões, que chegou com a força que se espera do povo de Mangueira. A obra entrou com ar de vitória, cantada a plenos pulmões não só pela torcida, mas pelo público que ainda lotava a quadra na alta madrugada e que abraçou o samba com a esperança de ser este o ideal para a conquista de mais um título para a Escola. A parceria deixou o palco aos gritos de “é campeão”, uma aprovação orgulhosa para os compositores.

Igor Leal um dos compositores do samba vencedor, fala ao Site Carnavalizados como foi o desenvolvimento do samba que levou quase dois meses para ser finalizado:
“É um enredo de resgate, de resistência, de trazer a lembrança de antigos carnavais e lutar pelo nosso samba. Tentamos fazer um samba a altura do enredo. Levantamos a bandeira do samba, que derruba todos os preconceitos, que resgata a memória dos nossos ancestrais. Tentamos mostrar a questão da redução de verba ao carnaval de forma poética, sem dar muita ênfase a isso. Como falamos no nosso refrão do samba: ‘eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal. Pecado é não brincar o carnaval.’ Porque é um pecado realmente não brincar o carnaval. Nosso carnaval não é pecado. O que a gente ama, não é pecado. O samba não é pecado. O carnaval é a maior manifestação cultural desse país”.

Os minutos de suspense entre as apresentações e o anúncio do vencedor não baixaram a excitação. Aproximava-se de 4h da manhã quando o presidente, Chiquinho da Mangueira, declarou como vencedor o último samba a se apresentar, confirmando o que era esperado após a exibição com pegada forte que esse acabara de fazer. E a festa não parou mais! O intérprete oficial, Ciganerey, assumiu o microfone e entoou pela primeira vez o novo samba da Estação Primeira.

Presidente Chiquinho – Foto: Marcelo Moura

Ciganerey – Foto: Marcelo Moura

A voz do povo embarcou nesse cordão e a multidão tomou a rua. Na frente da quadra, mestres-salas, porta-bandeiras, compositores, carnavalesco, todos misturavam-se à aglomeração mostrando que essa festa irá perdurar até 2018.

A Mangueira será a sexta Escola a cruzar a passarela no domingo, dia 11 de fevereiro, com um recado claro aos opositores da festa popular: “pecado é não brincar o carnaval”!

 

Veja a letra do samba vencedor:
Autores: Lequinho, Júnior Fionda, Alemão do Cavaco, Gabriel Machado, Wagner Santos, Gabriel Martins e Igor Leal.

Chegou a hora de mudar
Erguer a bandeira do Samba
Vem a luz à consciência
Que ilumina a resistência dessa gente bamba
Pergunte aos seus ancestrais
Dos antigos carnavais, nossa raça costumeira
*Outrora marginalizado já usei papel barato*
*Pra desfilar na Mangueira*
A minha escola de vida é um botequim

Com garfo e prato eu faço meu tamborim
Firmo na palma da mão, cantando laiálaiá
Sou mestre-sala na arte de improvisar
Ôôô somos a voz do povo
Embarque nesse cordão
Pra ser feliz de novo
Vem como pode no meio da multidão
Não… Não liga não!
Que a minha festa é sem pudor e sem pena
Volta a emoção
Pouco me importam o brilho e a renda
Vem pode chegar…
Que a rua é nossa mas é por direito
Vem vadiar por opção, derrubar esse portão, resgatar nosso Respeito
O morro desnudo e sem vaidade
Sambando na cara da sociedade
Levanta o tapete e sacode a poeira
Pois ninguém vai calar a Estação Primeira

Se faltar fantasia alegria há de sobrar
Bate na lata pro povo sambar
Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal
Pecado é não brincar o Carnaval!

 

Confira algumas fotos da final de samba-enredo:

Péricles – Foto: Marcelo Moura

Torcida – Foto: Marcelo Moura

Amanda Poblete, Selminha Sorriso e Lucinha Nobre

Renato Sorriso e Evelyn Bastos – Foto: Marcelo Moura

 

Por: Cristina Frangelli e Ruan Rocha

Fotos: Marcelo Moura

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