Parceria de Samir Trindade - Foto: Ruan Rocha

“É Melhor se Segurar”! Samba da Parceria de Samir Trindade é campeão na Portela

Existem versões distintas sobre a origem do samba. Se ele veio da Bahia ou da Pedra do Sal não há como provar. Duas coisas, porém, são certas: se não sabemos onde nasceu a criança, temos absoluta certeza que cresceu nos corações de uma gente batalhadora e feliz; e fez morada em Madureira. Os tambores que ressoam por lá abrem as portas da casa e confirmam a intimidade do ritmo com o lugar. Alguns desses tambores guardam na sua história a força de uma saudação a Oxóssi, protetor de um solo sagrado chamado Portela.

Foi na Portela a grande festa da última sexta-feira. Iluminou sua quadra com um céu de vinte e duas estrelas, determinada a escolher o melhor dentre os quatro sambas finalistas, aspirantes a hino da agremiação para o próximo carnaval.

A euforia foi tanta que as portas da quadra precisaram ser fechadas por alguns instantes para controlar a entrada e baixar os ânimos mais exaltados, momento que não fez jus ao clima de alegria de organizadores e convidados.

Dentro da quadra, entretanto, a noite seguiu sem problemas. O grupo de pagode abriu os festejos com muito samba, claro. Após a apresentação, a Tabajara do Samba, bateria regida pelo Mestre Nilo Sérgio, assumiu seu posto de respeito e mostrou toda a sua força, comprovando a razão da nota máxima conquistada no último desfile.

Mestre Nilo Sérgio – Foto: Ruan Rocha

“As divisões de instrumento estão certas. Melhorar a gente tem que melhorar. Não podemos achar que a bateria está boa. Precisamos melhorar a cada ano. Acertos ali, acertos aqui, sempre melhorando. Para 2018,  com essa pegada nordestina. eu quero fazer uma bossa e colocar triangulo, não será uma ala de triangulo, mas vou fazer um “Luiz Gonzaga”. Estou imaginando um frevo junto com um forró. Acredito que vá dá certo. Vai ficar legal”, comemora Mestre Nilo.

Foi com esse ritmo irresistível que a quadra se jogou e os segmentos tomaram o palco na exibição do que uma Escola tem de mais precioso: sua comunidade apaixonada. Baianas, velha guarda, passistas e os casais protetores do pavilhão da azul e branco de Madureira. Todos exibiram seu orgulho enquanto o intérprete, Gilsinho, executava grandes sambas de uma das agremiações mais tradicionais do carnaval carioca.

Marlon Lamar e Lucinha Nobre – Foto: Ruan Rocha

A razão da festa, entretanto, ainda estava por vir. Anunciados trinta e cinco minutos para cada grupo concorrente apresentar seu samba, a disputa teve início por volta de 2h20 da madrugada. Revezaram-se no palco as parcerias de Jorge do Batuke, o Samba dos Crias, Samir Trindade e Marquinhos do Pandeiro.

O samba rasgou a noite e abriu espaço para o sol brilhar. Já era manhã de sábado quando o presidente, Luiz Carlos Magalhães, subiu ao palco para anunciar a obra escolhida. A honra de representar a Escola vinte e duas vezes campeã do carnaval foi entregue à parceria composta por Samir Trindade, Elson Ramires, Neyzinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, J. Salles e Girão, grupo de compositores que vem deixando sua marca na Portela. Liderado por Samir Trindade, o grupo de compositores conquistou a terceira vitória consecutiva na azul e branco.

“Nosso samba ganhou porque é um samba popular e com a cara da Portela. O portelense aclamou nosso samba. Ele conquistou os portelenses desde a primeira audição. Estamos muito felizes com essa vitória”, festejou Samir Trindade.

A festa no Portelão contou com a presença de diversas personalidades do Carnaval, como a porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija-Flor, o comentarista de Carnaval Milton Cunha, a presidente do Salgueiro, Regina Celi, a presidente da Mocidade Alegre (SP), Solange Cruz, além de parte da diretoria da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). O músico Armandinho também foi outra presença ilustre.

Segunda a desfilar na segunda-feira de carnaval, mais orgulhosa do que nunca, a “campeã das campeãs de Madureira” tem a missão de repetir o grande desempenho de 2017, mantendo o título em suas mãos. Para a tarefa conta com a competência e criatividade da supercampeã, Rosa Magalhães, que, de volta à agremiação, assina o enredo, “De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá…”, fruto do já esperado trabalho de pesquisa minucioso da carnavalesca, sempre disposta a revelar uma página da história pouco explorada.

Inspirada em poesia de cordel, a águia altaneira viaja em busca da vigésima terceira estrela a completar sua constelação de títulos gravados na memória do carnaval.

 

Confira a letra do samba campeão

Autores: Samir Trindade, Elson Ramires, Neyzinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, J. Salles e Girão

Vamos simbora povo vencedor
Contar a mesma história
Sou nordestino, estrangeiro, versador
Eh eh eh viola…
Vem do arrecife oio azul cabra da peste
No doce do meu agreste, querendo se lambuzar
Oi o mar maré de saudade , oi o mar
Pedindo paz a Javé, perseguido na fé
O imigrante veio trabaiá
Oh, saudade que vai na maré
Passa o tempo e não passa a dor
E um dia Pernambuco seu irmão reconquistou

Luar do sertão, ilumina…
Pra quem deixou esse chão, triste sina
Ô cumpadi em seu peito leva um dó
Cada um em seu destino e a tristeza dá um nó

Vixi maria lá no meio do caminho
Tem pirata no navio
O pagamento não foi ouro nem foi prata
Essa gente aperriada foi, seguindo
Ô gira ciranda, vai a chuva vem o sol, deixa cirandar

Entra criança, homem, muié
No abraço dessa terra só não fica quem não quer

É legado, é união, é presente, igualdade
É “Noviórque” pedestal da liberdade
A minha águia em poesia de cordel
22 vezes minha estrela lá no céu

Lá vem Portela é melhor se segurar
Coração aberto quem quiser pode chegar
Vem irmanar a vida inteira
Na campeã das campeãs em Madureira

Link com clipe do samba

Confira as fotos da final:

Rosa Magalhães com Marlon Lamar e Lucinha Nobre – Foto: Ruan Rocha

Presidente Luis Carlos Magalhães e Bianca Monteiro – Foto: Ruan Rocha

Presidente Luis Carlos Magalhães – Foto: Ruan Rocha

Torcida – Foto: Ruan Rocha

Intérprete Gilsinho – Foto: Ruan Rocha

Baianas da Portela – Foto: Ruan Rocha

Passistas – Foto: Ruan Rocha

Lucinha Nobre e Selminha Sorriso – Foto: Ruan Rocha

Velha Guarda – Foto: Ruan Rocha

Torcida – Foto: Ruan Rocha

 

Por: Cristina Frangelli, Ruan Rocha e Marilda Campbell

 

 

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