Foto: Gabriel Cardoso

A campeã do povo! Tuiuti é ovacionada pelo público e conquista o vice-campeonato

Paraíso do Tuiuti é aclamada na apuração.

Quarta Escola a desfilar na noite de domingo, a Paraíso do Tuiuti despertou e emocionou o público, com sua crítica a desigualdade social e todas as formas de intolerância. Com o enredo, Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?, o carnavalesco Jack Vasconcelos fez um trabalho comovente e merecidamente aplaudido.

A Coroa de São Cristóvão falou sobre os 130 anos da Lei Áurea no Brasil. A essência do enredo, porém, esteve no questionamento se a abolição teria mesmo transformado os negros em homens livres ou prisioneiros de novos senhores e condições sociais.

A história de sucesso do desfile da Tuiuti começou ainda em julho de 2017, quando apresentou seu samba à comunidade. A obra foi encomendada aos compositores Cláudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Aníbal e Jurandir, bem antes do início das disputas nas demais agremiações. Se por um lado o mundo do samba é um tanto crítico quanto as encomendas, devido à exclusão da ala de compositores do processo de construção do carnaval, por outro não há o que questionar quanto ao resultado alcançado na referida produção. O samba da Paraíso conjugou uma letra impactante com beleza poética e rítmica, conquistando enorme atenção dentre a seleção com Escolas de maior tradição perante o grande público.

Os tempos são outros, entretanto. Não basta um lindo samba para elevar a Escola ao título, ou mesmo a figurar entre as primeiras colocadas. E a Escola não se acomodou: Jack Vasconcelos e sua equipe colocaram a mão na massa em um manifesto pela libertação do cativeiro social.

O início do desfile foi paralisante. Com a Comissão de Frente “O Grito de Liberdade”, lágrimas rolaram na Sapucaí. Ela trouxe negros açoitados, sofridos “nos braços de um capataz”, como diz seu samba. O alívio, a cura e o arrependimento vieram das mãos de Pretos velhos, que, com o apoio do tripé representando uma senzala, transformaram-se em negros libertos. Uma apresentação com gostinho de vale a pena ver de novo e de novo…
O Abre-Alas trouxe o “Quilombo Tuiuti”. Um carro monumental e luxuoso, conduzido por três grandes rinocerontes de metal. Um paralelo entre a comunidade da Escola e um quilombo, visto que ambos os espaços são territórios de resistência.

No segundo setor foram vistas diversas formas de escravidão da antiguidade, mostrando o homem sendo tratado como mero objeto, artigo de um mercado cruel. E com o carro “Mercado de Gente” tratou do tráfico de escravos praticado por grupos muçulmanos árabes, na África.

O terceiro setor foi destinado àqueles que faturavam com a escravidão, seja para conquista de riquezas ou mão de obra. A terceira alegoria, “Tumbeiro”, representou os navios negreiros, que possibilitaram a expansão da atividade do comércio de gente e a chegada dos “produtos” a novos mercados.

“Sofri nos Braços de um Capataz” foi o quarto setor exibido, voltado a mostrar o emprego da mão de obra em canaviais, cafezais, mineração e os escravos de ganho. O carro deste momento do desfile traduziu a escravidão negra na formação social, cultural e religiosa brasileira.

Momento mais aguardado do desfile, o sexto setor veio como a razão de ser do enredo, discutir o “cativeiro social”; isto é, como a abolição da escravidão no Brasil não representou a liberdade. Não tivemos ações de inserção do negro na sociedade, bem como novas formas de exploração exclusão são sempre recriadas.

Os acontecimentos recentes do Brasil não poderiam ficar de fora em um enredo tão carregado de críticas e reflexões. Chamaram muito atenção a ala dos “manifestoches”, com manifestantes vestidos com a camisa da seleção brasileira, sentados sobre um pato de borracha e manipulados como fantoches a bater panelas.

Os “manifestoches” subiram no último carro, “Neo-Tumbeiro”, numa conjunção com a ala anterior. Carro este que trouxe no topo um destaque vestido de vampirão com a faixa presidencial e tendo ao fundo uma enorme carteira de trabalho.

Se por conta de bandeira e tradição alguns especulavam sobre a possível queda da Escola de São Cristóvão, após o desfile o público foi conquistado. Muito comentada desde sua passagem, os espectadores mergulharam nos questionamentos e se tornaram parte daquela comunidade Tuiuti, como Jack Vasconcelos planejou desde o início.

O carro de som entrou na Avenida com os intérpretes Nino do Milênio, Celsinho Moddy e Grazi Brasil. Mas ao longo do desfile foi ganhando milhares de outras vozes, seja do chão da Escola ou do alto das arquibancadas. Ao fechar do portão o samba seguia muito cantado, o que tornou a passagem ainda mais gostosa. Tudo isso embalado por um bom trabalho do mestre Ricardinho, à frente da bateria que deu o tempero que faltava para transformar uma crítica tão dura em um trabalho admirável. Magia que o carnaval nos proporciona.

A Paraíso do Tuiuti foi a Vice Campeã do Carnaval 2018.

 

Confira as imagens do desfile:

“Meu Deus, meu Deus, se eu chorar não leve a mal” – Foto: Gabriel Cardoso

Comissão de Frtente, Capataz – Foto: Gabriel Cardoso

Comissão de Frente – Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Primeiro casal – Foto: Gabriel Cardoso

Baianas – Foto: Gabriel Cardoso

Abre Alas – Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Mestre Ricardinho – Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

Rainha de Bateria Carolina Marins – Foto: Gabriel Cardoso

Foto: Gabriel Cardoso

 

Por: Ruan Rocha, Gabriel Cardoso, Pablo Sander e Cristina Frangelli

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