Carnavalesco Paulo Barros - Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

Barracões 2019 – Unidos do Viradouro: O Fascinante Reino da Ilusão

Da Série Barracões 2019 – Unidos do Viradouro

O carnaval se aproxima e os trabalhos na Cidade do Samba seguem em ritmo intenso. Fomos ao barracão da Unidos do Viradouro conversar com o carnavalesco, Paulo Barros, e descobrir as muitas histórias que a escola vai contar na avenida.

Com o enredo ViraViradouro, a vermelho e branco de Niterói pretende mergulhar em um mundo de fábulas para reencontrar sentimentos adormecidos. Barros nos explica:

“esse enredo trata de uma mensagem onde a gente tenta resgatar todos os sentimentos que perdemos quando ficamos adultos: a inocência, a fantasia, a alegria, o encanto. Tudo o que as crianças tem de mais bonito. Quando a gente fica velho, perde tudo isso. O enredo é um livro cheio de magias que a nossa avó está nos trazendo. Ela quer recontar essas histórias para trazer de volta esses sentimentos e fantasias perdidas ao longo da vida.”

A liberdade para criar é algo que o carnavalesco destaca como inspiração para viajar nesse mundo da imaginação: “esse enredo não era algo que tinha na manga. Ele foi escolhido através de uma estratégia da Viradouro de estar de volta ao grupo especial, ter um enredo que servisse plasticamente para ela e que, principalmente, me servisse. A gente tem que agradecer a quem tem mérito. O mérito da Viradouro foi falar: escolha um enredo que tenha a sua cara. Esse foi o maior respeito que eles tiveram. Me deixaram a vontade. De todos os temas que foram colocados na mesa, o mais votado foi esse. As pessoas olhavam para o enredo e falavam: é a sua cara.”

Para a concepção, Paulo foi atrás de referências que causam uma identificação direta no público. Para ele, “o desfile não precisa de um manual para ser lido. Busco no universo plástico do carnaval, do teatro, do cinema, imagens que tenham uma identidade próxima ao público, para ele olhar e reconhecer o que está vendo”.

Destaca, entretanto, que sua marca não é, necessariamente, utilizar personagens do universo pop para se conectar com o espectador. “A minha marca é usar os artifícios que estejam no imaginário das pessoas, no seu dia a dia”.

Outra característica do seu trabalho é evitar o acúmulo de informações nas alegorias, o que, para ele, permite um entendimento direto, definido, da história que quer contar.

“Eu não encaro o carro alegórico como uma coisa que tem que passar. Eu encaro ele como uma cena. Na maioria das vezes alguma coisa acontece. E no desfile da Viradouro 90% dos carros serão baseados em cenas. Por conta disso eu nunca aposto em um carro como ponto alto do desfile. Eu aposto nos carros. Talvez um deles sobressaia ao outro; e talvez um sobressaia ao próprio desfile. Um exemplo disso foi o carro sobre a tragédia de Mariana que fiz na Portela. Eu esperava que ele fosse se comunicar com o público. Mas mesmo sem dizer nada, a mensagem dele era tão forte que roubou completamente a cena e isso não era esperado.”

Tratar de situações nas alegorias é não só a fonte do seu sucesso, mas também onde encontra os maiores desafios:

“Uma coisa que eu digo é que um carro meu não pode voltar para a avenida nunca. Eles são muito específicos. Eles tem uma leitura e um design muito próprios. Eu durmo com o barulho de ter que arrumar soluções plásticas que não tenham semelhança com outros carros que já fiz. Lógico que por vezes eles são muito próximos ou parecidos estruturalmente, mas as cenas que acontecem neles é outra.”

Para este desfile, “a reflexão que eu proponho acontece através das histórias. A avó abre o livro e começa a contar essas histórias. Começamos falando quem são os responsáveis por fazer com que a gente se encante, os encantadores. Em seguida trazemos os encantos que eles provocam. Aí vão vir os contos de fada, os amaldiçoados, os condenados a viver sob essas maldições e muito mais. Até que no final entramos em uma floresta encantada, que também faz parte do universo infantil, e que vai promover o renascimento da fantasia através da Fênix”.

Este carnaval marca não só o retorno à escola de Niterói, como o reencontro com Mestre Ciça, com quem interagiu vigorosamente quando esteve na Viradouro na década passada. Uma das imagens mais marcantes que a dupla construiu foi elevar a bateria a um carro alegórico, no desfile de 2007. Para o mestre, que retoma o comando da Bateria Furacão Vermelho e Branco após uma bem sucedida passagem pela União da Ilha, Paulo não economiza elogios:

“A dobradinha com o Ciça dá certo porque, independente do que eu sugira ou do que ele venha a sugerir, tudo é sempre feito em consenso. Não adianta eu criar alguma coisa e fazer algo que interfira na bateria se ele não concordar, se ele não tiver consciência e responsabilidade de assumir aquilo. Então, o Ciça é um parceiro importante por conta disso.

Eu já fiz coisas em outras baterias que não deram certo ou que deram quase errado por conta do mestre não entender que ele assumiu um compromisso e que ele tem que realizar aquilo. A maioria não faz isso. O Ciça é único!”

Questionado sobre as idas e vindas na dança das cadeiras das agremiações, Barros nos revela uma certa insatisfação com tantas mudanças:

“Eu gostaria muito de fincar o pé em algum lugar, porque você não consegue fazer um trabalho bom em apenas um ano. Quando começo a me organizar, tenho que mudar de escola. As pessoas julgam ser por minha vontade e por questão financeira. Mas são, na verdade, motivos que somados e avaliados me fazem tomar a decisão de continuar ou não. Várias coisas são importantes para essa decisão.

A idade está me trazendo mais calma, mais tranquilidade. E a Viradouro também está me trazendo isso, me fazendo passar por um ano tranquilo como eu nunca tive.”

A conversa vai chegando ao fim e aproveitamos o elogio à escola para perguntar se restou alguma mágoa após o desligamento da agremiação no ano de 2008.

“Depois que eu saí da Viradouro daquela forma, eu torci muito contra. Não vou dizer que foi uma mágoa, eu digo que arranhou a relação. Mas quando eu voltei agora, percebi que esse arranhão era muito superficial. Aí eu dei uma lustradinha e esse arranhão cicatrizou.”

E com isso fechamos mais uma visita, guardando a expectativa para as surpresas que a Viradouro vai provocar na avenida. Um desfile lúdico, afinal, é o papel ideal para o artista desenhar todas as ilusões que o fascinam e que encantam o público.

Barracão Unidos do Viradouro 2019 – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

Barracão Unidos do Viradouro 2019 – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

Barracão Unidos do Viradouro 2019 – Foto: Pablo Sander / Carnavalizados

 

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